/HÁ 100 ANOS… JANEIRO/ FEVEREIRO E MARÇO DE 1922 – parte final

HÁ 100 ANOS… JANEIRO/ FEVEREIRO E MARÇO DE 1922 – parte final

Nesta edição damos continuidade ao que foi notícia no primeiro trimestre de 1922.

 AS CAFETEIRAS BRADASCHIA

Uma notícia muito interessante merece ser destacada em nossa coluna. Trata-se das Cafeteiras Bradaschia, um verdadeiro patrimônio de Batatais. Em 15 de janeiro, a oficina de funilaria na Rua Santos Dumont, de Fernando Lavagnoli comunicou à freguesia que acabava de contratar o Sr. Emygdio Bradaschia, “habilíssimo official, para o fabrico de cafeteiras __ que se denominarão “Batataenses”, aceitando encomendas até de outras cidades.

Aproveitamos esta oportunidade para compartilhar com os leitores e as leitoras um trecho da Exposição Virtual que o Museu Histórico e Pedagógico Dr. Washington Luís realizou em 2020, com a colaboração de moradores que encaminharam fotos de suas cafeteiras.

Imagens da Exposição virtual sobre as cafeteiras Bradaschia, organizada pelo MHPWL em 2020.

 

A cafeteira foi levada a exposição nacional em comemoração ao 1º Centenário de fundação da cidade do Rio de Janeiro, em 1908, sendo premiada com o 2º lugar.

Quem sabe esta premiação de um artista batataense na manufatura de objetos domésticos tenha incentivado outros talentos da cidade, pois em 1922 foi anunciado que o marceneiro Romeu Coraucci estava preparando uma mesa de sala de jantar para a Exposição Comemorativa do 1º Centenário da Independência. “Essa mesa será elástica, e para o seu desdobramento um segredo especial estabelece o Sr. Romeu Coraucci, tornando-se assim difficil o seu manejo’” (GAZETA DE BATATAES, 12/02/1922)

Muitas notícias da capital federal, Rio de Janeiro, chegam pelo jornal, dentre elas os avanços da medicina em relação ao tratamento de infecções gonocócicas, pelo famoso ginecologista, o Dr. Arnaldo Quintella, que infelizmente faleceu de forma violenta, em pleno exercício de sua profissão em seu consultório, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 9 de março de 1922, vítima de uma cliente.

IMPOSTOS DE INDÚSTRIAS E PROFISSÕES

Logo na abertura do ano, a Gazeta de Batataes publicava a cobranças dos impostos municipais organizadas pelo coletor das rendas municipais, Antônio Jacintho Lopes.  Para se ter uma idéia das profissões existentes em Batatais em 1922, transcrevemos a letra A da lista de Imposto de Indústrias e Profissões:

