Nesta edição a Entrevista Especial é com Gino Ivair Bellon, atual presidente da ACE – Associação Comercial e Empresarial de Batatais. Casado com Valéria Baviera Bellon e pai de Mariana Baviera Bellon, Gino é empresário do setor de comunicação visual, completando, no próximo dia 18 de maio, 35 anos de serviços prestados. Amante do Carnaval, o nosso convidado também foi presidente da UESB – União das Escolas de Samba de Batatais no período de 2008 a 2011.
Jornal da Cidade – Gino, há quantos anos participa da diretoria da ACE Batatais e quais cargos ocupou?
Gino Ivair Bellon – A empresa Gino Comunicação é associada da ACE Batatais quase desde o início de suas atividades, assim, sempre participei de muitas ações da entidade. Como estava sempre presente, fui convidado a integrar a equipe de diretores, isso há mais ou menos 24 anos. Desde então, fui diretor de eventos, diretor de marketing, secretário e atualmente presidente, o que me deixa muito honrado. Sempre senti o dever de contribuir com nossa cidade e um dos caminhos é por intermédio da nossa associação, ajudando a fortalecer a economia do município e o desenvolvimento das empresas.
JC – Qual o foco da sua gestão como presidente da ACE?
Gino Bellon – Trabalhar com a equipe de diretores, colaboradores e associados para que a Associaçãos esteja preparada em todos os aspectos possíveis para os próximos 20 anos. Para isso, vemos, revemos e colocamos em prática estratégias que possam incrementar o crescimento do empresário batataense.
JC – E como a entidade vem contribuindo para o desenvolvimento econômico do município?
Gino Bellon – Na parte que compete somente à ACE, estamos trabalhando para o aprimoramento dos empresários com oficinas, cursos, palestras, missões empresariais à feiras de exposições e tecnológicas, firmando importantes parcerias para facilitar a rotina empresarial para os setores de comércio, indústria e prestação de serviços, realizando cafés da manhã com temas pertinentes. O empresariado batataense tem condições de crescer e gerar empregos, mas estamos esbarrando na morosidade do setor público, um distrito industrial que não sai, demora na emissão de alvarás, muita complexidade para destravar o município.
JC – As crises política e econômica dos últimos anos afetou muito Batatais?
Gino Bellon – Afetou sim! Grandes empresas geradoras de empregos na nossa cidade não têm contratado e, em muitos casos, até estão demitindo. No entanto estas crises não têm afetado as empresas como um todo, alguns setores sentiram mais. Quando estamos em crise procuramos alternativas para resolver o problema. Volto a repetir, se tivéssemos um aprimoramento melhor do setor público, certamente algumas empresas que não foram tão afetadas pela crise estariam gerando mais empregos. Senti isso nos empresários que estavam na audiência pública na Câmara Municipal que tratava sobre a liberação do Novo Distrito. Um empresário presente disse: “preciso de mais espaço pra trabalhar, tenho que tirar as peças prontas e colocar na calçada para poder produzir mais”.
JC – Quais setores sofreram mais os efeitos colaterais, comércio, indústria ou serviços?
Gino Bellon – O setor de comércio, pois a grande geradora de empregos é a indústria e o ramo de serviços, com a falta de empregos nesses setores tem menos pessoas com dinheiro disponível para comprar, o que chamamos de efeito dominó.
JC – O cancelamento das campanhas promocionais da ACE se deve aos problemas gerados pela economia do país?
Gino Bellon – Sim. Este ano tivemos que abortar as campanhas do Dia das Mães, Dia dos Namorados e Dia das Crianças. Nos últimos dois anos a adesão de associados à essas campanhas foi muito pequena, até gerando déficit, no entanto estamos trabalhando para fazer uma boa campanha de final de ano, o Natal Pé quente.
JC – Em sua opinião, os efeitos dessas crises já chegaram ao final?
Gino Bellon – Ainda não. No momento, a indefinição do setor público, principalmente no âmbito federal, não tem dado a confiança que os empresários precisam, mesmo tendo uma visão do horizonte um pouco mais claro.
JC – Os governos municipal, estadual e federal vêm contribuindo com os empresários para superar o período de dificuldades?
Gino Bellon – Muito pouco. Um dos maiores problemas de nosso país é a morosidade, burocracia e, em alguns casos, a falta de vontade. Enquanto os ‘lideres’ políticos não entenderem que o Brasil é uma enorme empresa e tratar o país como empresa, município, estado e federação, não haverá evolução e equilíbrio, assim todos sofrem, amargando prejuízos e dificuldades em todos os âmbitos.
JC – Existem medidas que podem auxiliar no combate do desemprego em Batatais?
Gino Bellon – Sim. Se apenas ficarmos reclamando e não agirmos a situação não vai resolver. O desemprego pode ser combatido com a melhor qualificação dos trabalhadores. A ACE oferece cursos e palestras, muitas delas gratuitas. A qualificação do colaborador garante o emprego, pois o empresário pode conseguir que o seu produto tenha uma qualidade melhor, com menos tempo de produção e assim as empresas conseguem estar no mercado vendendo os seus produtos. Pelo setor público, mais agilidade e menos burocracia.
JC – O Posto do Sebrae Aqui Batatais está correndo o risco de ser fechado por falta de apoio do poder público?
