Reportagem publicada nessa semana pelo site UOL mostrou que quase metade do patrimônio em imóveis do presidente Bolsonaro e de seus familiares mais próximos (filhos, irmãos, e ex-esposas) foi adquirido ao longo das últimas três décadas com pagamento em dinheiro vivo. Esse tipo de transação não configura um crime, mas no caso do clã Bolsonaro, levanta muitas suspeitas, uma vez que existem evidências e testemunhos anteriores a respeito de um provável esquema da chamada rachadinha nos gabinetes dos Bolsonaro, que geraram dinheiro vivo descontado do salário de assessores parlamentares. Ou seja, a suspeita da prática da rachadinha explicaria a compra de imóveis em espécie.
Mas o presidente Jair Bolsonaro fez pouco caso da notícia, e comentou que não há problema algum em transações desse tipo e que ele próprio e seus filhos são alvos constantes de “pancada” da mídia, recorrendo novamente à tese de que esta é mais uma perseguição política para tentar prejudicá-lo. Ou seja, não explicou nada, e de quebra também não negou a notícia revelada pelo portal Uol.
Isso pode dar dor de cabeça para o capitão na busca pela reeleição, uma vez que fornece munição para os adversários, a poucas semanas da ida às urnas. A campanha de Bolsonaro vinha batendo na tecla da corrupção para atacar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e à partir de agora qualquer movimento nessa direção, tende a gerar uma contraofensiva imediata da campanha petista.
Pior: esse tema pode virar um mantra na campanha presidencial, com os adversários questionando Bolsonaro sobre qual é a origem de todo esse dinheiro, ou por que não usou o sistema bancário para a compra dos imóveis? O que se sabe, é que o presidente e seus filhos não guardam dinheiro no colchão, ou se guardam, não o declararam à Justiça. Foi o que constatou o jornal “O Estado de S. Paulo”, que decidiu varrer todas as declarações de bens de Bolsonaro e de seus filhos desde 1998. Resultado: apenas Carlos Bolsonaro informou ter guardado R$ 20 mil em espécie, por um período de oito anos.
Convenhamos, até um estudante de ensino médio sabe muito bem que geralmente compras em dinheiro vivo de bens de alto valor são associadas ao crime de lavagem de dinheiro, por serem mais difíceis de serem rastreadas por órgãos de fiscalização. No caso dessa movimentação ocorrer à partir de pessoas públicas, a fiscalização é redobrada, por se tratarem de detentores de poder, expostos politicamente e com foro privilegiado.
Pra fechar com chave de ouro o mês de agosto, com um pouco mais a dor de cabeça do presidente/candidato, descobriu-se que a sua ex-mulher, Ana Cristina Valle (mãe do filho 04, Jair Renan), declarou ser a proprietária de uma mansão localizada no Lago Sul, área nobre de Brasília, avaliada pelo mercado imobiliário em R$ 3,2 milhões, mas que ela disse ter adquirido por R$ 829 mil. Detalhe importante, sua renda era de 6.200 mil reais/mês. Resultado: a Polícia Federal abriu investigação junto ao COAF.
Nesse momento da campanha presidencial que candidatos cobram transparência e honestidade uns dos outros, espera-se que o eleitor conceda à Bolsonaro e seus parentes próximos, o mesmo grau de indignação e repulsa concedida ao ex-presidente Lula no caso do tripléx e do sítio de Atibaia, aliás, dois casos igualmente muito mal-explicados.