Nome Atividade Valor
ALCEBÍADES BORGES Capitalista e negociador de gado 250$
ABUL HUDA JUNDI Negociante e vendedor de louças 450$
ARGANTE BERTARELLI Casa de pensão 60$
ALBERTO CONRADO Administrador e capitalista 100$
ANDRÉ PLÁS Confeitaria 200$
ANGELO ROSSINI Empreiteiro 50$
AUGUSTO MORANDI Venda de leite 20$
ADELMO GALLEOTTI Alfaiataria com fazendas 150$
ARTHUR SCATENA Negociante, capitalista e casa desconto 950$
ARTHUR SCATENA Fábrica de sabão 50$
ALPIDIO FIGUEIREDO Negociante de gado 100$
AMÉLIO CABRINI Negociante ambulante 100$
ARTHUR MARCOLLA Funileiro 50$
ALVARO CARDOSO Dentista 100$
ALFREDO MELEGA Empreiteiro 50$
ALFREDO PEREIRA VIANNA Pasto de aluguel 30$
ANGELO SEGALA Sapataria 30$
AMÉRICA MAZUCATO Modista 50$
ADELINO DE CARVALHO Solict. Barbeiro e guarda livros 140$
ADELINO SOARES LAMEIRA Negociante 100$
ANGELO BURGARELLI Venda de capim 20$
ARTHUR ZANETTI Sapataria 30$
ANSELMO TAMBELLINI Guarda livros 30$
ALEXANDRE FAZZION Barbearia 30$
ALEXANDRE CARAN Negociante fazendas e molhados 250$
ANGELO LANDIN Carpinteiro 10$
ALMEIDA & COUTINHO Açougue suíno e vacum 100$
ARISTIDES CARDOSO Alfaiataria com fazendas e confeitaria 250$
ACHILLES DROSGHIC Padaria 50$
ARTHUR CHARINI Padaria 50$
ARISTIDES NUNES DA SILVA Negociante 450$
ABELARDO PIMENTA DE CASTRO Dentista 100$
AMÉRICO CARILLI Guarda Livros 30$
ARCHIMEDES VIDAL Guarda Livros 30$
ANTÔNIO JOÃO NAZAR Negociante 500$
ANTÔNIO BERNARDES SIQUEIRA Alfaiate 10$
ANTÔNIO PEDRO CARNEIRO LEÃO Advogado 100$
ANTÔNIO ROCHA Carpinteiro 10$
ANTÔNIO ALEIXO DA SILVA Negociante 100$
ANTÔNIO SIMIONI Negociante, selaria e depósito de materiais 800$
ANTÔNIO SIMIONI Açougue de suínos 60$
ADOLPHO DAL SECCO Sapataria 30$
ANTÔNIO CÂNDIDO ALVES PEREIRA Capitalista, c. caf e past 280$
ANTÔNIO FARACCO Funileiro e barbearia (2 cadeiras) 100$
ANTÔNIO FERRARI Negociante e capitalista 300$
AMÉRICO GAETA Guarda Livros 30$
AUGUSTO BERNARDINO MARQUES Capitalista 50$
ANELUSCO SUAVE Capitalista 50$
ANTÔNIO ACRA Negociante no mercado 60$
AURELIANO ANTÔNIO DA SILVA Advogado 100$
ADELINO SIMIONI Farmácia 250$
ANTÔNIO REZENDE Depósito de lenha 50$
ALFREDO ZANOTTI Carpinteiro 10$
ANTÔNIO CLEMENTINO Negociante 100$
ANTÔNIO JOSÉ PEREIRA Engenho de cana 50$
AURELINO ALVES DA COSTA Negociante 100$
ATTILIO ZIVIANI Oficina de ferreiro 30$
ABDAL ABBUD Negociante de queijos, etc 100$
ATTILIO LAZZARINI Hotel 200$
AGOSTINHO PUPIM Capitalista 50$
AURÉLIO BIS Administrador 50$
AFFONSO PACHECO Alfaiataria 50$

 

Reparem leitores que os impostos antigamente chegavam pela imprensa, e todos ficavam sabendo o quanto cada um devia pagar. A única profissão ocupada por mulheres nesta época era a de modista. Eram modistas em Batatais as senhoras: América Mazucato, Silvia Girardini, Philomena Dal Secco e Luzia Sposita de Siqueira.

Em 12 de fevereiro vemos a seguinte nota sobre Modas Femininas: a formação de uma Liga na Itália contra as inconveniências das atuais modas femininas combatendo o uso de trajes e atrativos contrários à modéstia, à dignidade e ao decoro das mulheres.

“1º – Que não criem, nem tampouco importem do estrangeiro, modelos que possam offender o senso moral e as conveniências sociaes; 2º – que nas ‘toilettes’ femininas fique, sem reservas, abolida a moda dos decotes exaggerados e das saias demasiadamente curtas ou estreitas, assim como da roupa branca luxuosa e dos tecidos muito transparentes; 3º – que procurem melhorar, cada vez mais, os figurinos italianos, segundo as indicações da Liga, e que se abstenham de expor nas mostras dos seus estabelecimentos trajos e roupa branca que possam offender os olhos do publico e, ao mesmo tempo, representar um máo exemplo para as classes trabalhadoreas; 4º – que supprimam dos trajos femininos tudo o que for vulgar ou excêntrico e se substitua pela simplicidade e graça inspiradas no bom senso e na verdadeira elegância.”

TIRO DE GUERRA 26

A Linha de Tiro, que retomou suas atividades em Batatais em 1917 devido à dedicação do Coronel Manoel Victor Nogueira, foi um assunto que movimentou o jornal local nos três primeiros meses de 1922, tanto pela solenidade de entrega de cadernetas a 25 reservistas em janeiro, quanto pela formação de nova turma de atiradores com 20 anos feitos no ano anterior.

A entrega das cadernetas ocorreu no entorno do coreto na Praça Cônego Joaquim Alves e teve apresentação musical da Banda Euterpe Batataense. O evento contou com a participação do promotor público José Arantes Junqueira, do tenente Arlindo Pinto Nunes, dos reservistas veteranos Antônio Alves e José Jorge e do sargento instrutor do Tiro de Guerra, João Martins.

