FELIZ ANO VELHO!
Chegamos a um novo ano fazendo um balanço de cem anos atrás, com os principais acontecimentos registrados nos jornais de Batatais entre os meses de outubro a dezembro de 1922. Durante este ano, encontramos vários artigos da batataense Diva Nolf Nazário (Regina Cecília Maria Diva Nolf Nazário, 1897 – 1966), que à época era acadêmica do 1º ano da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em São Paulo, integrante da Liga Paulista pelo Sufrágio Feminino e escrevia artigos em jornais paulistas; textos estes que eram reproduzidos na Gazeta de Batataes.
Em seus artigos, Diva narrava aos seus conterrâneos e conterrâneas detalhes de seu pedido de inscrição na lista de eleitores da capital de São Paulo, oferecendo aos distintos leitores e leitoras, alguns relatos que estavam sendo propagados em vários jornais sobre o referido caso. A batataense ressaltava que, sabendo que seus textos seriam lidos em Batatais, escrevia com tanto mais prazer, pois “sendo o meu torrão natal, assim, em communicação directa com as minhas estimadas conterraneas, irei mitigando um pouco as saudades que, a todos nós, traz a doce lembrança do recanto sempre encantador, onde vimos a luz e onde experimentamos os nossos primeiros passos.” (GAZETA DE BATATAES, 08/10/1922)
Assim como Diva, outra mulher que manifestou saudades de Batatais – “cidade do socego, da tranquilidade e da paz” – foi Silvia de Avida Leme, ex-professora do grupo escolar, colaboradora da Gazeta de Batataes e hábil farmacêutica, que estava de mudança para Ribeirão Preto. Segue abaixo sua despedida publicada na primeira página.
Continuando a falar das mulheres, durante todo o mês de outubro, tradicionalmente consagrado ao Santo Rosário, a Gazeta de Batataes trazia semanalmente o nome das festeiras do Santo Rosário, que aqui transcrevemos em ordem alfabética, numa clara tentativa de deixar registrado os raros momentos em que os nomes das mulheres eram publicados nos jornais da cidade: Adelaide de Azevedo Lima, Adelaide Moraes Tambellini, Adorama de Macedo Alves, Albertina Barros Andrade, Albertina da Silva Aleixo, Alcina Paschoal A. Pereira, Alice dos Santos Coelho, Amália Garcia Arantes, Amasilia Mendes de Campos, Ambrosina Biagi, Amélia Sebastiani, América Rosa da Conceição, Ana Borges Orsolini, Anna de Mello, Anna do Carmo de Jesus, Anna Nogueira de Carvalho, Anna Pedrosa Tambellini, Anna Raymunda de Jesus, Annunciata Severini, Antonietta Cardoso Borges, Augusta Biagini de Paiva, Augusta Scatena, Aurora Maria da Silva, Basílica Biava, Bazilia Hortencia Rosa, Bellarmina Pereira de Oliveira, Cândida de Andrade Borges, Cândida Ferraz Alves, Carlota Carolina da Conceição, Carmen Garcia Vieira, Carminha Aguiar Moreira, Catharina de Oliveira Lellis, Cecilia Lazzarini, Cesira Maestrello Ferrari, Chrystodohnda Cavaglieri, Clarinda de Mello, Conceição Borges Nunes, Cynthia Vianna de Almeida, Dalila Martins da Silveira, Elisa Grellet Cardoso, Elisa Pedrosa dos Reis, Elsa Scatena Simioni, Elvira Braga Porto, Ernestina Braga, Ernestina Fuggazola Andrade, Esmeraldina Emília do Prado, Etelvina de Assis, Etelvina de Oliveira e Silva, Euphrosina