Em fevereiro de 2021, em um evento em Cascavel (PR), o presidente Bolsonaro ergueu uma placa com o símbolo da emissora de tv carioca riscado em X e os dizeres: “GLOBOLIXO!”, referência criada para ser utilizada pelo bolsonarismo sempre que alguma reportagem atingisse o seu governo ou seus aliados. A expressão sempre foi utilizada pelos seus seguidores, que se orgulhavam de dizer que não consumiam nenhum produto Globo.
Mas nada como a realidade (e a necessidade) à bater na porta do bolsonarismo, para que seja anotado mais um ato de incoerência com um discurso que, convenhamos, já perdeu o sentido desde o início do mandato. Por esses três anos e meio de gestão Bolsonaro, seu eleitor já engoliu sapos maiores, como a aliança com o Centrão, o fim da Lava Jato, a escolha de um PGR fora da lista tríplice, o número elevado (e além do prometido) de ministérios, a ampliação do toma-lá-dá-cá, o fim da cartilha liberal, o palanque como Valdemar Costa Neto, Fernando Collor, Arthur Lira e grande elenco, o cartão corporativo secreto, o indulto presidencial que antes ele condenava, e por aí vai.
Seu eleitor fiel deve estar coçando a cabeça, esperando novas orientações para saber como e o que dizer do aumento de verba em publicidade do governo destinada à TV Globo. Nesse ano de reeleição, segundo um levantamento do portal UOL, o repasse aumentou 75% entre janeiro e julho e chegou a R$ 11,4 milhões, o maior valor de todo o seu mandato. Para quem já se disse perseguido pelo “sistema Globo” há mais de uma década, passou os últimos três anos e meio pintando a emissora como o diabo e sugerindo o seu estrangulamento financeiro para livrar o país de um grande mal, acusou a família Marinho, proprietária da empresa, de receber repasses suspeitos de um doleiro, e ameaçou não renovar a concessão da emissora, o dinheiro que ele agora injeta na “Globolixo” levanta um caminhão de questionamentos. Afinal, o que será que mudou para a Globo não ser mais lixo?
A resposta é: medo da (não) eleição e medo da prisão.
Bolsonaro se deu conta de que só seu eleitor raiz, em especial numa eleição presidencial de dois turnos, não será suficiente para dar a ele o direito de passar mais quatro anos viajando e passeando de jet-sky e moto por aí. O Capitão, e seus estrategistas da campanha de reeleição, perceberam que, para mudar o jogo eleitoral que no momento não lhe é nada favorável, não basta pregar apenas para os convertidos da Record, SBT e Rede Brasil, nem assustá-los com os velhos fantasmas e os inimigos de sempre. É preciso ganhar os eleitores, digamos, menos apaixonados. Mesmo que para isso precise divulgar os feitos de sua gestão na mesma emissora que outro dia mesmo chamou de “lixo”.
A verdade por trás do raciocínio do presidente é o mais descarado pragmatismo: se a Globo não me serve, pau nela! Mas já que preciso dela, posso dizer que faço, nesse momento, um necessário esforço patriótico de propaganda. Mas o nome disso é outro. É medo da derrota, e da prisão.