Feliz ano novo, leitores do ‘Há 100 anos’! Em nossas pesquisas estamos no primeiro trimestre de 1922 e algumas pessoas podem considerar que o ano realmente inicia em março, seja por motivos astrológicos, pois o novo ano astrológico começou em 20 de março, ou pela tradição cultural de começarmos um novo ciclo só depois do Carnaval.
Já que o assunto é Carnaval, assim como nos dias atuais, mas por motivos diferentes, há cem anos a festa de Momo não estava muito animada em Batatais, apesar de a imprensa local reconhecer a importância desses três dias para aliviar as preocupações e os lojistas anunciarem estoques de confetes e serpentinas à venda para seus fregueses, principalmente a Casa Cassiano localizada na Praça Cônego Joaquim Alves.
“Prepare-se toda gente para recebe-lo com alegria e despreocupação, mandando ás urtigas os aborrecimentos da vida. Os três dias de loucura e gargalhadas ahi vêm para transformar a nossa carranca num sorriso franco e indicador de bom estado d’alma.” (GAZETA DE BATATAES, 19/02/1922)
Um assunto que muito foi debatido em 1921 e permaneceu em 1922, foi o ensino religioso facultativo a qualquer seita (católica, protestante, espírita e outras) nas escolas públicas; o que gerou muita polêmica na delimitação das funções do Estado e da Igreja em relação à religião. Lembremos que a partir de 1891 começou a vigorar a primeira Constituição republicana que definiu a separação entre o Estado e quaisquer religiões ou cultos, estabelecendo em seu artigo 72 que “A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade”.
Em relação à religião, destacamos abaixo, parágrafos específicos sobre o tema no Artigo 72:
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As polêmicas dos limites entre Estado e Religião perdurarão por muitos anos até que em abril de 1931 o presidente Getúlio Vargas decretará o ensino religioso facultativo nas escolas públicas.
Voltando a 1922, em Batatais, o ano começou com a triste notícia do falecimento do jovem Manoel Alves de Oliveira aos 27 anos de idade, genro do prefeito Manoel Victor Nogueira e casado com Sebastiana Nogueira de Oliveira. Não foi noticiada a causa da morte ocorrida no dia 05 de janeiro às 00:30 hora na Fazenda São José, mas tudo indica que o mesmo vinha passando por atendimento de uma junta de médicos.
Outra personalidade que movimentou as notas fúnebres da cidade foi D. Cândida Alves Pereira, que faleceu no dia 18 de janeiro aos 83 anos, mãe do major Antônio Cândido Alves Pereira, irmã do Capitão João Cândido Alves Ferreira e tia de João Cândido, Chrisanto e Joaquim Alves Ferreira.
Na abertura de cada ano, era comum a publicação do movimento de registro civil do ano anterior. Desta forma em 1921 ocorreram 703 nascimentos, 303 óbitos e 146 casamentos em Batatais. Dos nascidos, 386 eram do sexo masculino e 317 do sexo feminino. Já sobre os falecidos, 172 eram menores, 131 adultos, 47 estrangeiros e 256 brasileiros.
Segue abaixo quadro comparativo dos últimos três anos
1919 | 1920 | 1921 | |
Nascimento | 701 | 728 | 703 |
Óbitos | 321 | 295 | 303 |
Casamentos | 102 | 105 | 146 |
Mais um balanço interessante que podemos compartilhar com os leitores é a estatística do movimento da delegacia no ano de 1921:
– 35 inquéritos crimes: 3 homicídios, 12 ferimentos leves, 2 abigeatos (crime que envolve furto de animais no campo), 4 furtos, 5 defloramentos (abuso, violação, estupro), 1 infanticídio, 1 envenenamento, 3 suicídios, 1 desastre, 1 acidente de trabalho, 1 processo de alçada, 1 inquérito de queixa privada, 4 buscas e apreensões requeridas, 2 vistorias e 1 termo de segurança.
– 65 prisões
– 28 alvarás de licenças para diversões
– 56 queixas registradas e resolvidas.
