Olá caros leitores e leitoras, vamos começar as notícias dadas há 100 anos com o que ainda hoje ronda de temores alguns lares: as doenças, ou melhor, a aceitação da prevenção das doenças infectocontagiosas por meio da vacinação. Em agosto de 1920, a mínima possibilidade do surgimento de um novo surto epidêmico de varíola causava insegurança e medo nas autoridades sanitárias e na população. A confirmação de dois casos de varíola imigrados de outra cidade, apesar de não causar alarde na população, gerou uma frente de combate imediata por parte das autoridades sanitárias municipais e regionais, com medidas profiláticas, como desinfecção, criação de local de isolamento, solicitação ao governo estadual de vacinas e amparo aos pobres e indigentes. Aonde as pessoas iam para ser vacinadas e revacinadas? Nas farmácias, sem custo para o cidadão. Logo na primeira semana de agosto, 2.500 pessoas já haviam sido vacinadas. Ao final de agosto, os dois casos já não estavam resolvidos e não ofereciam riscos de transmissão a outras pessoas.
VARÍOLA – A varíola, popularmente conhecida como ‘bexiga’ não tem cura, apenas prevenção por meio de vacinação, paralisada em 1977 e pequenos tratamentos paliativos. A varíola é uma doença infectocontagiosa considerada erradicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde os anos 80, após a realização de uma campanha de vacinação maciça, que envolveu o mundo inteiro. […] Os sintomas iniciais da varíola são bastante similares ao de uma gripe e incluem, por exemplo, febre, dor de cabeça, mal-estar e dores musculares. Depois, o vírus se espalha pelo corpo por meio do sistema linfático e surgem manchas avermelhadas por toda parte. Essas manchas evoluem para pústulas e bolhas repletas de líquido por todo o corpo, inclusive em locais como a mucosa nasal e a mucosa da boca. (Rede Dor São Luiz)
Outra notícia reproduzida pelo jornal apresentava a cura da lepra por cientistas da Universidade do Havaí. A lepra é conhecida atualmente como hanseníase. A cura se daria com o uso sistemático do óleo da planta da ‘chalmugra’ (chaulmoogra), o que popularmente era utilizado há séculos. Infelizmente, mesmo sendo utilizado no tratamento da doença, mostrou-se ineficaz para a cura, sendo feito seu uso, muitas vezes, apenas como tratamento paliativo e segundo pesquisas, os pacientes apresentavam fortes efeitos colaterais.
O Brasil chegou a produzir, em grandes quantidades, o óleo e seus derivados para os principais centros de referência de saúde e fazer sua distribuição de forma gratuita para a população. Porém, a descoberta do tratamento e cura da hanseníase deu-se somente na década de 40, com o uso de medicação sintética, a base de sulfa e antibióticos. No entanto, o fim dos leprosários ou lazaretos – locais de isolamento total dos doentes – ocorreu apenas no final da década de 60. No entanto, o preconceito em relação à doença persiste até nos dias atuais.
HANSENÍASE – A doença atinge pele e nervos periféricos, principalmente os da face e extremidades, como braços e mãos; pernas e pés, podendo levar a sérias incapacidades físicas. O contágio acontece quando uma pessoa doente não tratada entra em contato direto com outra pessoa. A principal via de eliminação do bacilo, e a mais provável porta de entrada no organismo passível de ser infectado são as vias aéreas. Até a manifestação dos sintomas existe um longo período de incubação, que varia de 2 a 7 anos. A hanseníase pode atingir pessoas de todas as idades, de ambos os sexos. (Blog da Saúde, Ministério da Saúde)
Não existem estudos sobre nenhuma dessas doenças em nossa cidade. Porém, o que podemos afirmar é que Batatais possuiu um lazareto, local com certa distância da área central, longe de estradas, para onde eram levadas e isoladas as pessoas com doenças altamente contagiosas, na maioria das vezes pobres e indigentes. Encontramos na documentação avulsa da Câmara Municipal, em 1890, o relatório de uma comissão de vereadores encarregados de encontrar um local para construção do lazareto nos arredores da cidade, escolheram o ‘Potreiro’. No entanto, levantamos que o lazareto ficava próximo atual cemitério municipal e pelo que nos consta, poucos eram os que tinham ‘coragem’ para enfrentar os perigos de contágio e ter contato com a miserabilidade humana.
