Mais um ano se passou… e nossa coluna continua centenária! Chegamos aos transformadores anos 20! Além disso, A “Gazeta de Batataes”, base de nossas referências, comemorou em janeiro de 1920, doze anos de sua existência.
Assim, como todo ano que começa, as previsões são esperadas por muitos. Dessa forma, o periódico local anunciou as adivinhações para o futuro próximo dadas pela cartomante millady Nininha, que dentre várias previsões mais generalizadas, uma nos chamou a atenção: “– Ouçam! A Allemanha ainda será o terror da Europa, porque se erguerá apoiada pela Rússia!” Não é que a coisa caminhou por aí mesmo durante um tempo?
Batatais, na década de 20, sempre em busca do moderno, passou por inúmeras transformações físicas e estéticas urbana, entre elas o calçamento dos passeios e ruas centrais, a remodelação e o ajardinamento das praças públicas, investimentos em relação à iluminação pública, a construção e reformas de coretos nas praças Major João de Andrade e Cônego Joaquim Alves, a construção da Câmara Municipal de Batatais, a construção de espaços de lazer e cultura, como o Cine Teatro Santa Helena, a construção de várias residências palacetes, como a da família José Ordine, a da família Scatena, a da família do Major Antônio Cândido Alves Pereira e tantas outras, bem como fábricas manufatureiras, como a Fábrica de Tecidos, a de Botões, a de Papelão e a de Chapéus.
Com a entrada de um novo ano, o jornal voltou a publicar o que chamava de Indicador da cidade, que apontava o nome das autoridades e até mesmo o endereço das mesmas e das instituições que pudessem interessar ao público, como: Juiz de Direito, Dr. Bazileu Soares Muniz; Promotor Público, Dr. Álvaro Barbosa; Delegado de Polícia, Dr. Ernesto J. de Magalhães; Tabelião do Cartório do 1º Ofício, Ovídio Tristão de Lima; Tabelião do Cartório do 2º Ofício, Antônio Chateaubriand Joly; Escrivão do Cartório do Júri e Hipotecas, Juvenal Lima; Escrivão do Cartório de Paz e Registro Civil, Feliciano de Almeida Bueno; 1º Juiz de Paz, Francisco Moreira; 2º Juiz de Paz, José de Andrade Diniz Junqueira; Coletor Federal, José Ferreira da Silva; Coletor Estadual, Coronel Manoel Gustavino Junqueira; Coletor Municipal, Bertholino Tambellini; Diretor do Grupo Escolar, Romano Barreto.
Sobre o cargo de coletor federal, o mesmo foi restabelecido pelo Decreto n. 4.059, de 1901, que se refere à Lei n. 746, de 29/12/1900. De acordo com o site da Receita Federal, os servidores das coletorias não eram considerados funcionários públicos, não tendo direito a aposentadoria e a outras vantagens. Os cargos eram de livres provimentos, mas, na maioria dos casos, as coletorias eram objeto de comércio, podendo ser alienadas, sendo o adquirente nomeado para suceder ao alienante, embora isso nunca fosse admitido oficialmente.
Decreto nº 4.059, de 25 de Junho de 1901 indicava as incumbências de arrecadação das coletorias federais à época:
Art. 4º A receita que incumbe às Collectorias Federaes arrecadar é a que devem produzir os seguintes impostos, rendas e contribuições, cujos regulamentos vão annexos; a saber:
a) renda da Imprensa Nacional e do Diario Official;
b) dita dos proprios nacionaes;
c) imposto do sello proporcional e fixo;
d) dito de transporte;
e) dito sobre vencimentos e subsidios;
f) dito de transmissão de apolices federaes e de embarcações;
g) foros dos terrenos de marinhas e laudemios;
h) depositos de diversas origens, extra-judiciaes, inclusive os provenientes de dinheiros de orphãos, bens de defuntos e ausentes, vagos e do evento;
i) imposto de 2 1/2 % sobre dividendos das companhias e sociedades anonymas;
j) cartazes;
k) impostos de consumo: do fumo, bebidas, phosphoros, calçado, perfumarias, especialidades pharmaceuticas, conservas, vinagre, sal, velas, cartas de jogar, chapéos, bengalas, tecidos;
l) multas por infracção de leis e regulamentos;
m) divida activa proveniente de impostos e multas não pagos em exercicios anteriores;
n) venda de estampilhas do sello proporcional e fixo, e para taxa judiciaria;
o) quaesquer outras imposições ou rendas que de futuro forem creadas.
Ainda na coluna Indicador da cidade, indicavam outros locais como a Câmara, a Cadeia e o Fórum, a Agência de Correios com o endereço. Chegavam a anunciar os horários das linhas férreas da Cia Mogiana e mesmo os horários de transporte coletivo rodoviário de Batatais a Altinópolis e vice-versa.
