O mês de maio de 1920 começou na ‘Gazeta de Batataes’ com a notícia do falecimento de um batataense que mereceu, à época, destaque no folhetim. Um desconhecido para a maioria da população batataense atual, ainda assim, podemos afirmar que a maioria dos moradores já deve ter escutado ou visto seu nome: Coronel Joaquim Marques de Souza. Hoje em dia, é nome de uma das principais ruas do bairro Riachuelo em Batatais, que até 1948 era conhecida como Rua da Caixa D’Água.
Escrevemos estas notas biográficas, costuradas aqui e ali, no fundo com a esperança de existir algum remoto parente ou conhecido que saiba dar notícias dos descendentes do sr. Joaquim Marques, pois em épocas de isolamento social, onde até os aparelhos param, fica mais difícil ainda a descoberta de pequenos dados e anedotas sobre determinados personagens, que, infelizmente já nos são impessoais por não termos informações sobre suas memórias e lembranças pessoais, mas…
Joaquim Marques de Souza nasceu em Batatais entre os dias 14 e 16 de outubro de 1869 e faleceu no dia 26 de abril de 1920 aos 51 anos de idade, na cidade de Santos, litoral paulista. Seus pais naturais foram, Francisco Marques de Souza ( ? – 1920) e Francisca de Rezende ( ? – 1869), que descende ao que tudo indica de família do Major Domiciano Alves Rezende da vizinha cidade de Jardinópolis. Joaquim, com pouco tempo de vida, devido a morte prematura de sua mãe, foi entregue aos cuidados do então capitão José de Andrade Diniz Junqueira (1816 – 1882) e sua esposa Cândida Esméria Pereira de Lima (1836 – 1925), sendo agregado com carinho à família Andrade Junqueira. Ao que tudo indica, sempre morou com o casal acima ou o outro irmão do capitão, o coronel Manoel Gustavino de Andrade Junqueira e sua esposa Minervina Arantes (Marques) Junqueira, irmã do Dr. Altino Arantes Marques.
Pelo que percebemos, Joaquim Marques, não deu seguimento aos estudos acadêmicos, porém não temos os motivos. Estudou por 4 anos no Colégio São Luiz, em Itú, fez dois anos do Seminário Episcopal de São Paulo e deu início aos estudos na Academia de Direito de São Paulo do Largo São Francisco. Ainda assim, voltou a morar na cidade natal antes de concluir o curso.
Entre 1892 a 1899, trabalhou como agrimensor, seguindo a profissão do Coronel Manoel Gustavino de Andrade Junqueira (que também foi coletor fiscal estadual). Em 1899 tornou-se coletor fiscal municipal e em 1901 passou a ser tabelião do Cartório de Notas do 2º Ofício em Batatais. Ajudou a fundar o Grêmio 14 de março. Foi um dos membros mais ativos do PRP e sempre compunha a comissão de alistamento eleitoral e a mesa das eleições em Batatais, embora não tenha seguido carreira política. Foi também um dos primeiros presidentes do Batatais Futebol Clube.
Casou-se entre 1892 e 1894 com Maria Luiza Marques de Souza e tiveram nove filhos: Anna Marques de Camargo (casado com Antônio Almeida Camargo), José Marques (casado com Vera Ângela Dragonero Marques), Antônio, Luiz, Maria Luiza (Zizinha), Evangelina, Benedicto (ajudante da Agência dos Correios local, casado, em 1937, com Ada Girardi, filha de Marcelo Girardi), Luiza e Cândida. Morou, depois de casado, no Largo do Campo Alegre (atual Praça Anita Garibaldi, provavelmente ao lado do pai biológico).
Santos (SP) foi a cidade onde residiu por apenas um ano (saiu de Batatais em março de 1919), quando foi com a família fixar residência para servir como tabelião responsável pelo Cartório de Notas do 7º Ofício daquela cidade, vindo a falecer em 26 de abril de 1920.
O filho mais velho do coronel Joaquim Marques, José Marques, apelidado desde cedo como Zezito serviu como voluntariado em 1916 no 53º Batalhão de Caçadores do Exército em São Paulo e talvez por isso, tenha sido um dos grandes organizadores da Linha de Tiro de Batatais junto com Colombo Mascagni. Por falar em Linha de Tiro, em Batatais era a Tiro 26, e no ano de 1920, sete reservistas iriam fazer a prova oficial para serem dispensados após o tempo de serviço militar obrigatório.