Ribeiro, Fidelcina Vieira, Floripes Vieira de Andrade, Francisca Garcia de Barros, Gabriela Osoria Rezende, Gabriella Andrade Lima, Gabriella Pimenta Marques, Genoveva Geracina de Araújo, Georgina Monteiro, Guaraciaba Vianna Gomes, Hercília Palma Barros, Ignacia de Andrade Junqueira, Ignacia Nogueira de Oliveira, Irene de Freitas Andrade, Izaura Cursini, Izaura Meirelles, J. Rosa Ferrari Galeotti, Jeronyma Luciana de Almeida, Jesuína de Paula Borges, Jesuína Paschoal, Joanna Honoria de Souza, Josepha Tertuliana da Conceição, Jovita Arantes Santiago, Júlia Lopes Oliveira, Julieta C. Alves Ferreira, Laura de Jesus, Laura Junqueira Leal, Laura Pacca Ceribelli, Laureanna Villas-Boas Cardoso, Leôncia Carvalho de Figueiredo, Leonor Villas Boas Lellis, Lívia Gerardini, Lucília Junqueira Nogueira, Luiza Carolina de Toledo, Luiza Villas-Boas Lellis, Luzia Cursini, Luzia Siqueira, Lydia Davina, Marcolina Rosa de Jesus, Margarida Borges Ramos, Maria Amélia Lima Monteiro, Maria Apparecida Lima Ordine, Maria Augusta Machado Tambellini, Maria Augusta Nogueira, Maria Augusta Pedrosa Machado, Maria Bernardette Cinalli, Maria Bertholina do Rosário, Maria C. Toledo Arantes, Maria Cândida Braga, Maria Cardoso Braga, Maria Catharina de Oliveira, Maria Cherubina Gomes, Maria Conceição Andrade Lima, Maria Corrêa, Maria da Luz Borges de Oliveira, Maria da Silva Moreira, Maria das Dores Lima,Maria de Assis Morato, Maria de Paula, Maria de Souza e Silva, Maria do Carmo Andrade Arantes, Maria Garcia Barros Oliveira, Maria José de Jesus, Maria José Lellis de Lima, Maria José Marques Rosa,Maria José Nogueira, Maria José, Maria Justina da Silva, Maria Libaina de Faria, Maria Luiza Garcia, Maria Orsolini, Maria Pesenti, Maria Pia de Castro, Maria Pimenta Marques, Maria Pimenta Tondella, Maria Rezende Carneiro Leão, Maria Rita Cabral, Maria Rita do Carmo, Maria Santinha Ferreira, Maria Theodora Pereira, Maria Theolina de Andrade, Maria Umbellina de Carvalho, Maria Villas Boas Correa, Maria Zenaide Arantes, Marianna Alves Borges, Marianna Carvalho Diniz, Marianna Constança Andrade, Marianna Dias Nunes, Marianna Milliet, Marianna Villela, Marietta Aleixo, Marietta Dal Secco Morato, Marietta Martins, Máxima Garcia de Barros, Minervina Arantes Junqueira, Nancy Novaes Marques, Nenê Soares Muniz, Octavia Leite Menezes, Olímpia Alves Pereira, Olivia Franco Rosa, Olívia Menezes Caran, Othilia Cursini, Palmyra Pimenta Neves, Palmyra Viana Lima, Regina Cabral de Mello, Rita Barbosa, Rita Borges de Oliveira, Rita de Andrade Noronha, Rita Garcia Alves Ferreira, Rita Garcia de Macedo, Rosa Biagini, Rosa Pimenta Andrade, Sebastiana Nogueira de Oliveira, Sophia Villa-Nova, Sra. Pedro Bianco, Theodora Moreira Pinto, Thereza de Barros Corrêa, Thereza de Mello e Ubaldina Vieira Andrade.
As missas do Santo Rosário foram realizadas diariamente e mais de 160 mulheres foram festeiras das celebrações, que contou com a presença do Rvmo. Sr. Frei Reginaldo M. Tournier, missionário dominicano e sócio do Instituto Histórico e Geográfico, hospedado na casa do padre Joaquim Alves para pregar o retiro espiritual à Confraria do Santo Rosário.