Gino Bellon – Sim, corre o risco de ser fechada a unidade aqui de Batatais. Temos um convênio assinado entre Sebrae, Prefeitura e ACE. O Sebrae e a ACE têm cumprido rigorosamente as suas partes, mas pelo lado do poder público nem uma folha de papel foi colocado lá. A ACE e o Sebrae já tentaram por várias vezes marcar uma reunião com a Prefeitura, nem resposta tivemos, para explicar, conforme o contrato com o Sebrae, que se faz necessário ter dois funcionários exclusivos para o Posto do Sebrae Aqui. A ACE tem bancado estes custos por quase dois anos e meio, com funcionários e material de consumo (papelaria). Como a ACE também é uma entidade que possui receita e despesas, não estamos conseguindo manter o pedido feito pelo Sebrae. Tanto a ACE como o Sebrae não estão medindo esforços para a continuidade do funcionamento do Posto do Sebrae Aqui, que foi uma conquista para a nossa cidade. Mas sem o poder público arcar com a sua parte, está difícil.
JC – A ACE vem acompanhando a liberação do Novo Distrito Industrial? Qual a sua opinião sobre essa questão?
Gino Bellon – Muita conversa e pouca Ação.
JC – E sobre o potencial turístico de Batatais, esse setor pode gerar mais emprego e renda?
Gino Bellon – Somos uma Estancia Turística, temos potencial para crescer, muitas destas ações para gerar mais emprego depende de investimentos, porque não procurar parcerias na iniciativa privada? A ACE pode colaborar.
JC – Como explorar melhor o turismo na cidade?
Gino Bellon – Por meio de parceria com a iniciativa privada. Temos muitos sonhos sobre como atrair mais turistas. Temos eventos que certamente atraem, como Carnaval, Festa do Leite, Festa Di San Gennaro, mas são eventos sazonais. Explora-se pouco o roteiro gastronômico, as belas praças, que precisam de melhor cuidado, o lago artificial com os quiosques ainda fechados, os casarões antigos de séculos atrás, o próprio Parque Náutico que deveria ter mais atenção. Os dois únicos atrativos que realmente recebem visitantes o ano todo, e não de maneira muito expressiva, são as Telas de Portinari e a Santuário Senhor Bom Jesus da Cana Verde. Já se falou muito mais em turismo por aqui, já tiveram várias tentativas, mas falta uma parceria forte com a iniciativa privada para causar uma evolução maior no setor.
JC – Como ex-presidente da UESB, acredita que o Carnaval de Rua de Batatais continua sendo uma atração turística?
Gino Bellon – Continua sim! Fica aqui uma sugestão, poderiam as escolas e blocos se unirem e começar a fazer as casas do samba (meados de agosto), eventos que foram promovidos com muita competência pela Difusora AM, desta forma os mesmos já poderiam ter uma renda, e o mais importante, os foliões já iriam pegando o gosto de novo pelo carnaval, se integrando mais com a sua escola ou bloco do coração, e ai provavelmente não teríamos a falta de integrantes para os desfiles. Os amantes dos desfiles já se organizariam para para ver os desfiles, tanto os de nossa cidade como da região.
JC – Os intervalos na realização do evento prejudicam a cidade?
Gino Bellon – Prejudicam sim. A incerteza de ter ou não o Carnaval de Rua de Batatais, as pessoas programam viagens e deixam o município no período, levando com elas os recursos financeiros que poderiam ficar em Batatais. Isso prejudica também a economia, em contrapartida, as outras cidades comemoram.
JC – Em sua opinião, o Carnaval de Rua precisará sempre de investimento público?
Gino Bellon – Precisa de investimentos tanto do setor público como das escolas e blocos. A conta não pode ficar somente com o poder público. As escolas de samba podem promover eventos durante o ano para ajudar no orçamento. Batatais tem muita história, referência em carnaval de rua. Deixar essa cultura rica acabar é virar as costas para parte da história do nosso município. Um detalhe que vale ressaltar, quando fui presidente da UESB a verba que era passada pela Prefeitura, nunca precisei usá-la na totalidade, todos os anos sempre sobrou dinheiro.
JC – Quais outros eventos ou atrações turísticas de Batatais que deveriam ter mais atenção do poder público ou da iniciativa privada?
Gino Bellon – A Festa do Leite é muito promissora. O poder público deve trabalhar junto com as associações da cidade para tornar a Festa do Leite não só uma festa, mas uma grande feira para gerar negócios e, consequentemente, empregos. Das atrações turísticas, rever a forma de como está, fazer parceria com a iniciativa privada é primordial.
JC – Atualmente, a Festa do Leite é o evento de maior destaque? A ACE irá participar nesta próxima edição?
Gino Bellon – Acredito que seja realmente o evento de maior destaque. Insisto em afirmar que precisamos de maior atenção na parte de exposição, de feira na Festa do Leite. No formato como atual não está gerando divisas para o município. Temos que ter parte dela como feira para gerar negócios. A ACE pode ajudar muito nessa parte.
JC – O prefeito José Luis Romagnoli não nomeou nenhum profissional para a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico. Isso prejudica o município em que sentido?
Gino Bellon – Prejudica muito. Eu como empresário entendo que quem gera empregos e receita em pagamento de impostos são os empresários. Teríamos que ter uma Secretaria com um profissional focado na pasta, com liberdade para trabalhar. A situação do pais não está como nós queremos. Já passamos por muitas delas. Devemos fazer o trabalho de casa. Quando se tem uma Secretaria de Desenvolvimento Econômico que dá apoio ao empresariado fica mais fácil de resolver muitos problemas. Não adianta ficar esperando que se melhore no âmbito estadual ou federal. Se não ter ação a “coisa” não sai do lugar.
JC – Tem alguma questão que o senhor queira colocar que não lhe foi perguntado e que seja relevante?
Gino Bellon – Nesses tempos de globalização que tudo se transforma muito rápido, tudo que se tentar fazer a ferro e fogo não vai dar certo. Com parcerias de vários setores da sociedade, ouvindo, questionando, trabalhando e focando no que se realmente quer e precisa, as coisas acontecem mais facilmente.