A Câmara Municipal de Batatais (CMB) estava em transição em janeiro de 1920, a população teria novos vereadores e prefeito empossados, como assim ficou: para presidente da CMB, o Dr. Frederico Marques; para vice, o Dr. Guilherme Tambellini; para prefeito, o Coronel Manoel Victor Nogueira; para vice, José Ordine e demais vereadores, como o Coronel Gabriel de Andrade Junqueira (também à época deputado estadual), Gabriel Martins de Oliveira, João Cândido Alves Filho, José Paulino da Costa e José Procópio Meirelles.
Depois de composta a nova legislatura e executivo, o Dr. Frederico Marques, em nome de todos novos vereadores, os reempossados e ex-vereadores em unanimidade homenagearam o recém ex-prefeito, Major João de Andrade Junqueira, que depois de seis anos de gestão municipal passava o cargo para o Coronel Manoel Victor Nogueira.
Na homenagem ficou decidido que a Praça da Independência passaria a ser chamada de “Praça Major João de Andrade” (atual Praça Dr. Jorge Nazar) e segundo o proponente, essa atitude não “merecia censura, pois a cidade já possuía uma rua em homenagem à emancipação política do Brasil”, a Rua Sete de Setembro. O coreto foi inaugurado em setembro de 1925.
Durante o mês de janeiro, a Igreja Católica celebrou com festejos, terços e procissões suas homenagens ao mártir São Sebastião.
De acordo com o balanço cartório de registro civil local, no ano de 1919 foram realizados assentos de 162 casamentos; 761 nascimentos e 321 óbitos.
No lazer, o Circo Floriano e os espetáculos de hipnotismo do sr. Stevenson foram as atrações diferenciadas do mês e como de costume os cine teatros apresentaram filmes e aconteceram as retretas no Jardim Público.
Em se tratando de futebol, no mês de janeiro as partidas anunciadas foram as da recém criada associação esportiva Castelo Futebol Clube, as do Batatais Futebol Clube, as do Léo Team de Sarandy (atual Jurucê) e as do também recém criado Brodoswki Futebol Clube. Em prol do Castelo Futebol Clube foi realizado no antigo Teatro São Carlos um espetáculo beneficente, com direito a discurso do Dr. José Arantes Junqueira sobre a mulher e show de hipnotismo com o sr. Stevenson.
Em janeiro, começaram a ser anunciadas as vagas para matrículas para os estudos pelas escolas locais: Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, Externato e Internato Soares, Colégio Diocesano São José, Colégio Cabral e Grupo Escolar “Dr. Washington Luis”, além das escolas isoladas municipais urbanas e rurais.
Alguns dos poucos prazeres vivenciados na Europa pelos soldados norte-americanos se tornaram moda nos Estados Unidos com o fim da 1ª Grande Guerra (1914-1918), a começar pelo surgimento das cafeterias ou cafés, principalmente os à moda brasileira, feitos e servidos no coador e na canequinha. A “Gazeta de Batataes” noticiou que a família Roosevelt teria criado em Nova York uma casa de café do jeitinho brasileiro, chamada Café Paulista e tinha a intenção de criar uma série delas pelas principais cidades estadunidenses.
Falando ainda em café, o músico Protásio Thomaz de Carvalho, residente em Batatais, compôs uma valsa para piano também de nome Café Paulista e a tipografia do jornal a vendia. O maestro Protásio foi inclusive compositor da melodia do Hino em homenagem ao Batatais Futebol Clube, feita no final de 1919 e oficializada em 1921. A letra não oficial foi composta em 1920, pelo Prof. Romano Barreto e o Dr. Colombo Mascagni e cantada até a década de 80. Porém, o B.F.C. só viria a ter uma letra oficial para a melodia já existente, após concurso realizado em julho de 1980 no qual foi vencedor o jornalista Pedro Lázaro Teixeira.
Hino do Batatais Futebol Clube
(Protásio Thomaz de Carvalho/ Pedro Lázaro Teixeira)
Salve time grandioso
Ideal de lealdade,
Seu passado majestoso
É o orgulho da cidade.
Da nobreza é partidário,
Humildade é sua glória,
Honra sempre o adversário
Na derrota ou na vitória
As estrelas são as divisas
Baldochi, Zeca Lopes, Batatais
Bem marcadas em lindas camisas
Que o povo não esquece nunca mais
Torcedor, nunca deixe esse time
O Fantasma da Mogiana
Vá ao estádio e torça e anime
Com amor, muita fé e muita gana
Batatais da vitória necessita
Em jogo de grande decisão:
Nosso povo sempre acredita
No triunfo com muita vibração.
Quando a malha da rede se balança,
Bate forte nosso coração
Todos gritam: é gol, que lindo gol!
Batatais é campeão