Entre os meses de outubro a dezembro, as igrejas de Batatais também foram palco de muitos casamentos, pelo que pudemos constatar nos proclamas publicados. Segue abaixo a lista dos noivos, com idade e profissão:
– Antônio Alves dos Santos (21 anos, jornaleiro) e Angelina Carucce (22 anos, prendas domésticas),
– Antônio Garcia Ribeiro (24 anos, dentista) e Helena Ferreira da Rosa (20 anos, prendas domésticas),
– Arthur Ube (23 anos, oficial de barbeiro) e Olympia Carilli (22 anos, prendas domésticas),
– Augusto Perissoto (25 anos, jornaleiro) e Marianna da Conceição (18 anos, prendas domésticas),
– Avelino Ferreira (23 anos, jornaleiro) e Maria José Francisca de Jesus (19 anos, prendas domésticas),
– Henrique Manni (22 anos) e Izabel Trovo (17 anos, prendas domésticas),
– Gastone Soave (lavrador, 20 anos) e Carolina Theodora de Jesus (21 anos, prendas domésticas),
– Ibrahim Alves Teixeira (28 anos, lavrador) e Anna Barbieri (18 anos, prendas domésticas),
– Jacomo Campi (22 anos, comerciante) e Maria Esther Pereira (20 anos, prendas domésticas),
– Jácomo Gullo (20 anos, lavrador) e Antônia Dal Poggetto (19 anos, prendas domésticas),
– Jerônymo Emygdio da Silva (23 anos, lavrador) e Pureza Silveira (17 anos, prendas domésticas),
– João Degani (24 anos, pedreiro) e Angelina Tiziotto (19 anos, prendas domésticas),
– João Mantoanelli (20 anos, lavrador) e Luiza Violin (19 anos, prendas domésticas),
– João Pimenta Neves Junior (23 anos, negociante de café) e Apparecida Moreira (25 anos, professora normalista),
– João Zanetti (23 anos, lavrador) e Ângela Zéri (19 anos, prendas domésticas),
– Joaquim Alexandre Oliveira (23 anos, lavrador) e Maria Joaquina de Jesus (17 anos, prendas domésticas),
– José Sant’Anna de Souza Meirelles (24 anos, estudante) e Maria José Nogueira (22 anos, prendas domésticas),
– Juarez Pereira Vianna (22 anos, lavrador) e Aida Pereira Vianna (21 anos, prendas domésticas),
– Luiz Rigonatto (24 anos, lavrador) e Regina Marcato (22 anos, prendas domésticas),
– Manoel Alves Franco Vieira (34 anos, viúvo, carpinteiro) e Maria Venturoso (21 anos, prendas domésticas),
– Mario Bis (23 anos, lavrador) e Ermelinda Pátria (18 anos, prendas domésticas),
– Marun Manoel Acra (21 anos, guarda livros) e Francisca Lellis Vilas Boas (19 anos, prendas domésticas),
– Orlando Ferezin (22 anos, alfaiate) e Guiomar Decarlo (20 anos, prendas domésticas),
– Pedro Dionysio (19 anos) e Amália Cavana (21 anos),
– Pedro Mazzaron (22 anos, lavrador) e Alexandrina Januário de Medeiros (16 anos, prendas domésticas),
– Primo Horácio (23 anos, jornaleiro) e Amabile Secco (19 anos, prendas domésticas),
– Santiago Lopes Sanches (21 anos, lavrador) e Maria de Las Dolores Fernandes Segura (19 anos, prendas domésticas), ambos espanhóis,
– Santo Alburgheti (30 anos, lavrador) e Antônia Coradin (25 anos, prendas domésticas),
– Sebastião Antônio Caxias (24 anos, lavrador) e Maria Rita de Jesus (17 anos, prendas domésticas),
– Thales Duarte de Almeida (26 anos, juiz de direito) e Carlina Aurora Maria Gilardi (22 anos, prendas domésticas),
– Victorio Fantacini (20 anos, lavrador) e Albina Cracco (17 anos, prendas domésticas),
– Victorio Fasion (23 anos, barbeiro) e Leônia Alves Teixeira (21 anos, prendas domésticas),
– Vinol de Mello (23 anos, jornaleiro) e Sebastiana Martins (29 anos, prendas domésticas).
