Caro leitor, há 100 anos, a cidade de Brodowski, antigo distrito de Batatais desmembrado desde 1913, teria dirigido à Câmara de Deputados do Estado por duas vezes uma petição para mudar seu nome para Washingtopolis em homenagem ao governador do Estado de São Paulo naquele período, Dr. Washington Luís. O pedido foi declinado pessoalmente pelo próprio governador, que segundo o dito não concordava com a aludida ideia.
Ao fazermos a leitura dos jornais antigos, muitas vezes paramos para refletir que pouca coisa mudou, por exemplo, em relação ao comportamento das pessoas quando estão como platéia em espetáculos teatrais. Uma das edições de junho reclamava do comportamento de espectadores batataenses em algumas apresentações nos teatros locais durante os atos da “Troupe Dramática Ermete Zacconi” da cidade de Ribeirão Preto, dirigida e estrelada por Eduardo Gallo.
Pra não deixarmos os esportes de lado, no mês de junho de 1920, o Batatais Futebol Clube (BFC) treinava seus jogadores com o time do Castelo Futebol Clube. Foram realizados jogos do BFC com o time do Macaubas Futebol Clube, representando a própria fazenda local do mesmo nome e com o Elite Esportiva da cidade de Franca (SP). Foi notícia também a convocação de assembléia do Riachuelo Futebol Clube para aprovação de seu estatuto por seus sócios.
Como era o mês dos tradicionais santos juninos, o poder executivo permitiu o uso dos fogos de artifícios apenas nos dias de comemoração dos santos, pois fora das datas os infratores seriam multados.
Na década de 20, a primitiva “Sociedade Recreativa 14 de Março” funcionava plenamente e tinha como seu presidente, o dr. Bazileu Soares Muniz, juiz de Direito da Comarca de Batatais.
A sociedade batataense esteve mobilizada durante o mês de junho a fim de angariar fundos monetários para a montagem do que chamaram à época de “Dispensario Medico Dentario” e diante da possibilidade consistente de uma nova epidemia de Varíola, já que alguns casos foram relatados na região, o poder executivo local solicitou vacinas ao governo estadual.
Outra enfermidade que deixou a população alarmada foi a Escarlatina, apesar do periódico local amenizar sua presença na cidade. Uma das edições de junho contestava informações do “Jornal de Notícias”, da cidade de Barretos (SP) que indicava que a cidade de Batatais estava em processo epidêmico. Os editores afirmavam que foram poucos os casos para uma cidade com 5 mil moradores urbanos e portanto, a quantidade de cinco casos não poderia caracterizar uma situação de pânico. Ao verificarmos o Livro de Enterramentos do Cemitério Municipal, confirmamos que constavam cinco indicações de causa da morte por escarlatina nos meses de maio, cinco para junho e seis no mês de julho de 1920. Ainda assim, como medida preventiva as aulas foram suspensas e retornariam após o recesso escolar de julho.
No dia 04/06/1920, o Grupo Escolar ‘Dr. Washington Luís’ comemorou o seu 9º. ano de funcionamento e para homenagear seu patrono, enviou ao governador de São Paulo felicitações pela passagem de mais um ano de funcionamento da escola. De acordo com o jornal, o governador Dr. Washington Luís teria retribuído as congratulações. Na mesma edição, foram indicados pela primeira vez na imprensa alguns dados escolares.
Em junho de 1920, para deixar mais doce o paladar dos moradores da cidade de Batatais, o sr. João Rosada (1869-1971), abriu a Confeitaria Rosada, a rua Coronel Joaquim Rosa, “cujo sortimento de bebidas, doces e comestíveis satisfaz o mais exigente paladar”.
Um caso curioso aconteceu com um detento da cadeia local em 1920. De acordo com o periódico, João Cabral sentenciado há 3 anos e 8 meses de prisão no ano de 1919, recorreu do julgamento junto ao Tribunal de Justiça que reafirmou sua sentença no dia 08 de junho de 1920. O curioso é que no mesmo dia o sentenciado teria ganhado um bom prêmio na loteria. O dia não teria sido de todo infeliz: “uma no cravo e outro na ferradura”.
Consta uma nota policial que assustou a população batataense: um crime bárbaro ocorrido na cidade à rua Sete de Setembro em plena luz do dia. O sapateiro Thomaz Cinalli, italiano, 36 anos, com prováveis distúrbios psiquiátricos, sofrendo com o abandono da esposa, Sílvia Brondi. A esposa foi retirada do lar pelos pais e levada para Altinópolis, devido aos maus tratos do marido que acreditava erroneamente ser traído pela mulher. A violência contra a esposa era tamanha que o indivíduo estava sendo processado pela polícia. No dia 10 de junho, o sapateiro, munido de uma arma branca, desferiu diversas facadas em dois homens também italianos que estavam conversando na calçada, o negociante Baptista Pesente, e o funileiro Arthur Marcolla, que foram internados na Santa Casa local. Não encontramos nenhuma informação que possa acrescentar ao ocorrido há 100 anos, mas consideramos válido registrar.
A luta greco-romana era bem aceita em nosso meio. Em junho, a cidade recebeu um conterrâneo de nome Antônio Sper, conhecido como Dudu, campeão brasileiro de luta romana que lutou com amador ribeirãopretano Morelli.
Mesmo em tempos atuais onde aglomerações são algo a ser evitado ao extremo, estamos no mês de junho e é impossível não nos lembrarmos dos festejos juninos. Não seria diferente há 100 anos, só que dessa vez, a notícia veio de uma festa religiosa popular na comunidade italiana da província de Puglia que atravessou o oceano e veio junto com os imigrantes do sudeste da Itália: a Festa de São Vito Mártir, festejada durante todo o mês de junho e comemorada oficialmente nos dias 14, 15 e 16 de junho.
A tradição não se perdeu e a Paróquia de São Vito no Brás, capital paulista, celebra anualmente com procissões, novenas, missas e festa de rua com música, comida e bebida pelo menos desde 1918! A curiosidade da notícia estava no valor pago em leilão, por um dos associados da Societá Beneficente San Vito Martire, para ser um dos carregadores do andor do santo. O associado teria ofertado o valor de 1 conto e 200 mil réis, o que equivale, nos dias de hoje, por volta de R$ 16.000,00. A tradição de carregar o andor significa uma manifestação de fé representada por algumas famílias tradicionais do bairro. Esse compromisso de fé pode significar inclusive o pagamento de uma promessa. A oferta monetária, de prendas ou do trabalho durante as festividades, se dava pela crença na proteção do santo em retribuição de um ano próspero e fértil.
A década de 20 foi marcada pelo início do mapeamento do analfabetismo no estado. A Diretoria Geral de Instrução Pública do Estado de São Paulo solicitou apoio à imprensa de todo o estado na divulgação e propaganda favorável da ação, levando ao público a informação da importância da aceitação pela população do recenseamento sobre o saber ler e escrever, explicando que o mesmo não tinha a intenção de constranger os analfabetos.
Continua na próxima edição