Nessa semana assistimos o melhor tenista da atualidade, e um dos maiores de todos os tempos, o sérvio Novak Djokovic, ser deportado da Austrália às vésperas do início do Aberto da Austrália, torneio de Grand Slam considerado um dos quatro mais importantes do circuito de tênis mundial. Motivo? Falta de vacinação contra a covid-19. Sinceramente, eu esperava mais desse “gênio” das quadras…
Primeiramente, deixemos claro que ele tem toda a liberdade de decidir se aceita ou não tomar qualquer vacina, mas logicamente ele assume as consequências por qualquer que seja a sua decisão. Sabe por que? Porque o mundo não é o “Mundo do Djokovic”, mas sim o mundo de todos nós, e viver em sociedade é ter liberdade individual desde que essa não prejudique outras pessoas. Ou seja, essa liberdade, no convívio social cotidiano, é relativa, e o tenista sérvio não pode achar que ele, por ser o melhor do mundo no esporte, pode ter privilégios diante de regras que valem para todos os demais seres humanos. Simples assim.
Essa é a chamada liberdade jurídica, onde o cidadão aceita regras, desde que legítimas, para que ele possa viver em sociedade, protegido pelo direito. No caso da pandemia, quando o Estado – sempre ouvindo a ciência e os especialistas em saúde – determina que a vacinação é algo necessário para a proteção da saúde pública da coletividade, está firmado um pacto onde proteger a vida de todos é uma regra da convivência. Fica claro que ninguém pode colocar em risco a saúde de outras pessoas em nome de um direito que ela tem de não se vacinar, sendo assim, nenhum direito é absoluto e a saúde de todos é algo que se sobrepõe a um direito individual.
A Austrália tem suas leis e regras, e quem pretende entrar no país, seja uma pessoa comum, seja o tenista número 1 do mundo, logicamente tem que cumpri-las. A Ministra dos Esportes da França já manifestou, após a adoção do passaporte vacinal para eventos públicos naquele país, que ninguém entrará no país sem vacina, sinalizando claramente que Djokovic poderá ficar de fora do Torneio de Roland Garros, outro evento de Grand Slam que ocorrerá em maio próximo em Paris.
Djokovic não só não cumpriu as regras sanitárias da Austrália (ele sequer tomou alguma dose de vacina) como também não preencheu os formulários de entrada no país corretamente, omitindo fatos relevantes ao protocolo de migração. Resultado: deportação e prejuízos à sua imagem, sua posição no ranking da ATP (Associação de Tenistas Profissionais) e ao seu bolso (a Lacoste, sua patrocinadora master, já sinalizou que pode rescindir seu contrato com o tenista).
Não se discute que o cara é realmente um craque das quadras, que nesse momento poderia reforçar sua imagem de ídolo do esporte em geral, aquele que entende que sua influência vai para além do público fanático no tênis. Ele poderia, de forma mais efetiva e abrangente que infectologistas, epidemiologistas, autoridades e políticos, auxiliar na conscientização da população no sentido de proteger a todos com a vacinação em um momento de pandemia. Mas ele simplesmente não achou isso importante, e assumiu seus riscos.
O número um do mundo (e qualquer pessoa) vai ter sempre o direito de escolher não se vacinar, e ninguém pode lhe tirar essa liberdade. Assim como ele não pode achar que a liberdade dele é mais importante do que a saúde de todos. Aliás, ninguém pode achar isso, e a Justiça da Austrália deixou isso muito bem claro para ele e para o mundo todo nessa semana.