Há 100 anos, foi notícia um fato ocorrido na cidade envolvendo um casal e violência doméstica. De acordo com o semanário, um morador local, de nome Theodoro José Pereira, 60 anos de idade, teria sonhado que sua esposa, Magdalena dos Santos César, com aproximadamente 57 anos de idade, o traía e com isso passou a torturá-la. A denúncia foi feita por um dos filhos do casal. Nos sonhos e devaneios do traído, o suposto ‘amante’ da esposa era um senhor de nome José Bernardes Correa Dedê, que morto estava há mais de 20 anos pelos idos de 1900.
A nota fúnebre do mês foi dada com a violenta morte de um renomado jovem de 21 anos de idade, natural de Batatais. O moço foi morto pelo proprietário de uma confeitaria, após discussão entre ambos na cidade de Araçatuba. O jovem assassinado foi Sebastião Ordine, filho do Capitão Cezário Ordine (falecido em 1914) e Sigismonda Garcia Ordine e tinha como irmãos mais velhos José Ordine (comerciante e vice-prefeito à época – casado com Maria Aparecida de Lima, filha do Coronel Ovídio Tristão de Lima e Adelaide de Azevedo Lima) e de Mariinha Ordine Junqueira (casada com Augusto Diniz Junqueira, filho do Major José de Andrade Junqueira) entre outros.
Com o título de Interessante, a Gazeta de Batataes, transcreveu uma nota: pesquisadores dos EUA estudavam a possibilidade de substituir gasolina por água! Se os cientistas tivessem conseguido essa proeza, o mundo, passado esses 100 anos, com certeza teria tomado outros rumos.
As notícias religiosas trataram do sucesso da quermesse e festa à Nossa Senhora da Conceição organizada pela União Pia das Filhas de Maria, tendo no ano como presidente e vice-presidente respectivamente, Maria José Nogueira e Henedina Alves. Conforme o jornal, a renda da ‘festa profana’/quermesse da comemoração religiosa foi com a intenção de adquirir um altar. No dia 13 de dezembro deu-se a celebração ao culto de Santa Luzia.
A aquisição do altar ocorreu em 1924, conforme noticia a Gazeta de Batataes: “acha-se exposto há dias no segundo pavimento da parte nova da nossa Igreja Matriz, o belo altar da irmandade religiosa Filhas de Maria, todo feito em cedro, estilo gótico. Esta obra de arte, foi produzida pelo sr. JOÃO JORGE CASANOVA, habilíssimo entalhador, residente em Ribeirão Preto.” (GB, 20/10/1924).
Para não confundirmos: em 1919 foi adquirido o altar-mor da Igreja Matriz e em 1924, o altar das Filhas de Maria. O altar-mor encontra-se atualmente na capela do Lar São Vicente de Paulo.
Um artigo parabenizava o professor e então diretor do grupo escolar Dr. Washington Luis. Antenor Romano Barreto, pelo mérito de ser nomeado como inspetor escolar da região de Ribeirão Preto.
Antenor Romano Barreto, nascido em São José dos Campos em 11/04/1891, era filho do casal Argino Alves da Costa Barreto e Maria José Romano de Oliveira. Teve irmãos após o segundo casamento da mãe. Seus primeiros estudos foram no Externato Monteiro e Ginásio do Estado de Ribeirão Preto.
Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP e em 1924 graduou-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da USP. Foi professor no instituto normalista de educação “Caetano de Campos” (1909-1912); no grupo escolar Dr. Washington Luís (1913-1920) na cidade de Batatais; em 1917 tornou-se diretor do grupo escolar da cidade de Brodowski.
Em 1914 ou seria 1916? casou-se com Aureli(n)a Pinto Pestana, procedente de Pindamonhangaba. Não tiveram filhos. Morreu na cidade natal de sua esposa em 20/02/1982. Sabemos da autoria do livro ‘Dois Versos’, por volta de 1914, mas é certo que tenha publicado mais poemas. Participou ativamente da vida social de Batatais na década de 10: ajudou a fundar e exerceu diversos cargos no Grêmio Santa Cecília, no Grêmio 21 de Abril, no Grêmio 14 de Março e no Riachuelo Futebol Clube.
De 1921 a 193, foi Delegado Regional de Ensino em Ribeirão Preto, onde lecionou Português e Pedagogia no grupo escolar e na escola normalista. Envolveu-se em diversos projetos de educação, em especial o de extinção do analfabetismo do Dr. Sampaio Dória. Foi membro do Rotary Club de Ribeirão Preto e diretor dos jornais ‘Diário da Manhã’ e ‘Diário D´Oeste”.
A partir de 1932 mudou-se para São Paulo onde deu aula em diversos colégios e escolas de São Paulo. Em 1935, foi convidado para compor a comissão que iria fazer a revisão da literatura didática nos cursos primários da diretoria de ensino de São Paulo.
Fundou em 1939, junto com o antropólogo e sociólogo alemão Emílio Willems, a Revista de Sociologia de cunho didático e científico, a primeira e por muito tempo única revista especializada na disciplina e em 1940, junto com o mesmo parceiro, publicou o ‘Leituras Sociológicas’, que consistia numa coletânea de textos sociológicos que apoiava o ensino e a pesquisa em ciências sociais no Brasil. Pertenceu a Academia Pindamonhangabense de Letras desde a sua fundação em 1962.
