No mês de abril fizemos uma reportagem sobre a experiência desafiadora que se iniciava em Batatais para a Rede Municipal de Ensino, onde os professores precisaram se reinventar para dar aulas à distância por conta da pandemia da Covid-19. Na oportunidade falamos com a Professora Fabiana Nazar e também com a aluna Maria Clara Rosa Amorim, do 4º A, da Escola Ana Bonagura de Andrade. Nesta semana mantivemos contato com as duas, desta vez para uma avaliação do trabalho desenvolvido ao longo de sete meses, com intensidades nas atividades, apesar da distância.
JC – Bem Fabiana, como foi construir uma proposta de ensino a distância durante o ano em curso?
Fabiana Nazar: Construir uma proposta de ensino à distância não foi fácil. Porém tivemos o apoio e a mediação da equipe escolar: gestão, professores e funcionários. Juntos fomos seguindo firmes durante a fase de isolamento, ensinando através das atividades remotas, reinventando nossa prática pedagógica e buscando estratégias para otimizar a aprendizagem dos alunos. Foi muito bacana compartilhar ideias, informações e sugestões de vivências que deram certo. Nos grupos, os professores se ajudavam e trocavam, a todo momento, palavras de incentivo e se ajudavam mutuamente. Quanta solidariedade e apoio mútuo…
Criamos possibilidades e fizemos dar certo. Fomos (e somos) luzes, incentivando quem estava desanimado. Nos reinventamos e tudo isso gerou união, aprendizado e muita emoção.
Contamos com o apoio ativo da Secretaria de Educação, que nos auxiliava diariamente, dando-nos suporte e segurança em cada fase que surgia em meio a tantas novidades e notícias de instabilidade.
Vale ressaltar ainda que, o apoio das famílias foi fundamental. Nunca contamos tanto com a parceria das famílias. E realmente isso fez toda a diferença.
Não foi fácil, mas com a união e boa vontade de todos, conseguimos fazer um trabalho muito bom!
JC – Qual a avaliação do resultado conseguido com os alunos?
Fabiana Nazar: Cada aluno tem sua singularidade. Cada aluno é único e, sendo assim, cada um tem seu tempo para aprender.
Todos os alunos (da minha sala) conseguiram atingir os objetivos propostos para o ano escolar.
O esforço foi coletivo: parceria das famílias, crianças e professores. E mesmo com atividades remotas, os alunos conseguiram aprender muitos conhecimentos formalizados que a escola passou. Além dos conhecimentos “de vida” que as famílias passaram nos momentos que estavam juntos.
JC – É possível afirmar que, ao contrário do que algumas pessoas dizem, não foi um ano perdido para a Educação?
Fabiana Nazar: Ano perdido??? Fico muito pensativa quando ouço alguém falar isso. 2020 foi atípico, mas não perdido. Um ano em que aprendemos tanto, em todos os sentidos, não foi perdido. Nunca nos unimos tanto em orações e em atitudes. Nós reconstruímos e reaprendemos a falar com Deus e a viver em família. Quantas famílias estavam distantes por falta de tempo e a pandemia oportunizou essa união, essa reaproximação.
E no que diz respeito à educação? Foi maravilhoso ver as famílias auxiliando as crianças, ensinando e aprendendo conteúdos que não sabiam, vendo as videoaulas dos professores junto com as crianças. Quanta descoberta!!!
O ano foi atípico sim, mas pudemos aprender muito, professores, alunos e famílias. Todos pudemos aprender mais sobre as novas tecnologias, utilizando-as como ferramenta poderosa no ensino e aprendizagem. Além disso, os alunos tiveram a oportunidade de aprender os conteúdos específicos para seu ano, de forma remota. Posteriormente, na fase onde era possível fazer grupos de aprendizagem, os professores fizeram atendimentos presenciais para dar suporte aos alunos que necessitavam.
Outros professores fizeram atendimentos presenciais com os demais alunos, oportunizando que todos os alunos pudessem tirar suas dúvidas e aprender de maneira presencial, de forma segura, além de poder matar um pouco das saudades de alguns amigos.
Os atendimentos foram realizados com as crianças que tiveram a autorização dos pais para ter essas aulas, em grupos de 4 alunos, com duração de 1 hora e meia e com todos os protocolos de segurança.
Os professores puderam observar se as habilidades foram consolidadas, dando condição à continuidade do aluno para o próximo ano letivo.
O ano não foi perdido. O ano foi bem diferente do que estávamos acostumados e valeu a pena, pois tivemos muitos ensinamentos e descobrimos estratégias para podermos continuar avançando e vencer tudo isso.
JC – O que tirar de positivo dessa experiência para a retomada do trabalho em 2021?
Fabiana Nazar: Podemos tirar muitas coisas positivas dessa experiência para a retomada do trabalho em 2021. São muitos pontos positivos, mas vou resumir em alguns fatos fundamentais:
• A união que permeou os lares, entre os familiares, possibilitando maior integração e interação. Dessa forma, ficou mais fácil fazer as atividades escolares;
• A utilização das novas tecnologias e o empoderamento dos educadores sobre elas;
• A reconstrução da prática pedagógica, mostrando que tudo é possível desde que haja boa vontade e auxílio;
• A força e a persistência do professor, que assumiu um novo papel diante da pandemia, se reinventando, se reconstruindo e transformando sua própria casa em sala de aula, não tendo intervalos de aula, pois fazia atendimento virtual a todo momento e a qualquer dia. Foi um ano em que os professores não tiveram recreio e muito menos fins de semana. E fizeram tudo com boa vontade, empenho e dedicação, mesmo enfrentando muitas opiniões negativas de muitos cidadãos da nossa sociedade;
• A parceria família escola, que se fortificou ainda mais, mostrando que o apoio familiar é fundamental na aprendizagem bem-sucedida do aluno;
• O papel importantíssimo do professor. Não há tecnologia capaz, por mais avançada que seja, que substitua o professor, com seu lado humano, sentimental e fundamental à vida dos alunos.
• Projeto Jogos Matemáticos/REMAR: a aprendizagem bem-sucedida dos alunos através de jogos disponíveis na Plataforma REMAR. O ensino da Matemática através de jogos (Matemática Gameficada), podendo ser utilizado de forma presencial ou remota, oferecendo também a possibilidade de reuso e reutilização de jogos, com a customização pessoal e autoral do aluno.
JC – Qual sua expectativa para o retorno das atividades presenciais?
Fabiana Nazar: Que seja possível aprender e ensinar com a presença marcante de pessoas especiais: professores, alunos e amigos, num ambiente rico em alegria, motivação e conhecimentos. E compartilhar, diariamente, muito amor, alegria e aprendizado.
Que possamos voltar para a escola, todos juntos, com amor, união e sobretudo SEGURANÇA. Voltar com os devidos cuidados e com os protocolos de segurança. E que a vacina se torne um fato real, nos libertando dessa fase difícil que passamos. E que esta fase seja apenas um capítulo nos livros de História.
Depoimento
A aluna Maria Clara Rosa Amorim nos enviou um relato sobre como foi o ano escolar virtual: “Não foi fácil aprender a ficar longe dos professores e dos meus amigos. Mais com o apoio da escola, da Tia Fá, do Tio Paulo e da Tia Silvia estamos conseguindo aprender e esse ano não será perdido! A Tia Fá não tem hora para ensinar, você pode enviar mensagens à noite, o horário que for que ela ajuda e orienta nas atividades. Estamos seguindo juntos e fortes! Vamos que vamos não é Tia Fá?”, disse.