Em 2022 a vinícola Aurora faturou R$ 756 milhões, a Salton R$ 500 milhões e a Garibaldi R$ 265 milhões, o vinho e a uva demonstravam ser um grande negócio, mas o que estava no subterrâneo ninguém sabia e agora veio a tona, o que há de mais desprezível, mais de 200 trabalhadores que prestavam serviços nos parreirais, nas cargas e descargas estavam vivendo em condições abomináveis análogas a escravidão.
Quando se fala em escravidão, vem a imagem daquelas pessoas acorrentadas e açoitadas no tronco, mas escravidão contemporânea tem outro paradigma, ela é econômica, seguida de ameaças, agressões, restrição de liberdade, falsas promessas, dívidas contraídas com o empregador e ainda a apologia da prática da submissão.
Essas vinícolas, as mais importantes do país eram reverenciadas pela mídia e os seus proprietários posavam de empresários bem sucedidos violando e desrespeitando a dignidade humana. Os trabalhadores levantavam as 4:00 com socos nas costelas e choques elétricos, sofriam ameaças constantes com spray de pimenta, apanhavam com cabos de vassoura, eram coagidos a permanecerem no local, comiam comidas azedas, não tinham acesso a água potável, as jornadas extenuantes e os salários atrasavam (quando recebiam).
Alojados de forma degradante contraiam dívidas com o dono da pensão para comprar alimentos e produtos de limpeza e o preço era muito acima de mercado incidindo ainda em juros, a dívida rolava e isso os impedia de voltar para casa ou desistir do trabalho virando escravo da situação.
As promessas, quando saiam da Bahia, estado de origem, era que iam ganhar R$ 2 mil no primeiro mês, e R$ 4 mil no segundo, com passagens e comida de boa qualidade, o que viram foram rotina de humilhações e violências. Uma força tarefa está encarregada do caso e esses trabalhadores já voltaram para casa, o processo está em curso.
Esse é o “capitalismo avançado e moderno” do Brasil que alguns preconizam mas que na verdade ainda é uma mancha do passado que lateja no presente. Que o futuro nos livre dessas abominações.