Para a entrevista dessa edição convidamos o ex-prefeito Eduardo Augusto Silva Oliveira. Cordial e muito solícito, ele recebeu nossa equipe em seu escritório, na sua casa, para falar de temas polêmicos, como o Hospital de Câncer, dívidas da Prefeitura, além da decepção que carrega em relação ao Prefeito José Luis Romagnoli. Completou neste sábado 50 anos, o agricultor, com formação em direito, casado com Ana Cândida Cardoso Tofeti de Oliveira, pai de Maria e Antônia, já exerceu na vida pública os cargos de vereador, vice-prefeito e prefeito no período de 2000 a 2016.
JC – Eduardo, depois de ter passado por cargos no legislativo e executivo, se sente realizado politicamente? Já alcançou seus objetivos como homem público por Batatais?
Eduardo Oliveira: Nem na hora da morte a gente vai dizer que fez tudo o que gostaria, que sonha, que trabalha para isso. A vida é um constante querer, projetar, sonhar, trabalhar. Então, não me sinto completamente realizado, mas me sinto feliz, porque por todos os anos que trabalhei na vida pública, tivemos a oportunidade de realizar muitas coisas que foram importantes para mudar a vida para melhor das pessoas. Eu digo tivemos porque nunca fiz nada sozinho. É um grupo de pessoas, uma equipe e a população que ajuda, que torce e rema para o mesmo lado.
JC – A grande crise econômica no Brasil, deflagrada justo no período em que foi prefeito, atrapalhou a sua gestão?
Eduardo Oliveira: Sem dúvida. Nós estávamos andando em um carro com gasolina azul e de repente a gasolina vai minguando. E aí a gente teve que contingenciar, como é a palavra da moda. Que nada mais é, na fritada dos ovos, que cortar. E não foi só a crise econômica no meu governo. Eu peguei a crise perfeita: econômica, política, onde caiu até a presidente da república, e ética, com tantos e tantos deputados, senadores, empresários sendo presos, para o bem do país, claro, mas foi toda uma conjuntura que travou o Brasil. Nunca tivemos PIB negativo, crescimento negativo, no meu Governo o crescimento foi negativo, ou seja, arrecadamos menos no ano seguinte do que no ano atual, isso é histórico, nunca houve. Portanto nós passamos por um período de pedras, trovoadas, geada e tudo junto.
JC – Nesse contexto, o que gostaria de ter feito enquanto prefeito e não conseguiu com a queda de arrecadação?
Eduardo Oliveira: Gostaria de ter terminado o Hospital de Câncer. Nós começamos o Hospital, fizemos o mais difícil, conseguimos ganhar o terreno do governador. A população se mobilizou, nós fizemos um movimento do bem. Conseguimos comprar um projeto maravilhoso e iniciar a obra com pessoas de boa vontade, que enxergam o positivo, que enxergam a dor do outro, sem mesquinharia e pensar em politicagem. Então gostaria de ter concluído a primeira etapa da obra. Ela está no meio d0 caminho, se a gente contar o terreno, projeto e a construção. Mas nós vamos terminar, não nesse mandato, porque o prefeito atual é contra a obra, mas virá um prefeito, com uma visão humanista, de boa vontade e aí sim nós vamos terminar.
JC – Quais os principais avanços que sua administração deixou para a cidade?