Notem, que dos 32 casais, apenas uma mulher, a professora normalista Aparecida Moreira, possuía profissão diferente da tradicional ‘prendas domésticas’, o que nos leva a outro trecho da feminista Diva Nolf Nazário nos semanários da Gazeta de Batataes, sobre as atividades destinadas às mulheres e o direito ao voto.
“Como vimos, é claro que, si as mulheres, entre nós, teem de se occupar unicamente do lar, nenhum outro affazer lhes deve ser permittido; a vida de toda a mulher brasileira limitar-se-ha, então, ao simples serviço de ama, cosinheira, lavadeira e engommadeira, o que, sendo regra geral, é um absurdo, uma incongruente anomalia. Devemos reconhecer que a mulher brasileira não se negue aos trabalhos domesticos e alem disso sempre se promptifica a auxiliar marido no ganhar o sustento do lar, em outros trabalhos onde possa achar remuneração ao seu labor e à sua actividade. E’, pois, justissimo que o homem achando na sua esposa e filhas, não meras criadas, mas, honestas e activas auxiliares, tambem lhes conceda maior egualdade pelo gozo, total dos direitos politicos, justa compensação à sua abnegação, para o seu indispensavel concurso moral na realisação do desenvolvimento da Patria.” (GAZETA DE BATATAES, 12/11/1922)
Ainda sobre os casamentos, a imprensa local divulgou projeto de lei do Congresso italiano sobre a proteção da mulher antes e depois do casamento, e a necessidade das autoridades municipais exigirem o certificado médico dos noivos, declarando o estado de saúde de ambos, antes de permitirem os proclamas de casamento; além de exigir a apresentação por parte do noivo, da apólice de seguro de vida a favor da noiva, por quantia proporcional a sua própria situação financeira. (GAZETA DE BATATAES, 10/12/1922)
Partindo para os assuntos políticos da cidade, seis novas leis municipais, apresentadas pelo prefeito Coronel Manoel Victor Nogueira, foram aprovadas pela Câmara Municipal. As novas leis eram de: alteração dos perímetros da cidade; elevação do imposto de viação; redução do imposto sobre veículo; autorização para a Companhia Melhoramentos de Batatais realizar benfeitorias na iluminação pública da cidade; transformação do lugar denominado ‘Capão’ em logradouro público; e permissão para queima de foguetes e morteiros dentro da cidade em festas patrióticas ou religiosas, apenas mediante alvará de licença expressa assinada pelo prefeito, ou seja, de acordo com esta última lei, não haveria foguetório na virada do ano em Batatais.
Destacamos para as leitoras e leitores a Lei Nº 400, de 10 de outubro de 1922, que regulamentava novo imposto de viação e dividia a cidade em quatro perímetros, sendo:
O perímetro central, ou primeiro é o contido entre as seguintes ruas, abrangendo as de um e outro lado: rua Sete de Setembro, com início na rua Coronel Joaquim Alves até a esquina da rua Carlos Gomes; esta até a praça Barão do Rio Branco, compreendida a parte alta desta praça até a rua Coronel Pereira; esta até a praça Conego Joaquim Alves; rua Capitão Andrade, dessa praça até a avenida dos Andradas: esta, desde esse ponto, até a praça Anita Garibaldi; rua Santos Dumont, desse ponto até a rua Celso Garcia; esta, descendo, até a rua Cel. Joaquim Alves, e esta entre as ruas Coronel Pereira e Duque de Caxias; rua Marechal Deodoro e praça João de Andrade.
