Entender as etnias, povos, estados e países do Leste Europeu não é tarefa das mais fáceis para os estudiosos do tema, imaginem para nós leigos. Há 100 anos, a Gazeta de Batataes, no pós 1ª Guerra, noticiava como definitiva a anexação de Montenegro à Sérvia, no entanto, durante esses 100 anos passados, a região dos Balcãs vive se modificando e mesmo se moldando aos diversos tipos de interesses. Enfim, pontuamos essa nota, pois atualmente Montenegro e Sérvia são países independentes.
Depois de receber várias reclamações, a municipalidade batataense passou a fiscalizar com maior rigor o centro da cidade e assim impedir a colocação de cartazes, placas e escritos em postes, fachadas e muros, fazendo valer uma lei municipal que havia sido sancionada há tempos e que proibia essas ações. O que pelo jeito ocorria com certa frequência; principalmente a afixação de cartazes anunciando shows e espetáculos dos salões locais e itinerantes e, mesmo propagandas de casas ou serviços comerciais.
Por falar em espetáculos, fez temporada na cidade a 100 anos atrás o Circo Americano. Esse tipo de divertimento, o circo-teatro, com seus espetáculos de variedades e teatro de costumes, agradava praticamente todo o tipo de público e era considerado mais universal pela fácil acessibilidade. Durante os meses de setembro e outubro tivemos a presença do Circo Americano de propriedade de Galdino Pinto em Batatais. Galdino foi pai de Abelardo Pinto, que com 23 anos já era conhecido como palhaço Piolin – que significa barbante em espanhol – nome artístico adotado por ter pernas muito finas.
Piolin nasceu no dia 27 de março de 1897 em Ribeirão Preto, quando o circo do seu pai por lá fazia temporada e faleceu em São Paulo, aos 76 anos de idade, em 04 de setembro de 1973. O Dia Nacional do Circo é comemorado no dia do nascimento de Piolin, “o palhaço de todos os tempos” ou também conhecido como o “Imperador do Riso”.
Pelas nossas pesquisas, o palhaço Piolin já não fazia parte da trupe do Circo Americano em 1920 e sim do Circo Olimecha. Esteve no Americano até por volta até 1916 ou 1917. Com o tempo e a fama, Piolin chegou a ter seu próprio circo, batizado com seu nome artístico, no início dos anos 30. Alguns estudiosos afirmam que na década de 20, Washington Luís teria cadeira cativa nos espetáculos circenses de Piolin quando este se instalava no Largo do Passaindú em São Paulo. Piolin também foi admirado pelos modernistas brasileiros e outros membros da intelectualidade nacional, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral entre outros.
Os meses de setembro e outubro, para quem se interessava pela arte do futebol à época, não ficou sem atração. Os times da cidade, como o Batatais Futebol Clube (BFC) e o Riachuelo Futebol Clube (RFC) enfrentaram os times rurais como os da Fazenda Macaúbas e da Fazenda do Alho, bem como times mais conhecidos da região como o Botafogo, o Palestra Itália e o Operário de Ribeirão Preto; o União Team de Franca; o Palmeiras e a Associação Olímpica de Jardinópolis; o Humaytá de Brodowski; e até de outro estado, como o Triângulo e o Red White de Uberaba (MG). Mesmo os alunos do Colégio São José jogaram futebol com os alunos do Colégio Soares, numa disputa concorrida.
Também vale indicar que no aniversário de um ano do BFC, comemorado, em 1920, no dia 10 de setembro, o time possuía um quadro infantil, que também disputava jogos com os meninos dos colégios e outros times mirins da cidade.
Após um ano de existência oficial do BFC, foi realizada uma assembléia que ‘renovou’ a diretoria. Vide a edição nº. 726 da Gazeta de Batataes do dia 26 de setembro de 1920, com a composição da nova diretoria para o ano 1920/1921. Como já dissemos em edições anteriores, os clubes geralmente faziam dois jogos amistosos no mesmo dia: o primeiro jogo com o que chamavam de 2º quadro do clube com o 2º quadro do clube rival e finalmente, o mais esperado jogo com os times dos 1º quadros dos clubes.
No caso do BFC, conseguimos os nomes dos jogadores que, na maioria das vezes, jogavam no primeiro escalão em 1920: José Martiniano Andrade, Romão Covas, Bruno Sebastiani, José Lazzarini Sobrinho, Pedro Boareto, Pedro Pesente, Bruno Coraucci, Heitor Rossin, Francisco Tristão de Lima, Joaquim Victor de Oliveira e Arlindo Bittencourt.
Em setembro de 1920, a comunidade cristã católica da cidade de Batatais viu-se envolvida num mistério do alheio. A Igreja Matriz da cidade teria sido vítima de ladrões. O cofre da Igreja Matriz foi roubado. Os gatunos levaram todo o dinheiro ali depositado. Não havia suspeitos. O que tentavam solucionar, antes de tudo, era como os ladrões haviam saqueado o cofre sem que nada fosse arrombado pelo lado de fora. Até outubro o crime não havia sido solucionado.