Na década de 70, ainda ativo, fazia parte da comissão de redação da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de São Paulo. Debateu e defendeu em diversos momentos a importância do ensino rural, o ensino de história mais crítico e a educação profissionalizante.
(se quiser conhecer um pouco mais deste professor e livre pensador, busque no endereço eletrônico: http://www.jornalolince.com.br/2014/set/panopticum/5906-vale-paraibanos-no-dicionario-de-escritores-paulistas).
Nas edições anteriores, não foi possível publicar alguns trechos do que rememoramos durante o ano de 1920. Abaixo algumas dessas notas.
Em agosto de 1920, a Linha de Tiro 26 foi notícia na Gazeta de Batataes ao apresentar os nomes dos dois únicos reservistas que passaram na avaliação e, portanto, teriam a carteira de reservista e ficariam, assim, isentos do sorteio militar. Foram João Pimenta Neves e Augusto Simioni.
Por falar em Linhas de Tiro, como eram denominados antigamente o serviço militar, em Batatais, temos uma história centenária, entre aberturas e desligamentos. Segundo consta a primeira formação do Tiro 26 deu-se em 1908 e foi inaugurada em maio de 1909. O primeiro prédio ficava próximo ao Mercado Municipal e foi construído pelo italiano João Rosada (pai do também construtor Guilherme Rosada) em meados de fevereiro de 1909. Não sabemos quanto tempo durou. Quando o prédio da Cadeia, Fórum e Quartel foi para a Praça Barão do Rio Branco, em 1917, a Linha de Tiro volta a funcionar graças ao movimento nacional que solicita o retorno dessas atividades cívico-militares.
“A nossa Linha de Tiro vae ser de novo entre as funções de outrora’ – ‘os srs. Colombo Mascagni e José Marques de Souza vão tomar a iniciativa de estabelecer, outra vez, nesta cidade, os exercícios militares que em outro tempo se faziam em a nossa magnífica e bem construída Linha de Tiro, situada nas immediações do extincto Posto Zootechnico (…)” (GB, 12/03/16). Seu primeiro instrutor foi o sargento Rodolpho Nogueira, em seguida, tomou posse o sargento João Martins, que esteve por mais tempo na função de instrutor. Sabemos que a Linha de Tiro teve outras sedes e que durante a 2ª Guerra Mundial esteve fechada. Em 1946 voltou a funcionar como Tiro de Guerra 122 e atualmente é o Tiro de Guerra 02-047. O atual espaço ocupado pelo Tiro de Guerra foi construído durante a administração de José Olimpio da Freiria (1964 a 1969, sendo o último ano prorrogação de mandato).
Em julho de 1920, foi noticiada a venda da famosa Fazenda Amália, de um dos membros da conhecida família Dumont, Henrique Santos Dumont. Henrique Santos Dumont era filho primogênito do Rei do Café, Henrique Dumont e um dos irmãos do famoso ‘pai da aviação’, Alberto Santos Dumont. O espírito empreendedor e visionário pelo jeito era familiar.
Henrique Santos Dumont, no início do século XX, percebeu que a cultura da cana de açúcar poderia ser promissora para a região da Alta Mogiana. Tornou-se então proprietário da Fazenda Amália (nome dado em homenagem a esposa) e foi englobando diversas fazendas em seu entorno, situada às margens do Rio Pardo, no atual município de Santa Rosa do Viterbo, próximo à vizinha cidade de Ribeirão Preto. A Fazenda Amália tornou-se um latifúndio misto que no início plantava café e pioneiramente começou a plantar cana de açúcar para fabricação de aguardente, açúcar e álcool, rendendo bons negócios para nossa região desde essa época.
Com a morte de seu proprietário Henrique Santos Dumont aos 62 anos em 1919, a viúva D. Amália e suas herdeiras venderam o complexo agromanufatureiro em que se tornaram aquelas terras a um grupo de empresários. Os compradores foram um grupo de amigos de Henrique Santos Dumont que formaram a Sociedade Agrícola Fazenda Amália, composta pelas Companhia Schmidt (Francisco Schmidt), Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo (Conde Francesco Matarazzo) e Companhia Mechanica (Comendador Alexandre Siciliano), se tornando cada vez maior e competitiva.
Para o ano de 1920, a safra de cana de açúcar da fazenda foi em torno de 70.000 sacas retiradas dos 11 mil hectares de terras utilizadas para plantio e usinagem da cana. A fazenda era mais do que um negócio açucareiro, era um complexo fabril e produtor variado. Possuía usina hidroelétrica para gerar a própria energia na fabricação de produtos relacionados e outros diversificados, como ácido cítrico, éter sulfúrico, papelão, sabonete, extrato de tomate, amido, doces, conservas etc.
Em poucos anos, a Sociedade Agrícola Fazenda Amália tornou-se propriedade agroindustrial apenas da família Matarazzo, que além da usina, pontes móveis, fábricas, estações, ramais ferroviários, armazéns, farmácias, entre outras benfeitorias, também construiu na sede da fazenda: hospital, igreja, escola, estádio de futebol, cinema e um belíssimo palacete (parcialmente conservado). Tornou-se um dos maiores pólos econômicos da região.
Porém, engana-se quem imagina que a vida dos colonos e depois bóias frias tenha sido tão vantajosa assim. Segundo estudos realizados, o regime de trabalho dos trabalhadores rurais pode ser comparado ao de semi servidão.