O segundo perímetro compreende as seguintes ruas e praças: toda a parte da ruas Sete de Setembro e Doutor Furtado (esta inclusive), com início na rua Cel. Joaquim Alves até a rua Carlos Gomes e esta no trecho correspondente; praça 15 de Novembro; partes laterais e inferior da praça Barão do Rio Branco; trecho da rua Cel. Pereira entre essa praça e a rua Republica, e todo trecho da avenida dos Andradas entre essa rua e a Capitão Andrade; toda a parte da cidade que fica as avenidas dos Andradas e Frei Caneca (esta inclusive); rua Carlos Gomes, da praça Barão do Rio Branco até a avenida Frei Caneca; praça Anita Garibaldi; travessa Paissandu; rua Coronel Pereira, entre as ruas Santos Dumont e Cel. Joaquim Alves; esta, desde esse ponto, até a rua Senador Feijó; esta até o ponto onde cruza com a rua 25 de Março, e daí até a praça João de Andrade; ruas Aurora, 13 de Maio, José Garibaldi e Humaytá; praças Municipal e Santa Cruz; avenida Rebouças até a rua Anna Luiza; rua Germano Moreira até a rua Benjamin Constant. As ruas e praças descritas são abrangidas de ambos os lados.
O terceiro perímetro compreende as seguintes ruas: Republica e 21 de Abril e todos os trechos de ruas que ficam entre estas e a rua Carlos Gomes; trecho da Belo Horizonte entre a praça Barão do Rio Branco e avenida dos Andradas; rua 24 de Fevereiro e todos os trechos de ruas que ficam entre esta rua e a avenida Frei Caneca: rua General Osorio, entre a praça Annita Garibaldi e rua 24 de Fevereiro; rua Duque de Caxias até a travessa da rua do Jardim; esta e as ruas do Carmo, das Flores e Benjamin Constant. Todas as ruas descritas neste perímetro são abrangidas de ambos os lados.
Subúrbio é tudo quanto não foi mencionado nos três perímetros acima descritos.
De acordo com os dados retirados do novo perímetro de Batatais, é bem provável que este seja o mapa da cidade em 1922 e sua divisão perimetral deve ser algo aproximado ao representado a seguir:
Em 1922, quem morava nas imediações das ruas Rio Grande do Norte, Maranhão e Caixa d’Água no Bairro Riachuelo, ou nas proximidades das ruas Bom Jesus e Joaquim Nabuco, no Bairro do Castelo, morava no subúrbio da cidade. Pelo visto, o mais importante é que esta lei visava garantir a equidade da posse de terrenos no centro da cidade, sendo apoiada pela imprensa local.
“Os terrenos não edificados, no primeiro perimetro, quasi todos com face para ruas calçadas, vendem-se, mas por um preço que geralmente excede ao de um predio modesto que se queira construir. Quer dizer: esses terrenos tém valor, os seus proprietarios não os cedem por modica quantia, e o individuo, que os deseja adquirir para edificar casa, desiste do projecto, ou porque o seu recurso economico seja defficiente, ou porque veja no negocio um absurdo… exaggerado.” (GAZETA DE BATATAES, 15/10/1922)
Outra lei que chama atenção é a Lei nº 402, que autorizava o prefeito a conceder, por contrato o lugar denominado ‘Capão’, sito no prolongamento da rua Coronel Joaquim Alves, na condição única de ser transformado em logradouro público. De acordo com a Gazeta de Batataes,
“essa lei vem concretizar magnifica ideia. Mais um ponto de diversões e recreio teremos dentro de breve tempo. Imagine-se, ali, um arremedo, embora afastado, do Jardim da Aclimação, da capital, com represa de apreciável volume d’água, com o plantio de arvores frondosas, formando bela alameda, além de outros requisitos próprios desses parques?! Um logradouro público dessa natureza, em Batatais, resolve um passo que já se quis dar em outras administrações municipais. Relativamente à concessão do terreno para o parque, a prefeitura já entrou em combinação com algumas pessoas gradas da nossa cidade.” (GAZETA DE BATATAIS, 15/10/1922)
Tudo nos leva a crer, que este logradouro vem a ser atual região entre a sede da Delegacia de Polícia de Batatais e o atual Parque nas Nascentes.
