A leitura do Diário de Guerra da enfermeira Altamira Pereira Valadares continua a nos oferecer caminhos para diversos estudos. Desta vez, lançamos o olhar sobre como se deu a comunicação entre o corpo militar brasileiro envolvido no conflito e o mundo civil durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945). Em termos de comunicação, existiam cartas, telegramas, jornais, revistas, cartões-postais, fotografias, radiofonia e regras envolvidas nisso tudo.
Observamos que Altamira fez uso, tratou e/ou utilizou todos os tipos de comunicação acessíveis. O meio mais utilizado por ela foi a correspondência, trocada com seus familiares, amigos e conhecidos no decorrer da participação do Brasil no palco do conflito bélico, de julho de 1944 a agosto de 1945.
Diários e cartas possuem um conteúdo muito particularizado das vivências individuais de um conflito. Além do que, numa situação bélica, ao escrever e ler cartas e afins, os participantes tem a possibilidade, por breves momentos, de fugir da realidade. As cartas são uma forma de extravasar e amenizar os vários enfrentamentos que uma guerra gera nos envolvidos. Com isso, a enfermeira nos dá| possibilidades interessantes para conhecermos o seu passado através de suas narrativas pessoais, ao escrever o diário e utilizar outras formas de escritas de si mesma.
Altamira, logo da participação do Brasil na 2ª Guerra, deixou em seu caderno pessoal algumas observações referentes ao serviço postal militar. Assim que a segunda turma de enfermeiras embarcou em direção à Itália, registrou no dia 04/08/1944: “Às 6hs,10, eu, Nair Paulo de Mello, Bertha Moraes e Maria do Carmo Corrêa e Castro e demais membros americanos, após pesagem total e censura de cartas, zarpamos do aeroporto da Panair do Rio de Janeiro, com destino oficial de serviço (secret).” No dia 11/08/1944, ainda em viagem aérea, Altamira comentou sobre a quantidade de correspondências que sobrevoava o Atlântico em busca de notícias e acolhimento. “Muita bagagem (correio). São 18 sacos grandes mais ou menos de correspondência !?”
Assim que o grupo de enfermeiras chegou a Nápoles, Altamira, em 13/08/1944, foi procurar onde ficava o serviço de correios. “(…)Vi o serviço de correio e voltei para o nosso pavilhão 45”. No dia 17/08/1944, em território italiano, mais precisamente em Roma, Altamira desabafou que estava ansiosa por cartas. Não havia um mês de sua partida do Brasil. “São quasi 23hs estou escrevendo junto á lareira. Fiz 1 sandwiche de carne pª meu almoço amanhã. Chegou o correio mas não veio nada. Muito frio.”
Há relatos da angústia por meses a espera de uma carta. Com a chegada, a alegria quase eufórica. Todos ficavam revigorados com notícias vindas do Brasil. O desejo por notícias era imenso que ela deixou registrado em seu Diário de Guerra, a emoção ao receber a primeira carta do Brasil:
“22-9-44 6ª-feira:- Fiquei tão contente pois recebi a primeira carta do Brasil, da querida mana Áurea do dia 14-8-44. Diz que esteve em São Paulo e deixou Papai no mesmo. Está recebendo tudo direitinho e vai indo bem, graças à Deus! Às 19,00 em serviço. A mesma correria: feridos por todas as mesas e aquele corre, corre. Tivemos três feridos brasileiros. Fiz duas anestesias. Tudo vai bem e a boa impressão vai crescendo. Deixei Dr. Godofredo operando um americano e o Dr. Rupi fazendo anestesia. (…) Dr. Rupi me aconselhou que estudasse os fenômenos com os diversos processos de anestesias, para quando voltar, fazer carreira. Gosto muito – Vou me aprofundar nisto para ser útil aqui mas, não pretendo depois trabalhar mais em enfermagem – Tudo “O.K”.- Pretendo escrever para Papai e Nenê. Eis o texto da 2ª e última carta para Papai:-
Italia-6ª- feira
Meu querido Papae:
Deus, Paz e Amor esteja sempre em seu coração, junto a todos de casa.
Vou indo bem, só ansiosa por notícias, principalmente do senhor, até pedi ao Exmo. General para telegrafar sabendo o seu estado. Ando preocupada consigo.