Os reservistas que receberam as cadernetas foram: Florisval Roncaratti, Francisco Faggioni, Jeronymo Sebastião da Silva, José Garbellini, José Antônio Nazar, João Antônio Nazar, Jacomo Pesente, Joaquim de Paula Borges, José Jorge Yunes Abeidh, Juarez Pereira Vianna, José do Valle Nogueira, Mário Pereira Vianna, Pedro Rizzato e Vicente Suzana; além dos alunos do Colégio Diocesano São José: Francisco Machado de Souza, Francisco Barbosa da Silva, Gabriel Garcia de Barros, Jeronymo Ignacio da Costa, José de Paula Lima, Jorge Antônio Nazar, José Ferreira de Carvalho, João Marques de Souza, Joaquim Aleixo de Paula, Nello Sallem e Oswaldo Rodrigues da Cunha.

Mas a avaliação dos reservistas não foi lá tão bem pontuada, pois segundo a Ata de Exame publicada na Gazeta de Batataes (15/01/1922):

“A commissão, em face do que preceituam as directivas, faz a critica iniciandoa pela parte theorica: o ponto um notou com pouco aproveitamento; os de numero dois, quatro e cinco, insensivelmente melhores que o anterior; quanto aos de numero três e seis, foi um tanto melhor, no que diz respeito ao ponto sete, que por ser um dos mais importantes, não satisfez, como era de esperar. Julgando a comissão das duas, uma: ou o instructor deu a istrucção, e seus alunnos não compareceram as mesmas, ou não assilillaram; ou o instructor não as deu. Neste caso, não njos é favorável, porquanto pelo pouco tempo, assenhoreamos da rectidão do instructo, e attribuimos que seja em virtude da grande parte dos candidatos, que na sua maioria são rapazes de trabalho, com pouca freqüência de cursos de instrucção.”

Mesmo assim, de acordo com a Gazeta de Batataes (22/01/1922) “A nossa linha de tiro – dizem os membros das commissões examinadoras que periodicamente nos visitam, – é uma das primeiras do estado, tal a sua organização e a operosidade da sua directoria e dedicado instructor militar.”

 PROTEÇÃO AOS ANIMAIS E AOS PEDESTRES

No primeiro jornal do ano, uma nota interessante do então delegado geral, Dr. João Baptista de Souza, é publicada na Gazeta de Batataes repassando circular recebida do delegado de polícia Dr. Joaquim A. Salles Junior:

“A exemplo do que está sendo feito nesta capital, com relação ao assumpto, recommendo as vossas providências no sentido de não ser permettido que, nessa cidade, carregadores ou quaesquer pessoas conduzam animaes e aves de cabeça para baixo, bem como, que cocheiros, carroceiros e outros conductores de vehiculos maltratem os animaes por elles guiados” (GAZETA DE BATATAES, 01/01/1922).

Além da punição aos maus tratos, a Prefeitura anunciou que seria construído um bebedouro para animais no entorno da Praça do Rosário, assim como local para estacionamento de veículos nos fundos do Mercado Municipal e reconstrução da ponte da Rua Duque de Caxias.

A fiscalização municipal foi cobrada pela Gazeta de Batataes (15/01/1922) a acionar a Lei da Limpeza Pública para punir as pessoas que jogavam cascas de mangas e bananas nos passeios públicos e ruas centrais.

“O perigo é enorme. Um individuo qualquer que ande despreocupado, sem observar onde põe os pés, está arriscado a quedas de graves conseqüências. Temos visto escorregões formidáveis de senhoras e cavalheiros, porque, distrahidamente, pisam em cascas de mangas e bananas que, aos montes, se acham nos passeios e ruas do perímetro calçado.”

Neste período, a cidade já vinha se adaptando ao transporte automotivo e estradas de ligações para Nuporanga, Sales de Oliveira, Altinópolis e Jardinópolis estavam em plena utilização.

Gazeta de Batataes, 12/02/1922 – Acervo MHPWL (Batatais/SP)

Muitas foram as notícias que movimentaram o primeiro trimestre de 1922: começam as negociações para a instalação de um Telégrafo Nacional na Estação Mogiana, o Colégio Soares estava sob a direção do professor Soares Junior, a professora Cândida Pimenta de Castro foi nomeada para regência da escola mista da Macaúbas, o Colégio Auxiliadora abriu matrículas para alunas externas, o Riachuelo Futebol Clube  realizou quermesse ao redor do coreto na Praça Cônego Joaquim Alves, durante os festejos de carnaval, em benefício das obras do campo  e o BFC, no mês de março, estava em plena campanha por donativos para quermesse em prol da construção das arquibancadas do campo etc. Mas não podemos esquecer que estávamos em tempos quaresmais e o semanário publicava semanalmente as práticas orientadas pela Igreja.