Quer saber da programação dos cinemas da época? Como nas séries atuais, o Teatro São Carlos exibiu a partir do dia 09/05/1920, em 10 partes, o filme lançado em 1918 conhecido como Tarzan (Romancede), numa tradução livre “O Romance de Tarzan”, inédito em nossa cidade e estrelado pelos atores Enid Markey e Elmo Lincoln.
Por falar em cinema, o periódico local noticiou, sem dar infelizmente o nome, que um deles no Rio de Janeiro criou acomodações diferenciadas e afastadas das demais, ficando próximas da cabine do operador das fitas, para noivos e casados mais preocupados com “expansões carinhosas” do que com o filme em exibição.
Se, há 100 anos, a leitora necessitasse trabalhar numa fábrica de chapéus em nossa cidade e em outras tantas, eram condições essenciais: ser mulher, solteira e ter suas próprias ferramentas de trabalho, no caso, as máquinas de costura! Sabemos que muitos ofícios exigem que o profissional tenha e detenha o mínimo para a produção do bem, mas ainda assim parece demorado a conquista de um futuro sustento. Na mesma, sessão o jornal anunciou a venda da dita Fábrica de Chapéus Cardoso de propriedade de Aristides Carlos Cardoso à Luiz Engel (nome da esposa Fanny Engel), no dia 26/04/1920.
Vale lembrar que esta fábrica de chapéus não é a conhecida ex Fábrica de Chapéus Affonso Vieira (no prédio situado na praça Dr. Fernando Costa, fundada em 1925). Quanto a reportagem acima sobre a Fábrica de Chapéus Cardoso, tratamos dela na edição do “Há 100 anos de outubro de 1919”. Revejam: “Sobre a indústria local, o jornal de 100 anos atrás, tratou da ‘Chapelaria Cardoso’, criada em março de 1919, de propriedade de Aristides Carlos Cardoso. De acordo com seu proprietário, sua capacidade produtiva poderia ser maior, mas a cidade não possuía operários especializados. Produziam por volta de 500 chapéus por mês, entre os de linho (360 ao mês) e os de pêlo (150 ao mês), e também mantinham uma oficina de reparos e consertos. Empregavam, conforme cita a matéria, 25 operários, a maioria mulheres e órfãs.”
Mais uma vez, a Gazeta de Batatais noticiou a volta da circulação do folhetim “O Castello”, tendo novamente por diretor e redator Adelino de Carvalho, porém, infelizmente não dispomos no acervo do Museu de nenhum exemplar.
Batatais, no início do século XX, era a representação para a elite cafeeira e burguesa do nordeste paulista do conceito de urbes pitoresca, com ares saudáveis, limpa e ordeira com seu código de posturas e melhoramentos urbanos e arquitetônicos baseados nos ideais sanitários e higiênicos do período e com opções de educação, lazer e cultura… Para essa dita sociedade, “Batatais seria a invenção da Petrópolis Caipira” aos moldes do que a verdadeira cidade fluminense correspondia para o Rio de Janeiro no século XIX.[ JAYME, Lúcia Rezende. A Educação pública na Petit Paris paulista (Ribeirão Preto – 1890-1030). 2012. 181f. Dissertação (Mestrado em Educação. UFU, Uberlândia 2012. Disponível em: http://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789 /13888/1/d.pdf Acesso em: 01 mai. 2017. p. 52
Estávamos próximos à ‘capital do café’ onde tudo efervescia, não podíamos ficar para trás. O novo era desejado, sendo percebido nos discursos e artigos de jornais, nas propostas de ambientes, corpos saudáveis e mentes sãs.
“Em materia de hygiene a cidade de Batataes é uma das primeiras do Estado. Servida por excelente illuminação electrica, por superior água encanada, submettida a analyse, e por magnífica réde telephonica, faltava-lhe, há alguns annos, para completar esta grande obra de melhoramentos, a réde de esgotos, cuja inauguração se verificou em 1917. (…) a cidade, pode-se dizer, está calçada. O serviço de limpeza e conservação das vias públicas é feito com capricho e rigor. (…) calçamentos e paralelepípedos de todo perímetro urbano – sem pó e lama, – (…) longos e asseados passeios de mosaicos, construídos ao pé de casarios limpos, commodos e sólidos (…). As praças, artisticamente ajardinadas e arborizadas, suavizam o tom alegre dos dias límpidos e serenos, impregnando o ambiente de aromas misturados. (…) o nosso cuidado, nestes rabiscos, é salientar, merecidamente os requesitos de hygiene publica que possuímos. Não há dúvida de que a cidade é limpa. (…) De todos os melhoramentos que citamos, juntamos o privilégio da natureza, – prodiga, muito prodiga – …”
Engraçado imaginar que mesmo uma das mais salubres cidades do interior paulista, no caso Batatais, onde não lhe faltavam bons adjetivos, tinha que lembrar aos leitores que o século XX só estava no início e muitas doenças, aparentemente pouco perigosas, matavam e estavam ligadas aos hábitos sanitários da população e ao precário saneamento básico oferecido pelo poder público.