Eduardo Oliveira: Na infraestrutura, nós resolvemos o problema da água na cidade. Batatais sofreu a vida inteira com falta d´água, desde Washington Luis, há mais de 100 anos, quando ele instituiu as ligações de água. Resolvemos um problema secular. Colocamos hidrômetros onde não tinha, trocamos os que não funcionavam, fizemos as adutoras para transportar a água produzida, construímos mais reservatórios e perfuramos mais três poços, completos, com cabine elétrica, bombas, e dessa forma nós resolvemos definitivamente o problema da água. Deixamos um poço faltando só o reservatório, que é o poço do Garimpo, com dinheiro na conta para construir e até hoje não ficou pronto. Faz aí quase três anos, mas acredito que logo fique pronto, porque não é possível. Então, ao colocar esse poço na rede nós teremos água sobrando, não que a gente possa desperdiçar, mas teremos o problema totalmente resolvido. Na área da Educação nós construímos três creches, no Miguel Valenciano, Mariana e mais que dobramos a do Semieli, além de reformar e ampliar algumas outras. Dessa forma nós acabamos com o déficit, que existia na época, por conta de falta de vagas e mães precisando trabalhar. Essas creches foram colocadas em funcionamento agora, mas nós deixamos prontas, inclusive com o mobiliário. Demos um tablet para cada aluno e um notebook para cada professor da Rede Municipal. Inauguramos a UBS do Colorado e construímos a UBS do São Carlos. Instituímos o transporte público gratuito, de forma inédita no município. Quem usa o transporte público é quem precisa. Trouxemos ônibus novos, pra época, hoje falta manutenção, mas eram muito bons e tinham vários horários. Fizemos a reforma e revitalização de todo o Lago Artificial, que não inaugurou ainda, mas eu deixei praticamente pronto, com dinheiro na conta. Um projeto com pedalinhos, com fonte luminosa, afinal nós somos estância turística e recebemos dinheiro para isso. Fizemos a canalização da Xavier Cotrin, passando por dentro do Centro de Cultura Física, até a ponte da Rua dos Expedicionários e deixamos o dinheiro em caixa, R$ 3 milhões na conta, aplicado, para que esse governo atual fizesse a obra, que está sendo feita agora. Reformamos o Teatro Municipal, a Rodoviária, revitalizamos o Parque Náutico, a Cachoeira. Fizemos a cobertura de várias quadras de esporte das escolas municipais. Revitalizamos quase todos os centros comunitários, fizemos CRAS, CREAS, trouxemos várias academias ao ar livre, revitalizamos a cidade inteira, com canteiros com grama esmeralda e plantamos palmeiras. Trocamos grande parte da frota da Prefeitura, cinco caminhões novos de lixo, o caminhão novo da elétrica. Asfaltamos várias ruas na cidade, instituímos a Zona Azul, fizemos a infraestrutura do Distrito Industrial, com adutoras, derivações de água e esgoto. Posso aqui dizer das telas de Portinari, que fizemos a restauração das telas, o maior patrimônio da cidade. A causa inclusive da gente virar estância turística. Em termos de eventos trouxemos o Café com Viola, Feira do Livro, Festival de MPB e o Natal Encantado. Recuperamos para a cidade um terreno que era do Vocacional, com mais de 10 hectares, em frente a Capela de São Judas. Trouxemos os médicos cubanos para época, a Farmácia Solidária, numa ação do Fundo Social, da minha esposa, em parceria com os maçons. Instituímos um novo transporte para o HC, que era realizado com ônibus velhos, sucateados, enfim, trabalhamos, em meio a uma crise nunca vista. Maior que a crise de 29.
JC – Se arrepende de algo ou de algum erro quando ocupou o cargo de prefeito?
Eduardo Oliveira: Não tenho arrependimento. Na vida a gente tem que se arrepender do que a gente não fez, não do que a gente fez. Serviu de aprendizado, lição, porque ninguém nasce sabendo tudo. Triste são as pessoas que acham que sabe tudo. Que tem a certeza que é o melhor, que só fala no singular, que não reparte, que assume todas as glórias e terceiriza todos os fracassos. Eu fiz o inverso, os nossos avanços foram devido a nossa equipe e o apoio da população. Já o que nós não demos conta de fazer foi porque eu não tive condição e a situação do país na época não foi favorável.
JC – Tendo ocupado o cargo de vice-prefeito de José Luis Romagnoli, por dois mandatos, e ele o acompanhou durante a sua campanha política. Como é o seu relacionamento com o atual prefeito?
Eduardo Oliveira: Não existe relacionamento. Nenhum.
JC – Como avalia a atual administração pública?
Eduardo Oliveira: Péssima, decepcionante. Sabia administrar enquanto tinha dinheiro, porque com açúcar até jiló é doce. Quando se deparou com a crise do país, deu no que deu. Uma pena para a cidade a para as gerações futuras.
JC – O prefeito José Luis tem se referido ao seu grupo como traidores. O que tem a dizer sobre isso?
Eduardo Oliveira: Quem saiu do partido não fomos nós. Estamos onde estávamos. Quem saiu do partido foi ele. E não quero analisar o que ele está dizendo, não tenho nada a ver com isso, nem eu, nem o nosso grupo. Quem se isolou, quem está sozinho e quem, infelizmente, mudou e decepcionou nós todos, e toda a população, foi o atual prefeito.
