O ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro anunciou, nessa semana, que colocará seu nome à disposição de uma candidatura à presidente pelo Podemos, partido ao qual se filiou na semana passada. O impacto de sua candidatura, se ela se concretizar, vai definitivamente afetar tanto as pretensões do ex-presidente Lula, do presidente Bolsonaro e do grupo da chamada “terceira via”. Essa constatação é praticamente unanimidade no meio político.
Como já escrevi anteriormente nessa coluna, hoje temos uma polarização bem sedimentada nas intenções de voto para 2022, entre Lula e Bolsonaro, mas não se pode desconsiderar a possibilidade de um outro candidato ir para o segundo turno. Esse candidato seria impulsionado pelo eleitor “nem-nem”, aquele que não tem a intenção de votar nem em Lula, nem em Bolsonaro. Pelos números das pesquisas atuais, mais de 40% estariam nesse grupo, e poderiam escolher diferente, dependendo de quem for esse candidato. É nesse grupo que o juiz Moro quer entrar.
Logicamente, existem outros nomes que também tem a intenção de cair no gosto desse eleitorado, caso de Ciro Gomes (PDT), João Doria e Eduardo Leite (ambos do PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Rodrigo Pacheco (PSD) e Simone Tebet (MDB), entre outros menos cotados. Mas Moro possui dois diferenciais desse grupo, de grande importância para a próxima eleição: ele é político, e tem um rosto já bem conhecido do eleitor, em todo país, por ter sido colocado sob os holofotes na última década por causa de sua atuação como juiz dos processos da operação Lava Jato, sendo tratado como símbolo do combate à corrupção durante anos, atingindo alta popularidade no auge da operação.
Para se ter uma ideia do nível de interesse do eleitor pela candidatura do ex-juiz, as buscas pelo tema “Sérgio Moro” no Google cresceram mais de 600% nas 24 horas após sua filiação, na manhã da quarta-feira (10/11), segundo dados do Google Trends.
A candidatura do ex-juiz causa preocupação em Lula, que visualiza a possibilidade de Moro chegar ao segundo turno com chances de derrota-lo, o que não acontece hoje com Bolsonaro, em vista de sua altíssima rejeição. No segundo turno contra Lula, Moro naturalmente herdaria praticamente a totalidade dos eleitores de Bolsonaro, inimigos de primeira linha do petista, fato que poderia definir a eleição.
Por outro lado, Moro também incomoda Bolsonaro, primeiro porque se apodera de seu discurso anti-corrupção. Moro vai dizer entre outras coisas, que mandou prender Lula, e que saiu do governo Bolsonaro quando descobriu o esquema das rachadinhas e a união do presidente com o Centrão. O ex-juiz já entra na disputa com quase 10% das intenções de voto, segundo pesquisas realizadas na semana passada, à frente de Ciro Gomes, e tirando votos de Bolsonaro. Num segundo turno contra Bolsonaro, cenário este pouco provável, Moro captaria a maioria dos votos da esquerda, e venceria o atual presidente.
O eleitor que votaria em Moro para presidente hoje é composto basicamente por eleitores “órfãos do PSDB” no sul, sudeste e centro-oeste, eleitores que consideram a corrupção o principal problema do país, e têm uma tendência conservadora, e que optaram por Bolsonaro em 2018 e agora estão insatisfeitos. Ter a imagem fortemente associada à pauta anticorrupção é um ponto a favor de Moro caso dispute a Presidente contra Bolsonaro e Lula, cujos governos tiveram que lidar com uma série de escândalos.
Mas o fato de Moro ser bastante conhecido, também faz com que sua rejeição seja alta. Eleitores do PT consideram que ele perseguiu injustamente o ex-presidente Lula, seguidores de Bolsonaro o tratam como traidor, e para outros tantos, ele simplesmente não é simpático. Isso é um fator de peso no primeiro turno, e Moro terá que reverter tudo isso junto ao eleitor para conseguir crescer nas pesquisas e lutar por uma vaga no segundo turno da eleição presidencial.
Outro fator importante na eleição de 2022, será o posicionamento dos candidatos para a política econômica a ser adotada. Se forem mantidas as previsões de que a situação econômica no ano que vem vai pior do que hoje, o assunto vai adquirir o protagonismo que não teve em 2018. E nesse tema, o único que já sai perdendo é Bolsonaro. Acompanhemos!