No ano de 1920, mais precisamente no início do mês de maio, tivemos em Batatais o aparecimento de uma febre epidêmica que gerou certo pânico na população: a Escarlatina. Com isso, “os estabelecimentos de ensino, públicos e particulares foram fechados”; ainda segundo o artigo, “facto puramente restricto a medidas acauteladoras, aconselhado não só pelos médicos locaes como também pelos mais rudimentares princípios de prophylaxia (…) também como medida preventiva – o sr. coronel prefeito municipal ordenou fosse suspenso o funcionamento de casas de diversões, suspendendo, ainda, os concertos, no coreto do Jardim Público, até que cessasse o motivo dessa regularidade que o momento impõe.” Outras instruções – comuns aos nossos dias – foram dadas como “evitar o quanto possível reuniões de noite ou dia, para que não haja o contágio dessa epidemia reinante.” Além disso, foi montado no desativado Posto Zootécnico (atual Delegacia de Polícia) da época, um local de isolamento para pessoas pobres e que lá quisessem ser tratadas. O jornal ainda afirmou que a situação da cidade não era para pânico de forma alguma, ainda assim, as pessoas deveriam ficar atentas às medidas profiláticas, como evitar aglomerações e não sair de casa.
O que de fato incomodou e muito o executivo local e imprensa foi o que atualmente vem nos assombrando também: os falsos alardes, ou pelo assim afirmou parte da imprensa da época. Fomos verificar no livro de enterramento do Cemitério Municipal se de fato, mortes estavam ocorrendo por conta dessa moléstia. Verificamos que do mês de maio a dezembro de 1920 foram identificadas como causa da morte por escarlatina, quinze pessoas. O primeiro registro ocorreu no dia 09 de maio. Do início do ano de 1920 até o mês de abril não foram indicadas nenhuma morte por escarlatina no livro de enterramento do Cemitério Municipal. Porém, outras causas podem ter sido dadas. Não saberemos ao certo, até mesmo porque faltam informações sobre o Cemitério Paroquial nesta época.
A mesma imprensa que conclamava o progresso material e sanitário da nossa cidade voltava a adotar posições parciais e moralistas diante das novas colocações e posicionamentos que as mulheres pelo mundo batalhavam. Em pleno ano da conquista do voto feminino na Inglaterra, em Batatais, a imprensa (e a influência formativa que tinha) apoiava o grupo ‘União Social das Mulheres’, movimento feminino surgido em Paris contra a imoralidade, os maus costumes, posicionamentos e moda emergentes, como se fossem um ultraje às próprias mulheres, quando estas tiveram o direito de escolher uma indumentária mais leve, que transformava seus corpos em movimentos; afinal de contas, os papeis sociais também estavam mudando. As mulheres desse pequeno movimento eram “(…) contra o relaxamento dos costumes modernos, e já iniciaram a sua campanha, enviando numerosos boletins refertos de graves considerações moraes a todos os costureiros e proprietarios de theatros e cinemas de Pariz. Esses boletins à maneira de ultimatuns, impõem não sei quantas penas aos propagandistas de modas pouco serias, e a todos os empresarios theatraes que indirectamente as estimulam, transformando suas casas de diversões em mostruarios desses perigosos figurinos”. O autor do artigo, o professor Américo Bruschini, continuou a fomentar suas ideais e opinião ao lamentar o insucesso da empreitada dessas mulheres. (…) “Lamentavel sob todos os pontos de vista em que seja refractado o problema: da moral social, da dignidade dos contemporaneos, do prestigio, que poderia ser tão util, da ‘União Social das Mulheres’, do predominio, que será cada vez mais irresistivel, dos costumes relaxados e de quejandas coisas parallelas . E, tudo isto, amigos, sem falar no grande golpe que esse desastre veiu vibrar na força da Mulher, e sem falar, portanto, nos sérios embaraços em que ficarão os espíritos em que pleiteiam a causa do voto feminino…”
Enquanto isso, nos Estados Unidos, dava início o uso cotidiano de um tecido que era uma mistura tramada de fios brancos e azuis, chamado de Zuarte. Atualmente, poderíamos chamá-lo de brim? Atravessou os tempos…
Há 100 anos, a produção de café do município de Batatais contribuía consideravelmente para o fortalecimento da Alta Mogiana como a maior região produtora de café do país, conforme dados da própria Gazeta de Batatais (que podem nem ser tão confiáveis). A produção média anual prevista para a safra do ano de 1920-1921 seria de 4.000.000 pés de café.
Os cafeicultores que se destacaram no ano de 1919 no município foram: Manoel Victor Nogueira (Fazenda São José e outras), Viúva Ferreira da Rosa e herdeiros (Fazenda Morada e outras), Dr. Domingos Moraes Filho (Fazenda Macahubas), Antônio Cândido Alves Pereira (Fazenda Santa Cruz e outras), Dr. Honório Olimpio Machado (Fazenda Floresta), Custódio José Vieira (Fazenda Barra), Francisco Schmidt (Fazenda Floresta), Alexandre Salem (Fazenda Guaraciaba), Alexandre A. Siqueira (Fazenda Angola), herdeiros de João Ferreira da Rosa (Fazenda Fartura), Isaac Pereira Lima Sobrinho (Fazenda Córrego da Onça), etc.
JAYME, Lúcia Rezende. A Educação pública na
Petit Paris paulista (Ribeirão Preto – 1890-1030). 2012. 181f. Dissertação (Mestrado em Educação. UFU, Uberlândia 2012. Disponível em: http://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/13888/1/d.pdf Acesso em: 01 mai. 2017. p. 52