Só hoje foi que tive a grande satisfação de receber a primeira carta de Nenê, datada de 14-8-44 e, de mais ninguém. Vou mandar esta anexada à da mana, para o Rio, porque não sei o endereço certo da Altina.
Papai, peço à Deus sempre para o conservar vivo e com forças até a minha volta pois, tenho muito que lhe contar. Passei pelo norte todo da Africa (Deserto do Sahara), Casablanca etc. Na Itália tenho feito o meu rodízio e visto muitas cousas célebres. Tenho trabalhado um pouco e já recebido elogios dos médicos norte-americanos. Eles são muito bons e pacientes. Também procuro falar italiano e inglês, na medida do possível. Fica sossegado que nada de grave me sucederá. Tenho tudo que é possível se ter na situação em que estamos, só sinto muitas saudades do senhor, de todos e de tudo. Vou parar aqui porque chegaram mais pacientes. Depois continuarei …
Estou trabalhando à noite. Está frio. São 2 horas da madrugada. Sala de Operações.”
Nos diários e correspondências, observamos situações e acontecimentos vivenciados por seus próprios autores e até outros sujeitos. Nessas escritas individuais podemos perceber como se dava a manifestação da saudade; a adaptação sócio cultural; os hábitos de higiene e de alimentação; as ocasiões de fome, sede e frio extremo; as doenças e ferimentos; os momentos de recreação, como sessões de cinemas e festas; a sensação de morte; a dificuldade com outras línguas estrangeiras; as licenças e passeios; as aventuras; a inexperiência militar; o medo da guerra; o medo do inimigo; o medo do desconhecido; as violências contra as mulheres; as percepções do estado de guerra e estratégias pessoais de enfretamento da guerra; as formas como as redes sociais eram estabelecidas; os julgamentos; entre outras tantas situações possíveis, passíveis e mesmo irreais de serem construídas e relatadas.
No dia 12/08/1945, por exemplo, a autora narrou as dificuldades para fazer a higiene pessoal: “O banho foi a chuveiro frio (no subsolo). Todas nuas num tablado de madeira. As torneiras altas para mim. Fora na porta escrito assim Nurses Only = só para enfermeiras. Sujeira para nós é mato.” No mesmo mês, no dia 17/08/1944, voltou a comentar sobre os banhos: “Aqui é o 105 Hospital. Às 16 horas banho (lá longe) “Nurses Only” – chuveiros – cabines pequenas – pouca água – tudo sem portas internas! Já perdemos o receio de estarmos à vontade – salve-se quem puder! Chuveiros altos, não alcanço, preciso de um caixote.” No dia 25/08/1944, apresentou outra forma de banho possível numa situação de guerra, “Ás 16hs,20 tomei um banho de chuveirinho (graças a Deus teve agua na torneira, mas lógo acabou! Sinto meu corpo tremer (mãos e abdomem) = Falta de alimentos, comi 2 bolachas _Ás 17hs,30 fui jantar e tirei o pae da forca (estava bom). Trouxe cigarros “Raleigh” cigarrets.”
Com a leitura do Diário de Guerra notamos a constante urgência de Altamira em obter notícias da terra natal e contar as situações diárias e sentimentais pelas quais passava. A ânsia por informações de certa forma apaziguava os medos da guerra. Ela escreveu cartas aos seus conhecidos e mesmo desconhecidos, praticamente em todo tempo livre que tinha, como em 02/03/45, quando apresentou algumas novidades coletadas das cartas: “(…) A mana Altina agóra é Diretora do Externato Dr. Domingos Queiroz de Moraes – av. Curuca 589 – Vila Maria S. Paulo. Veio tbem 1 carta de Carlos pª Palomo. Agóra, até responder tudo é preciso correr pª não acumular – Faltam as encomendas. Gostei muito do retratinho de José Emilio. Os americanos têm tido sempre baixas. São 21hs,00 – acabo estas notas – vou reler tudo – afinal não chuveu. Por sôrte encontrei + 1 carta q. não havia lido – foi um prazer.”
