Há 90 anos atrás, em 1931, o então presidente Getúlio Vargas, com a finalidade de aproveitar o maior período de luz solar durante a época mais quente do ano, e com isso diminuir o tempo de utilização de iluminação artificial, criou o chamado “horário de verão”, com sua execução com idas e vindas até ser adotado em caráter permanente a partir de 2008. Mas o tempo passou rapidamente no mundo da tecnologia, e, adicionado às mudanças nos hábitos do consumidor, a importância da medida perdeu boa parte da sua relevância, principalmente no quesito economia de energia.
Com base nesse raciocínio, de que o horário de verão não mais se justificava, a medida foi extinta pelo presidente Bolsonaro, em abril de 2019. Naquela oportunidade, o Ministério de Minas e Energia apontou que não havia economia de energia tão relevante. Isso porque, como o calor é mais intenso no fim da manhã e início da tarde, os picos de consumo aumentam nesse horário durante o verão, o que leva as pessoas a usarem mais o ar condicionado durante esse período, e portanto, como a economia de energia era pequena, não seria um grande problema extinguir a medida para o setor elétrico.
Mas eis que chegou 2021, a escassez de chuvas desenha a maior crise hídrica da década, as hidrelétricas não produzem energia suficiente e o risco de um apagão nacional de energia é cada vez mais provável. Ou seja, qualquer economia de energia passou a ser considerada fundamental, e defensores de que a mudança nos relógios volte a ser analisada pelo governo, voltaram à cena. Especialistas consideram que o mecanismo pode atenuar um pouco o consumo de energia e aliviar o bolso dos consumidores, que pagam cada vez mais pela energia. Estimativas aponta que o consumidor poderia poupar cerca de R$ 500 milhões com a adoção da medida.
Isso sem contar que o horário de verão é um importante parceiro do setor de bares e restaurantes, impactados diretamente com sua extinção. O setor estima que a volta do horário de verão pode aumentar consideravelmente o faturamento no período da noite, horário de maior movimentação de clientes por conta do “happy hour”. Essa estimativa foi calculada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) que, em parceria com outras entidades empresariais, pleiteia a retomada do mecanismo após amargarem prejuízos com a pandemia. O pedido foi apresentado no início deste mês ao governo federal, mas o único retorno até o momento é que foi encaminhado para análise dos ministérios do Turismo e de Minas e Energia.
Conforme matéria do Jornal da Cultura da primeira semana deste mês de julho, o ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e professor de planejamento energético da UFRJ, Maurício Tolmasquim, defende a volta do horário de verão, mesmo que seja apenas neste ano. “Naquela uma hora a mais de luz do sol se economiza um pouco de energia. É pouco, mas é uma economia. Em condições normais, pode-se discutir as vantagens e desvantagens de ter essa mudança, mas, no momento em que estamos vivendo, em que estamos acionando térmicas caríssimas e o governo negociando com a indústria para deslocar o consumo, cada megawatt economizado é importante”, disse.
Resta saber a opinião do Ministério de Minas e Energia, que é quem dará a última palavra sobre o assunto. Aliás, última não, penúltima. A palavra final sempre será a do presidente Bolsonaro, lógico…