Enfim, deu-se a posse oficial do governo estadual para o quatriênio (1920-1924), marcada para o dia 01/05/1920, no qual foram empossados para presidente do Estado, o Dr. Washington Luís Pereira de Sousa e para a vice-presidência Rodrigues Alves. Compareceram à cerimônia, representando o executivo e legislativo batataense, à época, o prefeito o Coronel Manoel Victor Nogueira e o presidente da Câmara, O Dr. Frederico Marques, e levando em mãos a carta de congratulações, o deputado estadual e vereador do nosso município o Dr. Gabriel de Andrade Junqueira.
Uma curiosidade a ser comentada sobre o mês de maio, que talvez alguns leitores não saibam: nós já comemoramos o que se convencionou chamar de “descobrimento do Brasil” em outra data que não o “22 de abril”. Os leitores poderão pensar que estamos equivocadas. Pois então, até pouco tempo o nosso tão pouco celebrado e repensado 22 de abril (data comemorativa da chegada e dominação dos portugueses sobre o Brasil) demorou a cair no gosto popular, mesmo quando foi instituída como a data oficial, em 1899. Vamos aos motivos de forma breve: dia 3 de maio foi a data escolhida por se acreditar que os primeiros nomes dados às novas terras foram Ilha de Vera Cruz e depois Terra de Santa Cruz, por consequência atribuíram os nomes à data religiosa do dia. Após a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, com documentos sobre o período inicial da história europeia no Brasil que ficaram perdidos séculos, um deles depois encontrado tornou-se a verdadeira ‘carta de nascimento’ do Brasil, a “Carta de Pero Vaz de Caminha”. Oficialmente, a data cívica de 3 de maio foi transferida para o 22 de abril em 1930, conforme apontam os registros históricos. Além disso, o dia 22 de abril perdeu a condição de feriado, pois o dia anterior já o era, Dia do Mártir da Inconfidência “Tiradentes”, 21/04 no governo de Getúlio Vargas.
Como já é sabido pela maioria, maio é um dos meses mais procurados pelas noivas para o casamento. Há 100 anos não era diferente, e, pelo que entendemos, os arranjos matrimoniais da badalada sociedade batataense foi bem disputado. Foram noticiados os casamentos de Stella Scatena, filha de Artur Scatena e D. Augusta Testa, com Adelino Sminioni, farmacêutico, proprietário da Farmácia Central, filho de Antônio Simioni e esposa; da Srta. Maria da Luz Borges, filha de D. Jesuína Borges com Joaquim Victor de Oliveira; Diva de Menezes, filha de Francisco Telles de Menezes e esposa com Custódio de Andrade Junqueira, filho do Major João de Andrade Junqueira; Cândida de Andrade, filha de Martiniano de Andrade e D. Irene de Freitas Andrade com José de Paula Borges, farmacêutico em Sarandy (atual Jurucê).
O futebol tornava-se, ao que tudo indica pela propaganda adotada, o ‘esporte preferencial’, e o jornal, apresentava com isso, a programação das partidas dos times das fazendas que vinham jogar na cidade, no caso o Conquistando e o Capoeira Limpa deixando registrado os nomes dos jogadores e suas respectivas posições. Além disso, faziam partidas com diversos motivos, como casados versus solteiros.
Foi notificado pela diretoria do Batatais Futebol Clube que após a construção de seu “ground” que estava em fase de finalização iria junto aos seus associados construir um prédio nas imediações da cidade para acomodar pessoas necessitadas e abandonados seja moléstias contagiosas, em fase terminal, deficientes e ou senis. Isso aconteceu? Quem souber se esse fato ocorreu, por gentileza, entre em contato. Em outra edição do mesmo jornal, seus editores entendem que a construção da Vila São Vicente de Paulo deveria ser uma obrigação de todo morador da cidade e conclamava a todos na participação dessa empreitada.
Os alunos do Colégio Diocesano São José de Batatais gozavam de boa fama quanto às suas representações teatrais e constantemente eram convidados a reapresentações de peças já estreadas. Em maio de 1920, os alunos, segundo consta, encenaram para público diversificado com casa cheia, a comédia Os três valentões e o drama Venancio.
Pelo que percebemos, Batatais,era uma cidade de pessoas caridosas ou adoradoras das artes, ou porque não as duas situações? No mês de maio de 1920, por duas vezes, o grupo escolar ‘Dr. Washington Luís’ realizou festas para angariar fundos monetários e obteve êxito: um para a caixa escolar com uma representação teatral de alguns professores e outro evento, um sarau literário para apoiar a construção de um gabinete dentário escolar.
Obs.: os relatos sobre o mês de maio de 1920 continuam na próxima edição.