Para que cartas fossem trocadas foi necessário que a FEB montasse um serviço postal militar eficiente, garantindo aos seus homens e mulheres em guerra o envio e recebimento de seus escritos de forma segura. A correspondência durante um estado beligerante, mesmo em dias atuais, chega a ser estimulada por ser considerada uma das estratégias que mantém acessa a esperança de retornar à pátria natal dos que se encontram em meio a lutas sangrentas e confrontos devastadores.
O governo brasileiro estimulava a correspondência, inclusive veiculando chamadas oficiais nos jornais e rádios para que familiares, pessoas próximas e até mesmo estranhos escrevessem cartas de apoio aos membros da FEB. O intuito era manter os envolvidos entusiasmos, mais firmes e seguros na guerra. Como apoio, não havia cobrança postal para envio e recebimento das correspondências.
Para vocês terem uma ideia do quão era considerada importante a correspondência, há relatos de que cartas eram levadas à noite até o front de guerra para os soldados em combate.
Ainda neste contexto, foram instituídas as “Madrinhas de Guerra”, mulheres brasileiras voluntárias que tinham o ‘dever patriótico’ de ‘zelar’ por uma dada quantidade de membros da FEB, munindo-os, por exemplo, de cartas e pequenos presentes. As correspondências podiam conter pequenos ‘mimos’ como roupas, perfumes, revistas da época, discos. Uma instituição filantrópica ligada ao Estado Novo que fez esse papel foi a Legião Brasileira de Assistência (LBA).
Altamira fez referência em vários trechos à sua “Madrinha de Guerra”, Sinhá Samarão, como neste trecho:
“26-3-45-2ª feira: 32º FH B.V: __ Dormi bem, só acordei qdo chamaram 1 nurse pª operação, eram 4 da madrugada _ Levantei-me tarde, fiz café. Ida trouxe uma erva = radide, para salada e todo tempero. Recebi 1 cartão da Helena Ramos: boas noticias e avisando q. já estão pagando os 2 primeiros mezes de Fundo Previdencia, ótimo. Desci e emprestei meu “Safa Onça” pª o George. Ás 12hs,00 almoço _ Depois, resolvi não ir ao banho – está ameaçando chuva Escrevi então 3 cartas: Dr Raul Almeida Magalhães (meu diretor), Dr. Ernam de Moraes (meu dentista), Hilda Turano Bastos (prima e amiga); estava na O.R. Resolvi subir ás 14hs,30 – estava chovendo e eu vim correndo _ Cheguei no qto tomei café c/ biscoitos e depois anotei tudo. Escrevi para Viuva Samarão e enviei 1 retrato (ela é minha madrinha); escrevi pª Dr. Zeferino Bastos (tio Helio). Pina esteve aqui; falei-lhe sobre a família Gabizo; não conhece, talvez seja possivel em Bolonha. Ás 17hs,00 jantar _ gostei, estava com fome _ Tentei falar pª Lizzano – estrada dificil escorregando com a lama. O Major Alipio suspendeu o serviço na enfermaria – só tem 1 ferido italiano = as colegas agora estão livres e precisam descançar _ eu e Jura continuamos de prontidão na O.R. Terminei meu horario sem novidades – ando com sôrte – Jura fica por conta porq. de vez em qdo pega 1 amputação: civil italianos – minas __ Escrevi pª a querida mana Aurea e mandei o retratinho das balas. São 19hs,30 acabei de comer 1 apetitosa salada de radique c/ batatas que eu mesma preparei – agóra vou continuar escrever _ escrevi pª o Carlos e resp. 2 cartas dele numa só _ Jacyra chegou de Pistoia e disse que ha dias incendiaram 8 tendas: 4 brasileiras e 4 americanas pelo fogo que propagou da estufa elétrica do club – perderam tudo até dinheiro e o Souto quasi que morreu. Helena vae bem”
“2-Fev. 45 – 6ª feira 32º F.H.B.V: – Conversaram até e dormi + bem _ Tudo calmo no serviço – Horario de 24 ás 16hs – Café no qto. – Jura finalte foi pª Fl. com o Cel M.T. e Dr Monteiro _ Lavei a cabeça e banho esponja no qto _ Jacyra foi almoçar em Poggio – Carmem saiu c/ Rina – Dr. Breno corta as unhas do pé de Ignacia – Afinal chegaram as cartas: poucas: 4 pª mim de: Aurêa, Alpha, Arminda, Ito Ito – noticias normaes – na de Nenê umas linhas de Hercilia, Carmelita e Sinhá Samarão.”
