Ao observar a população brasileira é fácil perceber que as minorias (negros/as, LGBTQ+ e mulheres) ocupam pouco espaço político, portanto são menos ouvidos e menos representados. É nesse momento que entra o “Lugar de Fala”.
O Lugar de Fala procura oferecer visibilidade a assuntos específicos, é como passar o microfone para essas pessoas que vivem tal realidade. Um exemplo clássico é o de uma travesti negra, citado por Djamila Ribeiro estudiosa da causa, não pode sentir-se representada por um homem branco cis (aquele que se identifica com o gênero de nascença), este pode teorizar a partir do lugar que ocupa, mas a travesti negra fala a partir de sua localização social e de suas vivências, ela tem que ser ouvida, esse é o seu Lugar de Fala.
Nossa sociedade ainda é patriarcal e machista e o discurso sempre parte do homem branco hetero, pois são eles que estão no poder, a partir daí ele sempre observa os outros como um “específico”; uma mulher como CEO de uma empresa, ou um negro/a. Este homem branco hetero; cis, portanto, não se entende como “específico”, mas sim como universal e se pensa como universal, a partir daí vemos uma masculinidade tóxica, agressiva e violenta.
Esse homem precisa entender isso, porque se existe um grupo beneficiado é porque existe outro discriminado, sendo assim mulher e homem podem falar do machismo, mas cada um do seu lugar; no Lugar de Fala tem que ter também a “Posição de Escuta” porque sempre é mais fácil reprimir ou rejeitar, a lidar com a verdade do outro.
Como fruto de uma luta constante o Lugar de Fala vem ganhando espaço, mas o que vemos também é um novo tipo de ódio: o medo desse avanço continuar.
O Lugar de Fala veio para romper o silêncio, sobretudo o silêncio institucional onde a voz única (branca e universal) impede a pluralidade de vozes e não ter voz é não ser visível é não ter humanidade. A violência é composta de muitos silêncios que enterrou um silêncio secular na nossa história.
O Lugar de Fala veio para incomodar porque o discurso agora tem que ser feito pelos oprimidos e não sobre os oprimidos, afinal como pode ser seu amigo aquele que exige seu silêncio?