Desde a minha infância, ouço dizer que o Brasil é o país do futebol. Aliás, provavelmente meu pai já ouvia isso também, tamanho era a diferença de nível entre os jogadores brasileiros e os do restante do mundo. Pois é, mais isso vem mudando já há algum tempo, nossa última Copa do Mundo foi conquistada há 21 anos atrás, e o que mais se ouve entre nossos analistas esportivos é que “não existe mais bobo no futebol mundial” e que “o Brasil tem que voltar a ser o país do futebol”. Sinal dos tempos conectados, nossas crianças, jovens e adolescentes passaram a se interessar por outros esportes e outras distrações, e uma grande parte daqueles que diziam que queriam ser “jogadores de futebol quando crescer”, agora pretendem se tornar youtubers ou influencers.
Só fiz essa introdução para chamar a atenção de uma outra mudança, muito mais emblemática e visível do que essa.
Desde os anos 80, não houve mudança maior na característica da sociedade brasileira do que a religiosa. Na eleição de 1989, uma pesquisa do IBOPE detectou que apenas 9% dos eleitores se declaravam evangélicos, e, hoje, esse número, mesmo sem a contagem oficial do Censo, supera os 30%, considerando as pesquisas realizadas pelos maiores institutos do país.
Ou seja, o Brasil também já não pode ser considerado hoje o pais com o maior número, proporcional, de católicos do mundo. Mas o motivo não é somente o crescimento dos evangélicos por aqui. O Datafolha, em sua última pesquisa nacional realizada nas vésperas da eleição do ano passado, constatou que entre os jovens de 16 a 24 anos, a expressão de pessoas sem religião já supera qualquer linha dogmática existente. No Rio de Janeiro, 34% dos entrevistados nessa faixa etária consideram não possuir religião alguma e mais 32% se declaram evangélicos. Ou seja, dois terços do novo eleitorado, na segunda cidade mais populosa do Brasil, já não é mais católico.
A pesquisa mostra que o catolicismo está estagnado, e os evangélicos crescem quase 1% ao ano, e muito em breve, ao manterem essa taxa de conversão, serão maioria no país. As projeções feitas desde o Censo de 2010, eram de que até 2032, ou seja, daqui a menos de dez anos, o Brasil já teria maioria evangélica.
O Nordeste continua sendo a região mais católica do país, em proporção. Lá encontra-se a maior fatia da população da classe D, majoritariamente católica, e, não à toa, é onde vemos a maior expressão do catolicismo romano. O sertão nordestino é palco de romarias, expressões culturais como as festas juninas de São João, São Pedro e Santo Antônio, a Paixão de Cristo e diversos santuários, como o de Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, no Cariri cearense, Frei Damião, Padre Ibiapina, entre tantos outros.
Porém, a chamada classe C2, predominante em grandes centros como na periferia de São Paulo e na Baixada Fluminense, é cada vez mais evangélica. E a mudança vem da faixa mais jovem da população, até os 35 anos de idade.
Um dos motivos que cativam esses jovens, que já são apegados aos valores morais, a frequentarem as igrejas evangélicas, certamente é o fato de que ao mesmo tempo que consideram existir uma degradação moral na sociedade brasileira, o aspecto da renda é também crucial para a escolha da religião a ser seguida. Diferentemente do catolicismo, que historicamente pregou uma doutrina baseada no franciscanismo (votos de pobreza), os evangélicos pregam a prosperidade como uma linha teológica. A riqueza é dadivosa para boa parte das denominações evangélicas, e num mundo tão competitivo como o de hoje, essa mensagem agrada quem quer se estabelecer.
O fato é que o (ex)maior país católico do mundo já é uma grande potência evangélica e terá que lidar com uma nova onda de jovens que não mais professam os dogmas tradicionais. O brasileiro mudou e será necessário muito estudo para compreender a sua visão de mundo daqui para frente. Mas o futuro a Deus pertence, não é mesmo?