Para as edições de maio de 2022, o enfoque da pesquisa sobre Batatais na década de 40 foi dado à principal fonte documental constante no Museu Histórico e Pedagógico Dr. Washington Luís: os jornais editados pela cidade na época retratada. Foram nesses mesmos documentos que obtivemos dados sobre outros veículos de informação da época: o alto-falante e o rádio.
Os batataenses tinham acesso ao que acontecia no Brasil e no mundo pelos semanários locais e pelos registros da imprensa escrita regional e nacional que aqui chegavam com regularidade pelas linhas férreas da Companhia Mogiana.
Os principais semanários e revistas da capital paulista e da capital federal – o Rio de Janeiro -, que circularam pelas cidades do interior paulista na década de 40 foram o Correio Paulistano, o Estado de São Paulo, os Diários Associados, Jornal do Brasil, Folha da Manhã, A Noite, Jornal de São Paulo, o Diário Popular, o Diário de São Paulo, O Cruzeiro, Seleções etc. Toda cidade brasileira costumava ter representantes de vendas locais desses semanários e revistas. Veja:
As notícias eram ainda obtidas, como já dissemos, através do rádio, outro poderoso meio de comunicação em plena expansão na época, que permitiu a chegada de informações em diferentes locais para um crescente número de pessoas.
A tecnologia da transmissão radiofônica foi sendo ampliada e com isso, tornou-se o grande veículo de comunicação de todos os tempos, proporcionando além do entretenimento, também lazer e informação aos ouvintes com programas musicais, educativos, de variedades, religiosos e noticiários.
Algumas das estações de rádio nacionais mais conhecidas e com alcance na nossa região foram: a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a Rádio Record, a Rádio Tupi e a Rádio Excelsior.
Para a mesma década, temos ainda outros veículos de comunicação que não podem ser ignorados tamanha a importância, embora menos utilizados pela população: o telégrafo e o telefone.
IMPRENSA ESCRITA EM BATATAIS NOS ANOS 40
Em Batatais, circularam pela década de 40 ao menos quatro semanários produzidos localmente: GAZETA DE BATATAIS, TRIBUNA DE BATATAIS, FOLHA DE BATATAES e O JORNAL. Embora tenham tido vida relativamente longa, apenas um dos jornais sobreviveu ao correr dos anos 40 – um deles reapareceu em outros tempos com o mesmo nome, a Folha de Batatais – 2ª fase.
GAZETA DE BATATAIS
O semanário GAZETA DE BATATAIS foi fundado em 1908 e encerrou suas atividades no primeiro semestre de 1940, depois de quase 35 anos de existência; é o segundo periódico de maior duração da cidade. Surgiu com o nome de A GAZETA, em seguida GAZETA DE BATATAES e, por fim, na década de 40, a GAZETA DE BATATAIS.
O semanário pertenceu inicialmente à Família Tambellini e assim permaneceu durante as décadas de 10 e 20. O primeiro proprietário foi Carlos Tambellini e a redação durante esses anos foi sendo intercalada pelos os irmãos Anselmo Tambellini, Bertolino Tambellini e Guilherme Tambellini, entre outros. Na maior parte dessas décadas, a publicação foi bi-semanal.
A GAZETA DE BATATAIS no ano de 1937 passou a pertencer aos Irmãos Vianna, Levi Freire Vianna e Plínio Ramos Vianna, seu diretor-redator. Nos anos 30 e 40, a sede – oficina e redação – funcionou à Rua Barão de Cotegipe e ao final de sua existência, no ano de 1940, esteve estabelecida na Rua Marechal Deodoro, n.3.
Na década de 10, a tiragem era de 800 exemplares e veiculava às quintas-feiras. Na década de 30, já sob a direção dos Irmãos Vianna, publicou junto com o jornal uma revista suplementar, de nome A GAZETA, que apresentava um pouco da vida social da elite batataense. O Museu possui um exemplar do ano de 1940.
A seguir, faremos a reprodução e comentários da página inicial da primeira edição da GAZETA DE BATATAIS veiculada nos anos 40 e da última edição da mesma década que o Museu possui em seu acervo. Muito provavelmente o semanário encerrou suas atividades no início do segundo semestre de 1940; nesse período, as edições eram publicadas em menor formato.
A primeira edição de 1940 existente no acervo do Museu é a do dia 08 de fevereiro, de número 2.155 – o Museu não possui as edições do mês de janeiro. Entre os destaques, indicamos a coluna VIDA SOCIAL com a passagem dos aniversários de nascimento do músico, professor e comerciante batataense André Ricci Pippa e do renomado médico pernambucano radicado em Batatais, Dr. Leandro Cavalcanti Guimarães.
