O aumento dos casos de suicídio entre jovens em Batatais e em todo o Brasil tem acendido um alerta para famílias, educadores e profissionais de saúde. Para compreender melhor esse cenário, conversamos com a psicóloga Isabela da Rocha Guimarães, que destacou a importância da atenção contínua e de políticas públicas voltadas especificamente para essa faixa etária.
Segundo Isabela, os adolescentes ainda são tratados dentro de políticas destinadas às crianças, o que cria uma lacuna de atendimento. “Essa população é mais vulnerável a transtornos psiquiátricos e, apesar dos dados alarmantes e de todas as informações disponíveis, não contamos hoje, principalmente na rede pública, com serviços de atenção voltados especificamente para eles”, explicou.

Fatores que influenciam o adoecimento
A psicóloga destacou que transtornos como ansiedade e depressão, quando não identificados e tratados, podem evoluir para situações graves, como automutilação e pensamentos suicidas. Além disso, fatores externos como bullying e uso de drogas, se não forem tratados com seriedade, também podem levar a um adoecimento psíquico que, em casos extremos, resulta em tragédias.
Outro ponto de preocupação é o uso indiscriminado das redes sociais e da internet. “Crianças e adolescentes estão em pleno desenvolvimento físico e mental. Crescer expostos a conteúdos violentos, sexuais, discursos de ódio ou padrões irreais de felicidade fragiliza a saúde mental e pode transformá-los em alvos de criminosos digitais ou de propostas de enriquecimento fácil”, alertou.
Sinais de alerta
Isabela ressalta que familiares, professores e amigos precisam estar atentos a mudanças bruscas de comportamento. Entre os sinais estão: alterações de humor, isolamento social, queda no rendimento escolar, mudanças no sono e na alimentação, autolesão e uso de substâncias como álcool e drogas.
Caminhos para a prevenção
A prevenção, segundo a psicóloga, passa pelo diálogo aberto em casa, na escola e na comunidade. “Muitas famílias e instituições têm medo de falar sobre o tema, mas precisamos lembrar que os jovens já têm acesso a todo tipo de conteúdo. O melhor caminho é oferecer amparo e não permitir que se sintam sozinhos com suas angústias”, afirmou.
Ela defende ainda que a saúde mental seja trabalhada nas escolas ao longo de todo o ano, e não apenas durante o Setembro Amarelo, como parte de temas transversais integrados às atividades curriculares.
O papel das políticas públicas e a luta contra o estigma
Isabela reforçou a necessidade de programas acessíveis de saúde mental e da ampliação do número de profissionais na rede pública. Para ela, ainda existe resistência de algumas pessoas em buscar ajuda psicológica ou psiquiátrica, muitas vezes por questões religiosas ou preconceito. “A depressão é uma doença como qualquer outra e precisa de tratamento adequado”, enfatizou.
Uma mensagem de esperança
Ao final da entrevista, a psicóloga deixou um recado para jovens e famílias que enfrentam essa dura realidade:
“Vocês não estão sozinhos. Esse desespero pode parecer infinito, mas, com tratamento e cuidado, é possível superar. O mais importante é buscar ajuda. E, por favor, quando houver situações de suicídio acompanhadas de vídeos ou mensagens, não compartilhem. Esses conteúdos geram sofrimento para familiares e podem servir de gatilho para outras pessoas.”