Ainda assim, não sabemos com exatidão, quando o lazareto local foi construído e depois fechado, porém temos notícia de seu funcionamento já no ano de 1897, conforme documentação avulsa da Câmara Municipal. O relatório manuscrito do intendente municipal à época, Dr. Washington Luís, com informações e dados de sua administração anual, traz dentre elas, as condições dos prédios de propriedade do município, sendo um deles o lazareto.
Em 1920, o lazareto não mais existia, e os doentes, quando surgiam, eram levados para um posto de isolamento, que nos leva a crer ser o antigo prédio do Posto Zootécnico ‘Dr. Altino Arantes’ – fundado em 1912 – nas imediações da atual delegacia de polícia civil de Batatais.
Em 1911, o lazareto local funcionava conforme se observa abaixo nos documentos lançados pelo coletoria municipal, em nome de seu coletor Antônio Jachinto Lopes de Oliveira:
O jornal Gazeta de Batataes do mês de agosto de 1920 tratou ainda de outro assunto na área de saúde pública, o tabagismo. Na década de 20, surgiram os primeiros estudos científicos sobre “os efeitos nocivos do tabaco se usados por crianças entre 06 e 16 anos”. Esses estudos geraram as primeiras medidas restritivas quanto ao seu uso recreativo, como no Japão, na Noruega e parte dos Estados Unidos, que por força de lei passaram a proibir a comercialização e uso do produto por menores de 16 anos. Vale ressaltar que em países como a China e a Turquia, desde o século XVII, quem fosse pego fumando era decapitado ou tinha a pena de morte decretada. Devemos nos lembrar que a idéia de infância é recente. A criança era vista e tratada como um pequeno adulto. Então, fumar não era visto como incorreto.
Há muito se observa que nossas praças e jardins mais centrais são marcados por diversos estilos e épocas diferentes. Novidade para nós foi saber quando os postes de ferro com duas lâmpadas foram instalados nesses jardins.
Pois bem, em agosto de 1920 a Gazeta de Batataes noticiou a colocação dos mesmos a fim de garantir maior iluminação e segurança à população.
Em se tratando de jardim, os coretos com suas bandas são referências para muitos moradores que passeavam pelos jardins aos finais de semana. No mês em questão, foi noticiado que a corporação musical ou banda ‘Santa Cecília’, sob a direção na época de Astolpho José de Faria, era uma das que se apresentava nos coretos e nos teatrinhos da cidade. É Certo que pelo menos desde 1906 a banda já atuava na cidade. A corporação, segundo nota, teria adquirido prédio próprio para sua sede à Rua 13 de Maio. A maioria das bandas, orquestras, conservatórios, irmandades, clubes rendem homenagens a Santa Cecília, pois ela é considerada padroeira dos músicos.
O Recenseamento Escolar ocorrido em 1920 – citado em edições anteriores – sob a direção do capitão Francisco Moreira e realizado pelos próprios professores municipais e do governo estadual, apresentou alguns resultados esperados para a época: a quase totalidade das crianças da área rural era analfabeta. Informação essa, esperada, pois é sabido que embora o contrato com o fazendeiro fosse apenas no nome do chefe da família, todos os demais membros acabavam exercendo alguma função laboral. Do total de crianças da área urbana, 951, pouco mais de 350 crianças freqüentavam a escola. Vale indicar que o índice de analfabetismo é alto, mesmo contanto com a cidade. O total de crianças analfabetas, segundo o recenseamento realizado em 1920 chega a 86%.
Falando em Recenseamento, o Federal estimou, antes de ter concluído todo o censo demográfico, que o território brasileiro possuía em torno de 26 milhões de habitantes.
Para fechar o mês de agosto de 100 anos atrás de forma mais leve, falemos do futebol da cidade, que à época andava bem movimentado. As associações da cidade, como Batatais Futebol Clube, o Riachuelo Futebol Clube e o Macaúbas Futebol Clube receberam visitantes de Ribeirão Preto, o Palestra Itália; de Franca, o União Team; de Orlândia, o Atlético Esporte Clube; de Uberaba (MG), o Uberaba Esporte Clube.