Há 100 anos… março de 1920
O acontecimento do mês para nossa cidade, sua emancipação política, não apresentou nenhuma comemoração oficial em 1920. Foi dada apenas uma pequena nota..
As eleições estaduais realizadas no dia 2 de março de 1920 deram vitória ao candidato ao cargo de governador pelo Partido Republicano Paulista (PRP), Dr. Washington Luís, que segundo a edição carioca do Jornal do Commercio do dia 05 de março de 1920 “as qualificações de estadista do sr. Dr. Washington Luís estão provadas pelo seu tirocínio de vida publica. No adeantado meio politico de S. Paulo, onde existem tantos homens de valor, a sua figura avulta e se destaca por um bello traço de vontade pessoal, pelos mais raros dotes de inteligência e de operosidade. A maneira dirigiu os negócios da pasta da Justiça e a Prefeitura de S. Paulo provou largamente a sua capacidade de administrador. (…)”. Os candidatos a governador e a vice-governador do PRP venceram também nas urnas batataenses, com 408 votos cada um.
Uma das primeiras plataformas do governo estadual eleito foi a nossa velha conhecida: ampliar a rede viária paulista. Daí ser atribuído a Washington Luís o lema “governar é abrir estradas”, que o levou a ser apelidado de O Estradeiro.
No artigo apresentado pelo jornal, o governador eleito fez uma defesa veemente a favor das estradas de rodagem, que “tão vivamente interessa a existência da lavoura paulista”… Continua seu posicionamento: “A estrada de ferro foi e continuará a ser, não há duvida alguma o extraordinário elemento de nosso progresso; mas hoje não é o único rápido e não corresponde a todas as necessidades; ela não passa, e não pode passar, em todas as cidades, não atravessa todas as fazendas, não entra nos terreiros, não pára à porta das tulhas, não vai de sitio à estação. Nem da propriedade agrícola para a casa de negocio. Trabalhando a horas certas, a estrada de ferro não pode dar todos os transportes, não suppre todos os vehiculos; e S. Paulo precisa de todos. Devemos pois, fazer estradas de rodagem, ligando as estradas de ferro, de que são poderosos auxiliares. Devemos fazer por toda parte (…). Só assim poderemos fazer quadro digno ao surto de nossas industrias, agrícola, pecuária e fabril (…).”
Com o plano de governo estadual sobre as estradas de rodagem, deu-se a construção da estrada de Campinas e a estrada de Itu, que se ligavam a capital do estado de São Paulo.
Após as eleições estaduais, o Diretório local do PRP agregou outros membros, assim constituído: Coronel Gabriel Andrade Junqueira – presidente, Coronel Manoel Victor Nogueira, Dr. Frederico Marques e os novos membros: Coronel Ovídio Tristão de Lima, Capitão José Paulino da Costa e Capitão Gabriel Martins de Oliveira.
Quanto a moda feminina, as críticas em relação ao exagero e ousadia das roupas femininas tornou-se uma campanha nacional liderada pelos membros da Igreja Católica. A campanha contou com o apoio do periódico local. A Igreja embora contra os ditames da moda na década de 20, sabia não ter condições de estabelecer, como eles mesmos assumiam, os “centímetros no corte dos decotes, nem estabelecer as peças íntimas indispensáveis do vestuário” e nem podiam invadir os “salões de costuras” porque, ainda segundo os membros da Igreja, a religião “não pode solicitar honradez naquellas cuja depravação do espírito e falta de pudor conduzem à exhibição nas formas do corpo. Não se pode impedir que uma mulher se vista de acordo com a moda, mas entre os rigores da tesoura e um vestido antigo há um meio termo, como um vestido talão e uma saia cuja orla mostre os joelhos, pode haver uma saia decente. (…)”
No campo da saúde, além da habitual propaganda de alerta contra o Amarelão, constou em março de 1920 uma nota tratando de uma ‘moléstia epidêmica’ vinda da Europa do pós grande guerra (1914-1918), conhecida popularmente como sarna das trincheiras, pois inicialmente acometeu os soldados entrincheirados. Sabemos que a higiene e os cuidados sanitários e epidemiológicos são raros em estados de guerra e, nos relatos oficiais e estudos acadêmicos há provas cabíveis das precárias condições em que também viveram os soldados na Grande Guerra.