Também foi nesta sessão da Câmara, que foi indeferida a petição de diversos proprietários rurais para que houvesse tolerância ao trânsito de carros de bois pelas estradas do município até o dia 31 de outubro; e a petição da senhora Tilza de Almeida Barros, professora da Escola Feminina Estadual do Bairro do Castelo, pedindo auxílio para pagamento do aluguel da sala onde funcionava a referida escola. Vale destacar, que de acordo com o relatório de despesas, o município realizava o pagamento de aluguel de uma casa para o funcionamento da escola do bairro de Sant’ Anna.
Ainda em outubro, a alta do preço da farinha de trigo fez com que os padeiros da cidade, Vicente de Oliveira, Salvador Curti e Ulieno Sicci publicassem a seguinte nota sobre o preço do filão:
Já em novembro, a grande atenção da população esteve voltada para a construção de uma capela no cemitério municipal e os donativos para tal obra estavam sendo recolhidos pelos senhores Pedro Bianco e Carlos Pupim. Tal edificação só foi realmente construída em 1927.
A Gazeta de Batataes publicou artigo sobre a possibilidade de se tornar obrigatória a cremação dos corpos nos Estados Unidos e a oposição da igreja católica a tal medida, mesmo diante dos argumentos de cientistas mundiais sobre os benefícios para higiene coletiva.
Em Batatais, a preocupação era com o vandalismo nos túmulos dos cemitérios locais, o que levou o representante da firma Franceschine & Fazzi a realizar a seguinte declaração:
Em nossos levantamentos sobre os cemitérios de Batatais, identificamos um túmulo de autoria da firma Franceschine & Fazzi no Cemitério Paroquial.
Outra obra que já se anunciava era a construção do Asilo dos Pobres ao lado da Santa Casa, em terrenos adquiridos do Sr. Marcello Girardi; e a perspectiva de ampliação do Teatro São Carlos de propriedade do Sr. Ernesto Corsini, após aquisição de terreno na Rua Sete de Setembro para a construção de palco com 144 m² e platéia com capacidade para 480 cadeiras.
Em relação às diversões, três circos passaram pela cidade no último trimestre de 1922: o Circo Chileno (22/10), o Circo Cruzeiro do Sul (05/11) e o Circo Pierre (24/12) de Ribeirão Preto, todos armados na Rua Santos Dumont esquina com a Praça Anita Garibaldi.
Já em relação ao futebol, o Batatais Futebol Clube publicou na Gazeta de Batataes sua desistência em continuar no Campeonato do Interior, apresentando três motivos que levaram a diretoria a tomar tal decisão, comunicada ao presidente da Associação Paulista de Esportes Atléticos, Sr. Dr. Benedicto Montenegro.
“O “Batataes F. C. leva ao conhecimento de Vossa Excellencia, para os devidos fins, que, por deliberação uhanime da sua directoria, desiste nesta data de continuar a disputa do campeonato do interior. Essa resolução da sociedade esportiva batataense é a consequencia da decepção que os seus dirigentes e jogadores -teem tido:
1º Com o modo de proceder dos representantes e juizes que teem sido escalados para a direcção dos jogos em que teem tomado parte, com excepção dos seus encontros com o Amparo A. C.” e com a “S. E. Sanjoanense”;
2º com a interdicção decretada contra o seu campo, a pedido dos clubes da zona Mogyana e sem a menor -audiencia da parte mais directamenteinteressada ; e
3º pela pouca attenção que tem sido dada as suas reclamações, ora por officios e ora por telegrammas.
