CORSO, BAILE & FOLIA – BACALHAU & CRISE
(GAZETA DE BATATAES, 22/02/1920)
Já que estamos a rever episódios de fevereiro de 1920 e a pergunta que fica é: Celebrávamos o carnaval nesta época com festa? A resposta é SIM… Como indica o título da reportagem da Gazeta de Batataes, comemorávamos a festa do Momo com “Corso, Baile & Folia” e que depois as pessoas pensariam no “Bacalhau & Crise”, ou seja, na quaresma e na crise econômica da época. Texto digno de reprodução…
“Momo, o deus da alegria e da troça, teve em nossa cidade, brilhante consagração. Os divertimentos decorreram animadíssimos. Além de tudo, devemos notar que o tempo, dias antes chuvoso e carrancudo, conservou-se, porém, sereno e límpido durante a passagem dos festejos carnavalescos, facto que, digamos, muito concorreu para o realce de tudo quanto se viu e admirou ao domingo, segunda e terça-feira.
Sabbado, á noitinha, desembarcaram na cidade diversos fantaziados constituídos em banda de musica, cujas marchas retumbantes e … modernas, anunciavam o próximo reinado de Momo. Nesse dia, choveu um poucochinho: em nada, porém, esse contratempo prejudicou o inicio dos folguedos: a banda percorreu assim mesmo as principaes ruas da cidade levando a todos agradável pronuncio do advento da alegria e da pandenga.
Folguedo ruidoso e encantador o de domingo, desde a tarde até alta hora da noite. Registremos aqui, em primeiro logar, o corso da praça Cônego Joaquim Alves. Foi uma verdadeira glorificação ao riso e á alegria. Numerosos automóveis e carros de praça, artisticamente ornamentados, percorriam os quatro lados da bella praça, transportanto lindas e elegantíssimas moças e grupos de rapazes, todos fantasiados num vai-vem continuo e movimentado. Batalhas de lança-perfumes e serpentinas feriam-se aqui e ali, ora suaves, ora violentas, mas sempre deliciosas.
Após o corso, os mesmos foliões metteram-se nos bailes que se realizaram no São Carlos Theatro e na Sociedade Italiana, onde, cordiaes e estroinas, continuaram o seu divertimento, avançando até alta madrugada nesse doce desapego pelas torturas da vida.
Segunda-feira foi um dia magro: apenas o aparecimento de alguns espirituosos fantaziados … e nada mais.
Terça-feira … que dia gordo e barulhento! Três, quatro, cinco vezes mais do que domingo! Mundos abaixo! que a terra desapareça! mas viva a folia, a gargalhada estridente, e vivam também todos os prazeres da loucura … (trecho rasgado).
O mesmo programma de domingo, mas com outro furor, com outro enthusiasmo, com outra animação. Corso, bailes, batalhas, risos, galhofas – tudo com cento por cento de augmento!
E bastam estas linhas para dizer, embora resumidamente do carnaval que atravessámos.
Á comissão promovente dos festejos e do corso, todos os louvores, pois ella, não ôbstante o pouco tempo que teve para o preparativo dos folguedos, operou um verdadeiro tour de force.
Agora, caro leitor, compremos e … entremos no bacalhau. Eis o regimem da actualidade. A loucura dos três grandes dias nos deu agua pelo nariz! … E a crise? … Ora, com os diabos, não falemos em coisas tristes!
__ Até 1921, Momo de uma figa!”
Ainda falando em lazer em nossa cidade, o Riachuelo Futebol Clube recebeu em seu campo para um amistoso, o time do Palestra Itália, de Franca. Não temos notícia do placar final. Sobre o Batatais Futebol Clube foi noticiado que as obras de construção do campo de futebol estavam ao final: o campo teria sido nivelado para colocação da grama e o próximo passo seria a colocação das arquibancadas.
Há 100 anos, o governo federal, presidido por Epitácio Pessoa, alterou a grafia de BRAZIL com Z para BRASIL com S. Cá entre nós, algumas pessoas ainda desconhecem essa mudança!
Em fevereiro de 1920 tornou-se oficialmente Promotor Público de nossa Batatais, cargo nomeado pelo governo do Estado, o jovem batataense e advogado, o Dr. José Arantes Junqueira (no legislativo chegou a deputado estadual, no executivo foi prefeito de Batatais e era sobrinho de Altino Arantes), o cargo em questão, fora desocupado pelo jovem Dr. Álvaro Barbosa que àquela época assumiu a função de Juiz de Direito da antiga Villa Bella, atual Ilhabela, litoral norte do estado de SP.
O leitor sabia que o dia 24 de fevereiro era uma data cívica comemorativa? Mas do quê? Comemorava-se nacionalmente a proclamação da 1ª Constituição Brasileira com o hasteamento das bandeiras, fechamento das repartições públicas e ‘concerto’ da banda Euterpe na praça.
Na política estadual, as eleições para o quadriênio 1920-1924 para o governo do Estado de São Paulo foram marcadas para o dia 1º de março de 1920, onde o Partido Republicano Paulista (PRP), lançou os políticos Dr. Washington Luís e o Coronel Virgílio Rodrigues Alves para presidente e vice-presidente do Estado, respectivamente. As eleições locais eram realizadas no Grupo Escolar Dr. Washington Luís e as 3 sessões eram constituídas pelas letras crescentes do alfabeto.
Em relação aos costumes e valores da época, deparamo-nos com a leitura de uma nota no jornal que nos fez refletir, o quão pouco a sociedade caminhou neste assunto nos últimos 100 anos. Segue:
“Mulher sem pudor é um monstro sem sexo”, foram as palavras de um cronista do jornal ‘Imparcial’ do Rio de Janeiro em apoio a um manifesto cristão liderado pelo Cardeal Arcoverde do Rio de Janeiro às famílias cariocas pedindo ponderação das senhoras, moças e meninas em relação à mostra das pernas, braços e busto, considerados como exageros da moda na década de 20. Esses usos também indicavam a falta de moralidade cristã das mulheres ao vestirem saias e mangas mais curtas ou blusas decotadas para a época. O texto continua: “é dessa falta de descrição no vestir que precede a redução progressiva dos casamentos dessas mulheres!”
Ainda sobre as mulheres, o periódico anunciou que um dado médico “atribuía as moléstias femininas, como histerismo, espinhas no rosto e dores de cabeça o uso do salto alto!”
Quanto a economia, na safra de 1919, os maiores produtores agrícolas conforme a arrecadação local do Imposto Agrícola e Pastoril publicado na Gazeta de Batataes aparecem como sendo os senhores: Lázaro G. da Costa, Lázaro F. Martins, Firmino Fernandes Martins, Firmino Fernandes Martins Júnior, Antenor Umbelino Fernandes, José Umbelino Fernandes, Antônio Cândido Alves Pereira.
No início dos anos 20, conforme noticiado, calculava-se a existência de 40.000 japoneses, vivendo no Brasil como imigrantes, principalmente como colonos rurais. O primeiro grupo de nipônicos chegou ao Brasil em 1908 e segundo consta, em Batatais, a chegada inicial deu-se em maio de 1913 para as terras da fazenda do sr. Dr. Honório Olympio Machado. Conforme recenseamento de 1920, existiam 160 colonos japoneses radicados em Batatais.