Embora atualmente a celebração do padroeiro cristão católico da cidade, Senhor Bom Jesus da Cana Verde, se dê no mês de agosto, observamos que durante os anos pesquisados houve uma variação na comemoração dessa data. Em 1920, a festa do padroeiro e também de Nossa Senhora do Rosário ocorreu no mês de outubro.
Por falar em datas comemorativas, as cívico-patrióticas chamadas de festas nacionais, começaram a ser repensadas e defendidas ou não, depois de instalada a 1ª República no Brasil (1889-1930), a começar por uma data: a que dá independência política e econômica do Brasil em relação a Portugal, em 07 de setembro de 1822, feita oficialmente pelo príncipe regente Dom Pedro. Após a Proclamação da República, a data passou a fazer parte do calendário cívico, mas não necessariamente era um feriado pátrio. As municipalidades consideravam a data como comemorativa em 1920, e, por conseqüência a transformavam num dia facultativo para as repartições públicas, que deviam ficar com as bandeiras hasteadas e o comércio e serviços funcionariam em horário reduzido. Embora por decreto-lei tornou-se Dia da Pátria somente em 1934 e, apenas em 06/04/1949 por Lei nº 662, tornou-se oficialmente feriado nacional como Dia da Independência no governo de Eurico Gaspar Dutra.
O dia 12 de outubro, também era considerado uma festa nacional cívica em 1920. Era celebrada a descoberta da América, sob o comando do genovês, Cristóvão Colombo com financiamento do governo espanhol. Cristóvão Colombo queria confirmar a esfericidade da Terra e chegar às Índias pelo Ocidente. Só que havia um continente a ser desbravado no meio do caminho, que ficou conhecido como “novo mundo”, o continente americano. Em Batatais, nesta data, os alunos do Colégio São José promoveram uma passeata militar acompanhados pela banda Euterpe Batataense.
Enquanto isso, o café demandava cada vez mais mão de obra especializada. No caso, a nacional não dava conta da necessidade e, na maioria das vezes os proprietários nem a desejavam; então, os fazendeiros requisitavam especialmente a estrangeira, em grande demanda para manter os lucros altos e os salários dos colonos baixos. A necessidade do lucro fez com que agências nacionais e estrangeiras aliadas ao capital financeiro fizessem cartazes e fitas de propagandas favoráveis a emigração, principalmente na Itália, antes da exibição dos filmes propriamente ditos a fim de incentivar a ida de famílias para o Brasil.
“Venha construir os seus sonhos com a família. Um país de oportunidade. Clima tropical e abundância. Riquezas minerais. No Brasil vocês poderão ter o seu castelo. O governo dá terras e utensílios a todos.”
Com o título Progresso Feminino, o mesmo jornal que por vezes em tempos não tão distantes condenou o comportamento, costumes e modos de vestir das mulheres, ou seja, a autonomia da mulher; trouxe uma crônica favorável a campanha sufragista feminina pelo mundo, incluindo o Brasil. Parece ter chegado aos jornais locais e com aparente aceitação da população. Ainda assim, estavam longe de demonstrar entendimento a respeito das mudanças ou as nuances sobre os diferentes papéis que a mulher ocidental poderia exercer, como colocar-se como sujeito visível e modificador. Por exemplo: o vestir-se da mulher, principalmente em regiões interioranas, era regulado por um sistema patriarcal e religioso que os colaboradores locais do jornal eram contrários, ideais compartilhados pela maioria da população. O foco do discurso era político e bem limitado. Os homens discutiam a validade do sufrágio feminino, outras questões nem chegavam ao debate mais amplo.
Não costumamos indicar nesta coluna os óbitos ocorridos, porém em setembro e outubro, os falecimentos publicados eram de representantes da elite local e ou da colônia italiana urbana. No dia 13 de setembro de 1920, faleceu o agricultor Joaquim Camillo de Lellis e no mesmo dia, na cidade de Ribeirão Preto, faleceu seu irmão, Marcolino Lellis e Silva; no dia 23 de setembro, deu-se o falecimento do fazendeiro e político local – vereador e presidente da Câmara por duas legislaturas – o coronel Cláudio José Gomes, aos 52 anos de idade, casado com D. Maria Cherubina da Silva Gomes. O coronel era filho de Eduardo Garcia de Oliveira e tinha 8 filhos; o capitão José Florêncio Ferreira, residente em São Paulo, que estava na cidade em visita a familiares. O finado era pai de Dolor Ferreira de Andrade, advogado e proprietário da Gazeta de Batataes por um período e residente em Cuiabá (MS); em 30 de setembro de 1920, faleceu Lúcia Bianco, 86 anos, mãe de Pedro Bianco; Josephina Gasparini em 13 de outubro; o agricultor José Manoel Pereira, o finado era cunhado do major Custódio Vieira e tio de Juvenal Pereira Lima, oficial do Registro de Hipotecas em 15 de outubro.