Altamira em vários momentos narrou em seu Diário de Guerra o envio, recebimento e desvio de correspondências, presentes e encomendas. De acordo com a regulamentação do Serviço Postal da FEB, o corpo de participantes da guerra tinha uma lista de objetos permitidos e não permitidos para envio e recebimento. Eram permitidas encomendas como: chocolate, fumo e cigarro, produtos de higiene, fotografias e postais, artigos religiosos, entre outros. Valores monetários, em determinadas quantidades, somente podiam ser enviados ao Brasil e não ao contrário.
Encontramos no acervo familiar, este fragmento datilografado pelos censores, dando instruções sobre encomendas para a Itália.
Quanto às encomendas, Altamira arriscava seus envios, como nos dias 08 e 09/01/1945: “(…) O dia todo para mim, porém sem animo para nada _ cae a neve fortemente. Ás 12h almoço _ Tudo calmo _ Durante o dia marquei e separei roupa _ As 14,30 veio Pina e me trouxe 1 blusão pronto _ Ás 16h,30 jantar péssimo _ Cae a neve forte. Agóra côrro o dia inteiro (efeito das multi-vitaminas _ Ignacia veio com o Cayo visitar Neuza e Carmem e aproveitei pª levar 2 volumes encomendas meus para o Correio Central _ Passei a tarde toda a preparar mais outro volume grande contendo o seguinte: 1 bolsa tartaruga – 1 prato porcelana azul – 1 combinação jersey beije – 1 porta retratinho mosaico colorido – 1[ilegível] 2 peças – 1 sacóla e 3 panos beijes todos tipo florentino – 1 pano linho branco bordado colorido – 5 lencinhos (4 brancos linho – 1 seda azul) – 3 lenços cabeças 2 fantasia e 1 beije bordado á mão – 1 vassourinha mão – 1 cinto [rafia?] bordado – 1 bolsa couro de Acra com: bolsinha 6 moedas e 1 bolsa pª notas – 3 conchinhas Dakar – 1 retrato bento do Papa – 1 colhersinha taboa e 1 folha Sorrento _ Peço a Deus que encontre portador seguro e chegue para Aurêa_ Deitei-me.” (8-1-45)
“(…) entraram 5 feridos porém 4 não eram casos nossos foram evacuados _ só ficou 1 abdominal (…) estamos ainda sem luz, é um tempo precioso q. se perde cem poder fazer nada. Dos retratos que tiramos no dia 3 só aproveitamos 2 q. ficaram +. Preparei mais outra encomenda: 2 livros de missaes – 1 l. ingles “We Believe”. 1l.Florence – 1 l. Pistoia – 2 folhetos “American Red Cross” – 1 qdro Caterina – Cena Romana – Veneza – mother hood – 2 coleções postaes Firenze _ Roma – Pompei – Pisa – muito frio – estou resfriada.” (9/1/45)
Os desvios eram uma preocupação constante, como registrado em 25/03/1945, “Resolvi descer para reler tudo na O.R. e levar meu cantil para trazer agua fresca. Com a calma então verifiquei q. minha mana não recebeu encomendas (enviadas pelo correio e q. os seus 2 telegramas avisaram isto e no entanto os dizeres dos textos eram justate. o contrário: isto me faz desconfiar ainda mais da consciência do trabalho e talvez eu tome 1 solução energica pª esclarecer tudo. Comentei com o Zezé sobre o assunto e soube q. geralte levam + 3 mezes de transporte, sendo assim vou esperar e fiquei + sossegada. Como Jacyra irá amanhã em Pistoia aproveitei para felicitar Helena Ramos pelo seu natalício em Abril (soube pela carta da mana) Cheguei no qto e encontrei + visitas, Tobb, Pita Luca Jura cosinhou ovo e comeu egoisticamente – Senti fome: comi 1 sandwiche de queijo e cosinhei 1 batata inglesa q. levou + de 1 hora pª ficar bôa. Horario de 24 até 16hs de amanhã”.