Com o título HONRA AO MÉRITO foi feita uma homenagem ao professor e ex-diretor do Grupo Rural local, Arnaldo Laurindo, que havia acabado de ser nomeado para cargo na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, como chefe do Setor de Ensino Rural no governo do Interventor Adhemar de Barros (1937-1941).
Uma notícia de cunho mais progressista aparece em destaque: O DEPARTAMENTO ESTADOAL DO TRABALHO – A COMPANHIA MOGIANA DE E. DE FERRO E AS LEIS TRABALHISTAS; a nota questionava a empresa mencionada pela demissão de 19 funcionários sem justa causa e sem valer os direitos trabalhistas dos demitidos.
O título NÃO SE VÊ tratou a falta de uso da iluminação do relógio da Igreja Matriz. Ainda em sua página inicial teve espaço para assuntos curiosos como A MAIOR BIGODEIRA BRITÂNICA e IMPOSTO SOBRE AS SOLTEIRAS.
A última edição do semanário GAZETA DE BATATAIS que o Museu possui é de 14 de julho do ano de 1940, número 2.173. Em pequeno formato, o folhetim de duas páginas apresenta somente em quase sua totalidade propagandas de produtos e serviços de circulação nacional. Chamou atenção o obituário em página interna que anunciava o falecimento de JOSÉ GUILHOT, morador da cidade de Rezende (RJ) casado com a tia-avó paterna do proprietário do folhetim, Dona Henriqueta Vianna Guilhot, irmã do Major Francisco Pereira Vianna entre outros irmãos também residentes em Batatais e região; há também uma nota indicando a nomeação do novo Juiz de Direito de Batatais, DR EUCLYDES C. DA SILVEIRA.
TRIBUNA DE BATATAIS
A TRIBUNA DE BATATAIS foi fundada em 1927 e interrompeu, muito provavelmente, suas atividades em 1946, perfazendo 18 anos de existência.
Em 1940, a TRIBUNA DE BATATAIS completou no mês outubro, 13 anos de circulação. Nesse período foi redator, diretor e um dos proprietários do semanário que era veiculado aos domingos, o jornalista Nelson Freire Viana (Sussu), irmão dos proprietários da GAZETA DE BATATAIS.
Destacamos do periódico TRIBUNA DE BATATAIS a última página da primeira edição dos anos 40, de 07 de janeiro e a última publicação que o Museu possui em seu acervo, datada de 03 de março de 1946, em menor formato. Ao que consta foi neste mesmo ano de 1946 que o semanário deu por encerrada suas atividades.
A oficina tipográfica da TRIBUNA DE BATATAIS ficava, no final da década de 30, na Rua Barão de Cotegipe e, em meados dos anos 40, na Rua Coronel Joaquim Rosa, n. 25.
A primeira edição de 1940 da TRIBUNA DE BATATAIS, datada de 07 de janeiro, edição n. 630, traz alguns destaques em sua última página: com o título de AS NOITADAS DEGRADANTES faz denúncia sobre a prática ilegal dos jogos de azar nos clubes sociais da cidade; temos o anúncio da temporada na cidade do CIRCO TEATRO ROSÁRIO, de Guerino Gonçalves; a programação semanal do CINE PARA TODOS; um edital de convocação de assembleia da SOCIEDADE OPERÁRIA e a nota NOITES BRASILEIRAS sobre a apresentação no Cine Para Todos, do famoso violinista João Nogueira e o cantor Jorge Tavares, artistas conhecidos pelos ouvintes das rádios nacionais.
A última edição que possuímos da TRIBUNA DE BATATAIS é a do dia 03 de março de 1946, de número 989 e desconhecemos se existem outras publicações depois desta data.
As notas que foram destaques na edição 989 de 1946 estiveram relacionadas a assuntos locais, como: COM A PISCINA alertando sobre o perigo das crianças usarem as piscinas sem supervisão constante de adultos e com isso, aumentando os riscos de incidentes; em A QUESTÃO DO OPERARIADO BATATAENSE enalteceram o papel de João Gaspar Gomes na mediação entre patrões e empregados para o alcance das conquistas dos direitos trabalhistas do operariado local; uma nota intitulada SERVIÇO URBANO DE ÔNIBUS com especulação sobre abertura de uma empresa de transporte coletivo com foco no serviço urbano, empreendimento do empresário Anselmo Testa.