O Batataes F. C.”, apezar das affirmativas em contrario por parte dos clubes que já haviam tomado parte na disputa do campeonato do interior, entrou para este, certo de que ia encontrar na direcção das pugnas juizes competentes e imparciaes sob a inspecção sempre alerta e bem intencionada de representantes da Associação Paulista de Esportes Athleticos. Assimporem, não aconteceu, tendo o Batataes F. C. de supportará um juiz parcial como o sr. Domingos de Vitta e um outro ignorante como o sr. José de o Camillo, ao lado do sr. NestorPedroso que, interpellado pelos representantes da sociedade batataense, se limitava a dizer que, “estando distrahido, não presenciara o facto apontado” A estas circumstancias desanimadoras accresceque o “Batataes F. C. teve o seu campo interdictado, sem a menor audienciada a directoria, com manifestadesobediencia dos mais rudimentares princípios de direito.
Este facto, altamente prejudicial aos interesses sociaes do “Batataes F. C.”, que se vé obrigado a jogar sempre em campos adversários sujeito a despesas extraordinarias e privado da assistencia de seus associados, é factor pois e preponderamente da resolução tomada e ora communicada. Alemdesses factos, um outro tem descontentado o “Batataes F. C.” como já ficou dito no principio deste officio: a nenhuma solução dada aos seus ultimosofficios e telegrammas.
Deante dessa situação, mandava a dignidade do Batataes F. C. que elle abandonasse a disputa do campeonato immediatamente: é o que elle faz pois, por deliberação unanime dos seus dirigentes e applauso geral de seus associados.
Dirá agora Vossa Excellencia se por esse acto o “Batataes F. C. deve entrar com alguma importancia para os cofres da Associação Paulista para ser promptamente obedecida essa formalidade dos estatutos. Aproveitando o ensejo, a sociedade esportiva batataense sauda a Vossa Excellencia com muita admiração.” (GAZETA DE BATATAES, 22/10/1922)
Aparentemente, tal desistência foi mantida, pois o jornal passou a divulgar apenas jogos amistosos do B.F.C., muitos destes realizados na própria cidade.
Os habilidosos artistas de Batatais também foram lembrados nos jornais: Adolpho Vietti, Emygdio Bradaschia e Protázio Thomas de Carvalho.
Adolpho Vietti foi elogiado pelo artístico pano de boca e pintura de cenário que confeccionou para o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, nas comemorações de encerramento do ano letivo.
Emygdio Bradaschia criou elegante e artístico aparelho para café e leite que estava em exposição na ‘Loja Nova’, do comerciante Fernando Lavagnoli, à rua Coronel Joaquim Rosa nº1, esquina da rua Santos Dumont. Tal aparelho fora encomendado pelo Capitão Dogelo de Souza e pelo Coronel Joaquim Ferreira Rosa.
Já o maestro Protazio Thomas de Carvalho anunciou o nome de sua nova composição: “Alma em delírio”, destacada como sendo uma excelente valsa.
Assim como nossa coluna, a Gazeta de Batataes também trazia notícias de tempos passados e nos causou espanto a triste matéria sobre o preço dos produtos no comércio do Rio de Janeiro em 1722, com produtos para escravo, negro, branco, fidalgo, mulato, forro, escravo mulato, escravo preto e moça branca.
Encerramos esta coluna com a foto do prefeito da época, Coronel Manoel Victor Nogueira com sua esposa Maria José Nogueira (Tataia) e duas de suas filhas, Josefina à esquerda e Conceição à direita – irmãs Salesianas. De acordo com Sebastião Nogueira (bisneto do Coronel), ambas filhas trabalharam no Colégio Auxiliadora de Batatais. Irmã Josefina dava aulas de arte e Irmã Conceição era a Ecônoma do Colégio. Foto tirada provavelmente entre as décadas de 1920/30.