As orientações dadas pelas equipes de saúde, para não proliferação da sarna das trincheiras, propunham cuidados com a higiene pessoal e geral e, o uso de algumas das pomadas.
Numa análise da economia política após o Tratado de Paz do pós guerra, os países vencedores resolveram ‘ajudar’ os países vencidos, adotando uma política mais branda em relação à Alemanha e à Áustria. A França e a Inglaterra relutaram em aderir ao abrandamento. Foi noticiado também que após a Grande Guerra, o Brasil aumentou o número dos principais produtos de exportação, de 8 para 26, porém não fizeram menção a quais produtos eram.
Nas notas policiais de março, foi noticiado que um conhecido matador de aluguel da região, Joaquim Venâncio de Sousa, que se autodenominava empreiteiro da morte, e que estava preso desde 1907, por 14 homicídios cometidos na região de Igarapava, Ituverava e Franca, condenado há quase 30 anos de prisão celular, faleceu na cadeia de Batatais aos 82 anos. Durante a prática dos crimes, a população dizia que o bandido fez um rosário de orelhas de suas encomendas, o que o sentenciado negava.
Foi noticiada uma tragédia acontecida em Batatais há 100 anos: uma família foi vítima de envenenamento. Cinco pessoas foram intoxicadas, sendo que três vieram a óbito, após ingestão de sal de cozinha, que na realidade era arsênico branco. Além dessa família, mais duas famílias que por empréstimo obtiveram o ‘sal de cozinha’ da Família Fioco, também apresentaram sintomas de intoxicação. Os familiares dos intoxicados acreditavam que as causas possíveis seriam a água usada de um poço que ficava no fundo do quintal e/ou o uso do sal de cozinha adquirido no mercado de secos & molhados de Luiz Scatena (meio irmão de Arturo Scatena). Infelizmente não temos mais informações sobre o andamento investigativo do caso.
Como nem tudo é lamento, depois de um período de retiro religioso – a Quaresma -, a população batataense estava eufórica com a chegada do sábado de Aleluia: os bailes dançantes, espetáculos beneficentes, cinematográficos e jogos futebolísticos foram retomados.
Um dos bailes comunicados no jornal nos chamou a atenção, pois fazia referência a retomada de uma antiga “associação recreativa-literária”, chamada de 14 de março, que “existiu há tempos na cidade”. Foi fundado em julho de 1914, com sede própria à antiga Rua Afonso Penna (atual Rua Monsenhor Alves) que pretendia reorganizar-se com a aprovação de novos estatutos. O primeiro baile após a retomada do clube, ocorreu na casa do coronel Quita, Joaquim Garcia de Oliveira Júnior. De acordo com Jean de Frans, o Coronel Quita, “foi coletor de rendas, provinciais e gerais. Dedicou-se à lavoura e foi capitalista dos mais abonados. Sempre teve um pavor da morte.”
Além dessa ‘partida’ dançante, deu-se um espetáculo beneficente no Teatro São Carlos em prol do Batatais Futebol Clube.
Os times de futebol da cidade, Riachuelo Futebol Clube e Batatais Futebol Clube realizaram partidas contra times da cidade de Franca (SP), o Palestra Itália e o União Team e de Uberaba (MG), o Uberabense Sport Clube.
Em manifestação à vitória do Batatais Futebol Clube sobre o União Team de Franca, a diretoria e torcedores da associação esportiva realizaram em praça pública, na Cônego Joaquim Alves, concerto, discursos e cervejada.