Conforme já publicamos em outra edição de nossa coluna (11 de outubro de 2019), entre os meses de setembro a fevereiro estava proibida a caça de perdizes e codornas no município, de acordo com o artigo 269 do Código de Posturas (Lei nº 16 de 10 de junho de 1894), sob pena de multa aos infratores. Segundo texto de Mário Roberto Ferraro em seu artigo sobre ‘A caça comercial das perdizes (Rhynchotus rufescens) para abastecimento urbano (1860 -1938)’: “A princípio, todas as espécies da avifauna se constituíam em aves de caça, mas sua predileção em relação ao paladar variava conforme as preferências regionais e de classe social, o que fazia com que uma espécie fosse mais ou menos caçada que outras. No Brasil, as aves consideradas tabus para a alimentação humana eram poucas. As mais comuns eram as várias espécies de urubus, por serem consideradas benéficas, pois limpam a natureza ao devorarem rapidamente animais em decomposição e o joão de barro, cuja engenhosidade na construção de seus ninhos sempre foi admirada. As perdizes foram uma das aves mais usadas na alimentação humana. Não era certamente a ave mais apreciada, mas era abundante, era razoavelmente fácil de ser caçada, sua caça prazerosa, embora dispendiosa, pois exigia boas armas de fogo, munição, cães treinados. Proporcionava prazeres indescritíveis para o caçador e incompreensíveis para os demais. Talvez próximo da barbárie para alguns, como por exemplo, para religiosos da época e para os ambientalistas atuais.” (FERRERO, 2016, p.4)
NA ALIMENTAÇÃO
Além da proibição à caça, encontramos na imprensa local uma campanha pelo aumento do tamanho dos pães nas padarias, mediante a queda do valor do trigo, o que foi prontamente atendido pelo comerciante Ulieno Sicci; além do incentivo ao consumo de milho na culinária, com a publicação de receitas, na qual compartilhamos a receita “Pão dos Índios”.
Ingredientes: 1 xícara fubá branco, 1 xícara fubá amarelo, 1 xícara de água, 1 xícara de sebo, 1 colher chá de sal, 1/8 colher chá de cayenne (pimenta caiena).
Preparo: mistura-se tudo, fazem-se cilindros de 5 centímetros de comprimento, enrolando-os em papel untado e trazendo-os, por fim, ao forno brando durante uma hora.
Em relação à 1ª Guerra Mundial finda em 1919, a Gazeta de Batataes de 13 de novembro, trouxe uma reportagem sobre as mudanças ocorridas no mapa da Europa pós guerra, o qual transcrevemos na tabela os nomes dos países e a quantidade de habitantes, antes e depois da guerra.
ANTES DA GUERRA | DEPOIS DA GUERRA | ||
PAÍSES HABITANTES | PAÍSES | HABITANTES | |
Rússia | 138.467.000 | Rússia | 74.000.000 |
A. Hungria | 49.000.000 | Hungria | 8.000.000 |
Alemanha | 64.000.000 | Alemanha | 60.000.000 |
França | 38.000.000 | França | 40.000.000 |
Espanha | 24.000.000 | Espanha | 20.000,00 |
Suécia | 5.800.000 | Suécia | 5.800.000 |
Noruega | 2.400.000 | Noruega | 2.400.000 |
Inglaterra | 46.000.000 | Inglaterra | 46.000.000 |
Itália | 34.000.000 | Itália | 38.000.000 |
Romênia | 7.555.000 | Romênia | 15.000.000 |
Grécia | 4.6662.000 | Grécia | 5.700.000 |
Bulgária | 4.813.000 | Bulgária | 4.800.000 |
Portugal | 5.500.000 | Portugal | 5.500.000 |
Sérvia | 4.657.000 | Sérvia Croácia | 13.000.000 |
Suíça | 3.800.000 | Suíça | 3.800.000 |
Dinamarca | 2.775.000 | Dinamarca | 3.000.000 |
Países Baixos | 6.700.000 | Países Baixos | 6.700.000 |
Bélgica | 7.600.000 | Bélgica | 7.600.000 |
Albânia | 850.000 | Albânia | 850.000 |
Turquia | 1.425.000 | Turquia | 1.200.000 |
Luxemburgo | 260.000 | Luxemburgo | 260.000 |
Andorra | 5.200 | Andorra | 5.500 |
Montenegro | 435.000 | Mônaco | 23.000 |
S. Marinho | 11.000 | ||
Liechtenstein | 83.000 | ||
Dantzig | 750.000 | ||
Criméa | 950.000 | ||
Etônia | 1.200.000 | ||
Lituânia | 1.900.000 | ||
Letônia | 1.300.000 | ||
Áustria | 6.500.000 | ||
Tchecoslováquia | 18.000.000 | ||
Finlândia | 3.300.000 | ||
Polônia | 34.000.000 | ||
Ucrânia | 35.000.000 |
Sobre a instrução pública, em 16 de outubro foi publicado o movimento escolar do mês de setembro, constando 406 (221 masculinos e 185 femininos) estudantes matriculados na cidade e 122 (80 masculinos e 42 femininos) nas três escolas rurais. Além da maior quantidade de meninos estudando tanto na cidade quanto no campo, chama atenção a porcentagem da frequência escolar nos dois modelos sendo que na cidade foi registrado 75,3% de frequência masculina e 78,2% feminina, contra 46,4% de frequência masculina e 37% feminina nas escolas rurais.