JC – Ainda durante a sua campanha política para prefeito, José Luis o apoiou com a ideia da construção do Hospital de Câncer?
Eduardo Oliveira: Claro, isso está no jornal, nas rádios da cidade, na televisão, está gravado. Ele esteve comigo em São Paulo, quando eu era prefeito, pegou uma carona e foi na Assembleia para entregar o cargo para o Campos Machado, que ele era assessor. Na volta eu passei no escritório de arquitetura em que fizemos o projeto do Hospital de Câncer. Ele acompanhou, não como membro da Associação, nem ajudou no projeto financeiramente, mas ele me acompanhou. Depois, quando foi conveniente, ou quando ele parou a obra, sem necessidade, porque não precisaria de dinheiro público, a comunidade sempre abraçou a causa, então ele falou que não falou o que tinha falado. A minha decepção é por uma questão de vaidade, ciúme ou inveja, por conta de uma placa.
JC – Qual sua opinião sobre a construção do ambulatório de oncologia na Santa Casa pela atual administração?
Eduardo Oliveira: Coisa boa, ótimo. Trouxemos os médicos pra cá, para consultar. Precisamos agora fazer a quimioterapia. Esse é o nosso propósito. Mas, o Projeto do Hospital de Câncer, para fazer a quimioterapia, com mais R$ 3 Milhões acaba, esse é o orçamento. Dentro de um orçamento de R$ 150 milhões é uma questão de prioridade. É menos do que se gasta para transportar o lixo para Sales Oliveira, tendo fechado o aterro aqui. Se o nosso lixo estivesse sendo depositado aqui o Município não estaria gastando quase R$ 2 milhões por ano, sucateando a frota e colocando em risco a vida dos funcionários. Só com essa economia já daria para acabar o Hospital de Câncer.
JC – O prefeito José Luis afirma que não será candidato à reeleição. Acredita nisso?
Eduardo Oliveira: Acredito. Está muito mal avaliado e ele não entra pra perder. Na última eleição ele perdeu para branco, nulo e abstenção. Com esse mandato desastroso eu realmente acredito.
JC – Afinal, com o início das movimentações políticas, já tem definido o seu caminho. Vai novamente disputar o cargo de prefeito na próxima eleição?
Eduardo Oliveira: Essa pergunta vocês estão me apertando. Porque o futuro a Deus pertence. É difícil analisar o amanhã. Eu gostaria que surgissem novas lideranças. Nós temos essas lideranças que precisam se apresentar, seja nas entidades, no legislativo, na sociedade organizada. Administrar a coisa pública é uma corrida de bastão. Cada um faz um pouquinho e passa o bastão. Eu gostaria que renovasse, com pessoas capazes, a roda tem que girar pra frente, mas não me afino, não me omito de nenhuma responsabilidade para o bem da cidade, para renovar a Prefeitura.
JC – Sobre a questão das dívidas, outro tema sempre abordado pelo atual prefeito, o que pode esclarecer?
Eduardo Oliveira: Quando assumi a Prefeitura tínhamos várias dívidas, obrigações vencidas com as entidades, todos sabem, com a CPFL, INSS, Fundo de Garantia, fornecedores, precatórios, entramos e conseguimos avançar em várias áreas e amortizar esses compromissos. Com as entidades, a dívida que eu herdei eu paguei, e era facultativa, fizemos o parcelamento e pagamos junto com o recolhimento do mês. Quando sai do governo também deixei dívidas com as entidades, menos do que herdei, que simplesmente o atual prefeito disse que não pagaria e não pagou. Acho isso triste, porque as entidades prestaram o serviço, que é uma obrigação do município. Apesar de toda a crise nós deixamos o município em situação financeira e econômica melhor do que herdamos. Então que não sirva mais de justificativa para a incompetência da atual gestão querer colocar culpa no passado, que isso é feito e não é leal e ético.
JC – Agradecemos Eduardo pela entrevista.
Eduardo Oliveira: Eu agradeço muito o espaço e quero desejar sucesso ao jornal e dizer que é hora de pensar no futuro da cidade que pode ser melhor, mais feliz. Trabalhar sério sem ter cara feia, responsabilidade, sendo gentil e educado. Isso a população espera da gente.