O futebol não foi esquecido: em destaque, uma nota do delegado da época, Francisco da Cunha Nogueira, sobre canivetes apreendidos na entrada do campo do Batatais F.C.; outra notícia dada foi a composição da NOVA DIRETORIA DO BATATAIS para o ano de 1946; e a outra é uma chamada sobre a partida do RIACHUELO F.C. com o São Joaquim F.C.
FOLHA DE BATATAES
A FOLHA DE BATATAES foi fundada em 03 de junho de 1933 e foram seus únicos proprietários até o ano de 1943, os Irmãos Barboza, Joaquim Barboza Júnior e Jorge Barboza Silva, donos da Tipografia e Casa Minerva – filhos do coronel Joaquim Barboza da Silva, mais conhecido como Quinzinho Barboza.
A redação do semanário sempre esteve a cargo de um dos proprietários, Joaquim Barbosa Júnior. Seus diretores foram o advogado Dr. José Arantes Junqueira, em seguida o advogado Dr. José Frederico Marques. Na década de 40 gerenciaram o folhetim, Aristides Nogueira Braga e Augusto Alves Pereira.
Depois de 10 anos de publicações, a FOLHA DE BATATAES suspendeu suas atividades no ano de 1943. O principal motivo do encerramento do semanário teria sido, entre outros, o alto custo da importação do papel, graças ao desenvolvimento do conflito europeu, iniciado em 1939. Suas publicações eram aos sábados.
Algumas notícias dadas na primeira edição dos anos 40 datada de 06/01/1940 de número 344 foram: NO JARDIM, uma reclamação sobre a mal feita instalação elétrica subterrânea da praça Conego Joaquim Alves; a convocação de assembleia para eleição de nova diretoria pelos associados da ABR OPERÁRIA; apresentação da nova diretoria do TIRO 26; na chamada PRAÇA 5 DE JULHO (atual Praça Fernando Costa) há uma sugestão de mudança de nome do logradouro para Praça da Bandeira ou Praça Afonso Vieira; uma nota intitulada QUADRO DE OURO onde se lamenta o marasmo esportivo do BATATAIS F.C.; outra nota esportiva sobre o CLUBE ATLÉTICO BATATAENSE.
Temos ainda um alerta sobre as CASAS ABANDONADAS existentes no centro da cidade e que oferecem perigos diversos; em NOITES BRASILEIRAS tratou do recital da noite na Sociedade 14 de Março com João Nogueira e Jorge Tavares; em FORMATURAS parabenizam o recém formado em Direito, o acadêmico Daniel Oliveira Pereira, filho do Major José Olímpio Pereira e Rita de Oliveira Pereira (o formando é irmão do editor José Olímpio Pereira) e os irmãos Augusto Marques Pereira Lima e Antônio Marques Pereira Lima, formandos em Medicina e Direito respectivamente, filhos do casal Juvenal Pereira Lima e Maria Augusta Marques Lima.
Na edição da FOLHA DE BATATAES, de 16 de setembro de 1943, número 1018, o semanário oficializou o encerramento de suas atividades em seu próprio folhetim e n’ O JORNAL.
Algumas das manchetes nesta última edição foram: CIRCO DE CAVALINHOS, um artigo que convida os leitores a refletir sobre a ausência cada vez maior de circos nas cidades do interior, como Batatais; outro assunto foi a visita dos alunos da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” de Piracicaba (SP), atual Unesp para jogos amistosos de basquete e futebol com representantes locais. Os visitantes venceram no ‘bola ao cesto’ e perderam no futebol.
Outro assunto destacado na página inicial tratou dos tipos populares que a cidade possuía mas que ‘desapareceram’ com o tempo e o progresso. Há um anúncio de oferta de consertos de aparelhos, entre eles, o rádio.
Por fim, o encerramento oficial: “Por motivos vários, somos obrigados a suspender a publicação desse nosso semanário, destacando-se entre eles, o de possuir a nossa cidade dois bons jornais, sendo que, como citamos, abaixo, em breve um deles será bi-semanário. Também influíram em nossa decisão, o pequeno número de assinantes que tínhamos, o alto preço do papel e demais materiais e as inúmeras dificuldades com que luta, hoje em dia, toda a imprensa…” (FB, 16 de setembro de 1943)
A FOLHA DE BATATAES ficou por mais 10 anos fora de circulação, voltando a ser publicada, com edição sequenciada de número 1.019, em seu 11º ano de circulação, no dia 14 de março de 1953, sob nova direção e propriedade de Anselmo Testa. Nesta época, a oficina do periódico ficava na Av. Capitão Andrade.
