Na última semana, o Presidente Jair Bolsonaro revelou a intenção de indicar seu filho Eduardo Bolsonaro para ocupar o posto de Embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Exaltou como qualidades para a indicação: o fato de ser filho do presidente do Brasil; que Eduardo é “amigo” dos filhos de Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos; fala inglês e espanhol; tem uma vivência muito grande no mundo.
Eduardo Bolsonaro é deputado federal pelo PSL e foi eleito com 1.814.443 votos. As pessoas que o elegeram certamente esperavam que ele as representasse no Congresso Nacional nos próximos quatro anos e isto já seria motivo mais que suficiente para não aceitar a indicação.00
Mas ele parece obstinado em ser embaixador e, na defesa da candidatura, exaltou sua amizade e simpatia pela Família Trump; disse que “fritou” hamburgers no estado americano do Maine. Como notou que isso parecia pouco, disse que tinha pós-graduação em economia. Porém, ainda não a tem. Está cursando.
Com todo respeito, é pouco para um cargo tão importante.
Tradici-onalmente, a embaixada brasileira nos Estados Unidos sempre foi ocupada por uma diplomata de carreira.
Os diplomatas são funcionários públicos concursados e vinculados ao Ministério das Relações Exteriores.
O concurso público é realizado em quatro fases, onde são exigidos conhecimentos sobre economia, direito internacional, economia, história mundial, política internacional, além de fluência em português, inglês, espanhol e francês. Está entre os concursos públicos mais difíceis do país.
Se aprovado, o diplomata ainda é submetido a mais dois anos de formação, em período integral, no Instituo Rio Branco. Só depois passará a trabalhar efetivamente nas funções de carreira. O currículo do curso está disponível no site http://www.institutoriobranco.itamaraty.gov.br/curso-de-formacao. Uma leitura rápida dá a noção do quanto é exigido para ser diplomata.
A assunção de uma embaixada é, via de regra, reservada para os diplomatas no topo da carreira. Isso não é por acaso. O Embaixador é responsável pela representação brasileira no exterior, que envolve conhecimento sobre questões de política internacional, comércio exterior, negociações internacionais, a prestação de assistência a brasileiros no exterior, dentre outras atividades.
Penso que Eduardo Bolsonaro deveria ser humilde e recusar a nomeação. O fato é simples: ele não está preparado para o cargo. Não tem formação, nem mísera experiência para exercer um cargo tão importante.
Aliás, em mais uma das inúmeras contradições do Presidente da República, a nomeação parece contrariar a tal “meritocracia”.
A amizade com os Trump não é relevante para qualificá-lo como embaixador. A diplomacia trata de interesses do Estado brasileiro e de sua população. Muitas vezes, os interesses estão contrapostos e, neste caso, a amizade não é relevante e pode ser prejudicial. Aliás, fica a impressão de que os Bolsonaro não conseguem fazer está tão óbvia distinção.
A alegada “amizade” de Eduardo com os Trump não está muito clara e é preciso ter consciência que os estadunidenses não são tão afáveis e receptivos quanto brasileiros. Caetano Veloso escreveu em “Americanos”: “Para os americanos branco é branco, preto é preto / (E a mulata não é a tal) / Bicha é bicha, macho é macho, / Mulher é mulher e dinheiro é dinheiro / E assim ganham-se, barganham-se, perdem-se / Concedem-se, conquistam-se direitos. Também me parece que os Bolsonaro não têm esta distinção muito clara.
Particularmente quanto aos Trump, entre os interesses pessoais deles, os interesses dos EUA e a amizade com Eduardo Bolsonaro, acho que esta não fica nem no terceiro plano.
Em suma, quero dizer: a dita amizade pode mais prejudicar do que ajudar.
E neste aspecto é preciso considerar que os Estados e Municípios americanos são bastante independentes em relação ao governo federal e nem todos estão alinhados com Trump. Os negócios americanos estão representados por lobbies poderosíssimos no Congresso e nas Câmaras de Comércio e, portanto, não se submetem ao Presidente. Me parece que os Bolsonaro também não têm esta distinção muito clara.
Por tais razões é que a embaixada do Brasil nos EUA sempre foi ocupada por um diplomata de carreira, que conhece os meandros da política internacional e é treinado para lidar com todos os setores da política e da economia.
Eduardo Bolsonaro não está apto ao cargo (e parece que Jair não está apto a indicar embaixadores).