Assim como nos dias de hoje, ao chegar o final do ano, as escolas realizam seus exames e festividades e formaturas, sendo noticiados a realização de eventos na Escola da Ilha, Escola de Macaúbas, Colégio Diocesano de São José (internato, semi-internato e externato), além da divulgação do ensino particular Internato e Externato, Curso Primário e Intermediário com professor Soares Júnior para o próximo ano letivo.
As férias escolares que se aproximavam provavelmente davam maior movimento aos circos que passaram pela cidade neste período, Circo Ideal e Circo Simões.
Outra instituição que estava passando por exames era o Tiro 26, sob a direção do vice-presidente Nelson Pereira Vianna, que recebeu a visita da Comissão examinadora no mês de dezembro. Neste mesmo mês a Escola de Soldados do Tiro 26 abriu vagas para os exames de reservista do exército, além da admissão de sócios atiradores para “cidadãos entre 16 e 19 annos de idade, de bom comportamento, sendo que os menores de 21 annos precisam apresentar, no acto da matricula, autorização dos paes ou tutores.” (GAZETA DE BATATAES, 11/12/1921).
O ano termina com uma triste notícia no âmbito nacional. A ‘Redentora’ Izabel d’Orleans e Bragança faleceu no dia 14 de novembro e no dia 30 foi realizada missa fúnebre em sufrágio da sua alma na igreja matriz. A imprensa local assim registra o falecimento da Princesa Imperial do Brasil:
“A vida de Isabel de Orleans e Bragança foi, a partir de 89, inçada de immerecidos martyrios. O desterro, a morte dos augustos pais, a morte prematura dos filhos, uma das quaes tragica, tudo, deve ter contribuido para amargurar a vida da Redemptora que não foi só uma princesa, masuma figura de imperecivel refulgencia na historia da sua Patria. Mas essa mesma Republica que, pela força das contingencias politicas, teve que banir, com sua illustre familia, do territorio nacional, rendeu-lhe, 30 annos depois, a esplendida homenagem de carinho e de respeito que mais sensivel havia de ser ao seu coração de brasileira e que, de certa fórma, teria abrandado a dor do seu longo exílio. Essa mesma Republica abriu as portas do Brasil aos membros da dynastia deposta e restituiu á terra patria, com honras dignas delas, as augustas cinzas dos ultimos imperiantes. Foi, no glorioso crepusculo da sua vida, uma alegria para a sereníssima princesa. Infelizmente, porem, não quis o destino que ella experimentasse a ultima alegria, que era rever, em pessoa, o seu berço natal como projectava por occasição do centenario da independencia.” (GAZETA DE BATATAES, 14/11/1921).
E por falar em Centenário da Independência, há cem anos algumas instituições públicas e associações já se organizavam para a comemoração do centenário da Independência do Brasil, e a prefeitura local recebeu uma circular com os seguintes dizeres do Secretário do Interior, Sr. Alarico Silveira: “Solicito de V. S. as necessarias providencias afim de que essa prefeitura preste todo o seu apoio á iniciativa da Sociedade Rural Brasileira, que resolveu fazer, em todo o Estado, intensa propaganda em favor da representação da lavoura, industria e commercio paulistas, na Exposição do centenário da Independencia do Brasil, a realizar se em 1922, no Rio de Janeiro.
NOTAS SOCIAIS
O Major Custódio José Vieira, agricultor e figura ilustre da cidade também teve homenagem prestada pela imprensa após seu falecimento no dia 08 de dezembro. “Deixa viúva a exma. d. Francisca de Paula Lima e os seguintes filhos: sr. Manoel C. Vieira, d. Mariana C. de Andrade, esposa do sr. Major João de Andrade Junqueira, ex-prefeito do município; d. Maria Vieira de Andrade, esposa do sr. coronel Gabriel de Andrade Junqueira, deputado estadual por este districto; srs. Affonso Vieira, casado com d. Carmen Garcia Vieira, e Oswaldo Vieira Lima, casado com d. Ubaldina de Andrade Vieira. Doma Maria Carolina da Costa, casada com o sr. Francisco Antônio da Costa, e o sr. Juvenal Pereira Lima, oficial do Registro de Hypothecas desta comarca, eram seus enteados.” (GAZETA DE BATATAES, 11/12/1921)
Nos proclamas de casamento de dezembro, temos anunciado o matrimônio de Gustavo Simioni, com 20 anos de idade, e Elza Scatena com 16 anos, para o dia 17 de dezembro de 1921.
Já nos esportes, o Batatais Futebol Clube e o Riachuelo F.C. realizaram algumas partidas na região (Ribeirão Preto, Bonfim, Franca e São Simão) além da cidade mineira de Uberaba, antes do encerramento da temporada dos jogos em novembro, com previsão de retorno apenas em abril de 1922.