“Quartel General de Pistoia _ Procurei seção correio – (…)tinha cartas para todos: 2 para mim 1 cartão de Mabel Shaux da C.A.E.F.E e 1 carta Nenê – imaguia q. recebeu a celebre carta q. não seguiu por Olga em mão e deixei aberta no Q.G. ha tempos (…).”
Dentre as encomendas recebidas por Altamira apareceram as revistas,
“Desci pª o breakfast e comecei logo a trabalhar: 3 amputações só terminamos ás 15,30 – Mj Moura esteve ligeirate na O.R; dei-lhe a pilha prismática. Tem estado muito ocupado e disse q. os alemães reforçaram este front com + 1 divisão. Subi apressada _ Pina afinal trouxe o meu casaco, que ficou lindo, alinhado! Todos gostaram. Tomei 1 banho – com prazer chegaram cartas e encomendas e fornecimento uniformes de verão: 3 cartas (Aurea – Nair – Dr. Raul de Almeida Magalhães e bôas noticias e 1 postal – Revistas: Sinteses – Cigarras – Seleções – Vamos ler – Carioca – Noite ilustradas – Colhiers – Cruzeiros – Brasil – Jornaes – Letras de canções populares – Doces de figo (azedos) = Aymoré; doces cristalizados (Lavínia). Tampax – distintivos – cadarço – Cristo (Aurea); meias de lã (Gilda) – 1 caixa completa de objetos de utilidade bem pensado da Associação Alunas Escola Ana Neri _ Estamos com as camas, cadeiras atulhados; não sabíamos onde guardar tanta coisa _ só de uniformes vejamos: 4 vestidos, 2 casaquinhos – 1 capa borracha – 1 impermeavel – 2 calças e 2 camisas listrosas – 2 camisas lã – 4 camisas beije – 2 calças pijamas – 1 polaina.”
No entanto, não se enganem caros leitores, nem tudo cabia num papel para envio postal durante a guerra. Por ser uma atividade considerada essencial para a sobrevida dos países envolvidos no conflito, este sistema era rigoroso. Havia o monitoramento restritivo sobre o quê os membros da FEB e seus correspondentes tinham liberdade para escrever ou não sobre o momento em que viviam. Eram tempos de censura.
A censura com as correspondências e mesmo outros meios de comunicação estava atrelada ao próprio estado de guerra, afinal, o objetivo era não deixar rastros e pistas para o inimigo e ao mesmo tempo não desestimular os membros da FEB. Afim, de direcionar as ações dos familiares e soldados foi criado o Manual de Correspondência. Vale lembrar que as normas restritivas do Serviço Postal Militar Brasileiro tiveram ainda que se adequar às diretrizes impostas pelo governo americano a quem a FEB estava subordinada na Itália.
Altamira deu indícios dos cuidados do que poderia e deveria escrever em suas cartas. Nem todos os assuntos eram permitidos. Os usuários do serviço postal não podiam identificar as bases e locais de combate; nem as cidades ou vilarejos próximos; retratar os estragos feitos pelos inimigos; a movimentação das tropas; os nomes dos comandantes do alto escalão. Caso contrário, teriam a correspondência censurada.
Em 18/08/1944, Altamira escreveu para a irmã e comentou os procedimentos e cuidados quanto ao conteúdo das cartas, “Escrevi para a mana – Para isto, temos instruções a observar: não dizer exatamente onde se encontra; não tocar em assunto militar, profissional recente; ser papel aéreo; assinar como remetente – o posto, o nome, o número codificado da nossa unidade (Serviço de Saúde) Nº 250 a princípio e mais tarde passou a 419 e as iniciais da “F.E.B.” Nota: Antes de expedidas será censurada a correspondência.”
Cada membro da FEB tinha um código simples – nome e número na FEB – para a correspondência e outros serviços. Quanto ao Manual, os familiares obtinham as mesmas informações. Por meio desse número era localizado o destinatário. Os soldados analfabetos conseguiam ajuda na leitura e escrita das cartas com os próprios colegas. A estas pessoas, o Serviço Postal oferecia alguns modelos de cartões padronizados (COSTA, 2008, p. 3-7).
Segue o Manual de Instruções sobre a correspondência particular para a FEB e dela para o Brasil. (Acervo Familiar)