As realezas belga e portuguesa foram manchete nos periódicos nacionais e, claro, na Gazeta de Batataes. Em outubro de 2020, comemora-se 100 anos da visita da família real belga ao Brasil: o Rei Albert e Rainha Elizabeth II da Bélgica (vide edições anteriores). No caso da notícia dada pelo periódico local, foi narrada uma passagem da rainha por um casebre em MG – provavelmente em Nova Lima ou Lagoa Santa – e sua simplicidade ao aceitar o café oferecido pela família mineira. (Vale a pena ler o poema que Carlos Drummond de Andrade, com 17 anos de idade, fez sobre esta passagem, chamado A visita do rei, no livro Menino Antigo).
Em relação à família real portuguesa, a discussão sobre o término do banimento da real família do Brasil parecia estar chegando ao fim com a proximidade do centenário da Independência (1922) e para coroar esse fato, estava sendo planejada transposição dos despojos mortais de Dom Pedro II e suas duas esposas no Brasil.
Com a inauguração da Penitenciária de São Paulo, em 1920, foi solicitado ao comando local a remoção dos presos condenados e encarcerados no prédio da Cadeia e Fórum para o novo espaço de recuperação, considerado desde a sua inauguração pelo Estado e seus defensores, um modelo de recuperação.
A Gazeta de Batataes passou a noticiar sobre o controverso Crime de Cravinhos, como ficou conhecido o hediondo assassinato envolvendo uma suposta vítima, o francês Alphonse Defforge, provavelmente um ex-marido de uma das filhas de Íria Alves Ferreira Junqueira com Luiz Antônio da Cunha Junqueira, primo-irmão do coronel Joaquim da Cunha Junqueira, mais conhecido como coronel Quinzinho Junqueira. A filha seria Innocência da Cunha Junqueira, que teria morrido vítima da gripe espanhola por volta de 1919. A suposta vítima foi desfigurada, escarnada, mutilada e
esquartejada e encontrada na região conhecida como Espraiado, nas imediações da Fazenda Pau-Alto, com 1.300 alqueires e com uma produção exorbitante de café, ficava entre Cravinhos e Ribeirão Preto. O motivo? O suposto viúvo e também suposta vítima requisitava sua herança, sendo que os boatos corriam que a filha teria abandonado o marido quando percebeu tratar-se de um aproveitador. A proprietária era Íria Alves Ferreira, 63 anos, já viúva, desde o fim do século XIX, e que comandava todos os negócios e propriedades herdados de seu marido proveniente da família Junqueira e mesmo os de seu pai. Iria Alves Ferreira, por seu jeito enérgico era considerada ‘um coronel de saias’, porém ficou conhecida mesmo como a “Rainha do Café”, por sempre ficar entre a 3ª e 5ª posição de maior produtora de café do Estado de SP. Também era conhecida por ser extremamente benemérita e caridosa. D. Innocência da Cunha Junqueira
Iria foi considerada a mandatária do crime junto com Alexandre Silva (administrador geral de suas terras) e seus quatro supostos executores. Com a prisão do seu “braço direito”, Alexandre Silva e da suposta mandatária do crime, Íria Alves Ferreira, houve um período de silêncio por parte dos advogados dos réus. Foi quando uma estratégia começou a ser executada: os jornais da capital federal, de São Paulo e os da cidade de Ribeirão Preto e região, começaram a trazer matérias pagas que anunciavam que os dois pagariam a qualquer um que tivessem pistas de quem era o morto ou de como o mesmo teria sido executado. Nada disso foi constatado. O que se sabe é que Iria, das notas sociais da elite paulista foi parar nas notas policiais e ficou presa durante alguns meses até ser libertada, muito em função das relações de poder políticas e econômicas estabelecidas pela ré e a família Junqueira. Não teria voltado nunca mais a cidade de Ribeirão Preto. Morreu por volta dos 70 anos.
Embora as quantias oferecidas fossem tentadoras, ninguém apresentou pistas sobre o crime ou criminosos. O que acabava por incriminar mais ainda a dupla. Foi libertada juntamente com Alexandre Silva, porém os demais envolvidos continuaram presos.
Para nós, algumas lacunas precisariam ficar mais claras: Qual das filhas? Não poderia ser uma neta? Teria conhecido o marido nos anos da Primeira Guerra? Aonde realmente teria se casado com este impostor? Teria essa história algum fundo de verdade? Ao que tudo indica, a causadora de todo esse crime, Innocência da Cunha Junqueira já era casada desde 1898, quando seu avô paterno deixou uma quantia em dinheiro de herança. Seu marido e primo foi Gabriel Diniz Junqueira (1º. Intendente de São Simão). No ano da morte de sua mãe, em 1927, ambos já haviam falecido. Infelizmente, a pandemia prejudicou nosso processo de pesquisa ativa.