A data escolhida para retomada do folhetim tem relação direta com as comemorações de aniversário de Batatais; dentre elas, a inauguração das telas sacras de Cândido Portinari na Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus da Cana Verde.
O JORNAL
Dos semanários apresentados, O JORNAL foi o que manteve suas publicações por mais tempo na história da imprensa batataense: nasceu no final da década de 30, permaneceu por toda segunda metade do século XX e extrapolou sua existência pela primeira década do século XXI.
A primeira edição que temos d’ O JORNAL no Museu é do ano de 1938, porém, o periódico começou a circular em outubro de 1937; encerrando suas atividades em 2018, após 81 anos de atividade.
Na época retratada, a redação e a gráfica do folhetim ficavam na Rua de Setembro, bem próximo à praça XV de Novembro, atual Praça Dr. Paulo de Lima Corrêa.
Nos anos iniciais d’O JORNAL, o diretor foi o Dr. Jesus Brasílio Tambellini e o redator-proprietário foi o jornalista José Teixeira de Andrade, que acumulava as funções de professor do Colégio São José e era proprietário do Externato Ruy Barbosa, filho do Capitão Theóphanes de Andrade. Um dos inúmeros irmãos do jornalista, Alberto Teixeira de Andrade, foi oficial gráfico e chefe das oficinas do A Tarde de Ribeirão Preto e por alguns anos trabalhou na GAZETA DE BATATAIS. Depois de dez anos, entre junho e setembro de 1947, a redação e a propriedade do semanário passaram para o jornalista Oswaldo Guérner Gonzales.
Em 1953, O JORNAL conforme CARDOSO (2002, p.136): “passou a ser de propriedade da Rádio Difusora de Batatais”, tornando-se diretores-proprietários dos dois órgãos de imprensa, Dr. Jorge Nazar – médico sanitarista e político batataense – e filhos. Na década de 60 a propriedade d’ O JORNAL passou a ser de Germinal Feijó, com gerência de Francisco Luchesi. Em 1988 torna-se propriedade de Orion Riul e família.
O JORNAL da primeira edição dos anos 40, de 09 de janeiro deu destaque às NOVAS JARDINEIRAS e a ampliação dos horários de linhas entre Ribeirão Preto – Batatais – Franca da empresa de Juliano Bologna e Filho; ao GYMNASIO SÃO JOSÉ e +à eleição de nova diretoria, além da remoção de alguns missionários que aqui estavam estabelecidos; ao TG 26, à posse da diretoria para o ano de 1940-1941 e seu novo presidente Gustavo Simioni; às ESTRADAS em que o colunista teceu considerações sobre o desenvolvimento de Batatais, à carência de um bom hotel e estradas para acesso de qualidade à cidade e a matéria SOLUÇÕES INADIÁVEIS sobre discurso do presidente Getúlio Vargas e seu pedido à população mais abastada para apoio às crianças e à classe trabalhadora.
Na última edição d’O JORNAL do ano de 1949, de 25 de dezembro, temos vários assuntos, entre eles a publicação do balancete anual da Prefeitura Municipal; uma propaganda política da U.D.S. local favorável ao candidato ao governo estadual Prestes Maia; na chamada PRAÇA 5 DE JULHO (atual Praça Fernando Costa) há uma sugestão de mudança de nome do logradouro para Praça da Bandeira ou Praça Afonso Vieira; uma nota PELO FUTEBOL sobre a próxima partida do Batatais F.C com o Linense F.C.; FESTAS E FORMATURAS dos colégios locais e acadêmicos da cidade; na NECROLOGIA anunciaram a morte do mecânico Orestes Ragiotti, da matriarca Josefina Maestrello, da sra. Adelaide de Azevedo de Lima (esposa do capitão Ovídio Tristão de Lima) e do jornalista Alberto Teixeira de Andrade; uma nota LÍNGUA DO LAR sobre a expectativa do Recenseamento de 1950 quanto a diminuição das línguas estrangeiras faladas por brasileiros no Brasil; o editais de casamento do mês de dezembro com os casais: Ary Aluízio Siena e Cecília Brunherotti, Paulo Venâncio e Mariana de Souza, Pedro Gervásio de Araújo e Dulce Campez, José Bertoncini e Nair Di Lello, Sebastião Cabrine e Benedicta Fonzar, Geraldo Ferraz de Menezes e Elyde Venturoso, Sebastião Bendasoli e Hilda Francisca da Cruz, Pedro Francisco de Oliveira e Dalva de Oliveira.