Outro assunto que abre o ano foi a extensa coluna escrita por Arturo Scatena sob o título de ‘Informação Equívoca – retificação Oficial’ em que o autor comunica ser falsa a informação da Chefia do Serviço de Recrutamento Militar da 4ª Circunscrição de São Paulo sobre seu filho Jayme Scatena, acusado de ser um insubmisso rebelde que estava intermediando objetos roubados em Lucca, na Itália. Arturo Scatena esclareceu que o filho foi para a Itália para realizar tratamento de saúde quando seu nome já estava incluso no alistamento militar e que quando foi sorteado para convocação, se apresentou na embaixada brasileira com sede na Itália, sendo julgado incapaz para o serviço militar, por motivo de saúde. Ainda sobre a família Scatena, na edição do dia 15 de janeiro de 1922, a Gazeta de Batataes publicou nota sobre o nascimento de “mais um robusto menino que receberá o nome de Paulo”. Destacamos aqui que apesar do filho Jayme ter sido dispensado do serviço militar, o outro filho, Paulo, no futuro, seguirá carreira militar e quis o destino que estivesse defendendo o Brasil na II Guerra Mundial. Por fim, no mês de janeiro ocorreu o casamento de Elza Scatena (filha de Arthur Scatena) com o comerciante Gustavo Simioni.
Na primeira sessão ordinária da Câmara Municipal, ocorrida nos dias 10 e 11 de janeiro, a eleição da presidência da Casa ficou assim definida: Guilherme Tambellini – presidente, José Procópio Meirelles – vice-presidente, Coronel Manoel Victor Nogueira – prefeito, José Ordine – vice-prefeito; primeira comissão formada por José Paulino da Costa, Gabriel Martisnde Oliveira e João Cândido Alves Filho; segunda comissão formada por José Ordine, Joaquim Arantes e Joaquim Diniz Junqueira. A presente sessão contou com a presença do aviador tenente do exército italiano, João Robba, que chegou à cidade pilotando seu aeroplano ‘Condron’ de 120 HP.
O aviador Robba realizou vários voos em finais de semana do mês de janeiro, alguns deles com manobras ousadas, conduzindo passageiros da cidade e com grande participação de público no campo de aviação, onde atualmente está construída a Vila Vicentina, tanto em Batatais quanto em outras cidades da região.
Em 12 de fevereiro a Gazeta de Batataes publicou oficio do Coronel Ovídio Tristão de Lima em nome do diretório político de Batatais para o presidente do Estado, o Dr. Altino Arantes:
“O directorio de Batataes não pode deixar passar em silencio a local de um diário dessa capital que taxa pittoresca e risível a affirmação de incondicional apoio á conducta de v.excia. relativamente às candidaturas presidenciaes, por parte dos que já se manifestaram. Não sendo praticável o manifestar daquelle gesto por todos os paulistas individualmente, fazem-no aquellas corporações como representantes autorisadas da vontade popular, no que não destoam dos povos mais cultos em idênticas conjecturas. E é com essa convicção que o direcctorio desta localidade também reaffirma inteira solidariedade à attitude de v. excia., prestigiando a candidatura de Bernardes-Urbano, cidadãos capazes de nortearem com felicidade os destinos do Brasil no proximo período presidencial.
Podemos perceber que o governador do Estado, o batataense Altino Arantes tinha grande apoio político em Batatais e a tradição política da cidade gerava críticas de setores adversários em São Paulo, capital.
Continuando o assunto político, no dia 1° de março ocorreu eleição para presidente e vice no país. Em Batatais o candidato a presidente Arthur Bernardes e o candidato a vice-presidente Urbano Santos Costa Araújo receberam cada um 403 votos. Nesta época votavam apenas homens maiores de 21 anos que não fossem analfabetos, militares ou religiosos. Os votos não eram secretos e as alianças entre os partidos PRP (Partido Republicano Paulista) e PRM (Partido Republicano Mineiro) mantinham os interesses da política ‘café com leite’ com grande influência dos coronéis.
Ao todo eram 60 candidatos para presidente e 133 candidatos a vice. Nenhum voto foi dado aos candidatos da chamada reação republicana, ou seja, em Batatais 100% dos eleitores votaram nos candidatos pela situação, conforme podemos constatar na nota ‘Ao Eleitorado’ publicada na Gazeta de Batataes.