O presidente Lula retornou de sua viagem à China, trazendo na bagagem dezenas de acordos de cooperação, em especial no campo do agronegócio, além de diversos contratos celebrados entre empresas brasileiras e chinesas. Deixou claro que pretende elevar o patamar da parceria estratégica entre os dois países, e “ampliar fluxos de comércio e, com a China, equilibrar a geopolítica mundial”, nas suas palavras. E ele não fez isso à toa.
Porque a China é um parceiro comercial tão importante para o Brasil? Em primeiro lugar, a China é a maior economia do mundo em termos de poder de compra, e um dos países com maior crescimento econômico nas últimas décadas. Como resultado, a China é um grande importador de matérias-primas e commodities, e o Brasil é um dos maiores fornecedores desses recursos naturais para o mercado chinês. Além disso, o Brasil é o principal produtor mundial de soja e um dos maiores produtores de carne, açúcar, café e outros produtos agrícolas que são muito procurados pelo mercado chinês. Como a demanda chinesa por alimentos continua a crescer, o Brasil se tornou um parceiro comercial chave para a China nessa área.
Outro fator importante é a complementaridade entre as economias do Brasil e da China. Enquanto o Brasil é rico em recursos naturais, a China é um dos maiores produtores mundiais de bens manufaturados, e tem uma grande demanda por matérias-primas e commodities para sustentar seu crescimento industrial.
Por todos esses, e outros tantos interesses em comum, Brasil e China mantém boas relações diplomáticas e políticas, independente de quem esteja ocupando a presidência. O governo Lula aposta alto nessa parceria, e tenta estreitar ainda mais as relações comerciais e políticas com a China, principalmente porque sabe muito bem das intenções da China para com a América Latina.
Não que seja explícito, mas a China tem sim um plano para “ocupar comercialmente” a América Latina, e os Estados Unidos já perceberam isso. Lula então, logo após sua visita ao território ianque, de onde retornou praticamente de mãos abanando, agendou um pulinho até o gigante asiático, para mandar vários recados ao Tio Sam. A China, que de boba não tem nada, usa essa situação para estreitar suas relações comerciais com o Brasil, (e países latino-americanos) e investir em projetos na região como parte de sua estratégia de expansão econômica global.
Nos últimos anos, a China tem se tornado um dos principais parceiros comerciais da América Latina, com um comércio bilateral que atingiu quase US$ 300 bilhões em 2020. Os principais produtos que a China importa da região incluem matérias-primas, como petróleo, minério de ferro, cobre e soja, bem como produtos manufaturados, como automóveis, produtos eletrônicos e têxteis.
A China também tem investido em grandes projetos de infraestrutura na região, como a construção de ferrovias, portos e usinas hidrelétricas, muitas vezes financiados por meio de empréstimos concedidos pelo Banco de Desenvolvimento da China. Esses investimentos têm sido criticados por alguns por seu potencial impacto ambiental e social, bem como por sua possível dependência econômica da China. Esses investimentos estão no radar dos planos de Lula para essa parceria com Xi Jinping, que por sua vez visa expandir sua presença econômica na América Latina, assim como em outras partes do mundo, o que incomoda, e muito, o capital dos EUA.
Ou seja, essa conversa de Lula de tentar mediar, junto com a China, o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia, “em nome da estabilidade da paz mundial” é apenas um pretexto para algo muito mais importante para os dois países: a independência da dependência do dólar, e a abertura de um canal comercial ainda maior entre América Latina e China. Afinal, não se pode desprezar um mercado de 1 bilhão e meio de vorazes e simpáticos consumidores de olhinhos puxados, certo?