O entrevistado dessa semana é uma pessoa extremamente carismática. Profissional da saúde, referência de atenção e com histórico de bons serviços prestados: Ricardo Mele Filho, ou simplesmente o Dr. Ricardinho, como é conhecido por toda a comunidade. Apesar de ser um médico muito requisitado, a população o cobra pela participação na vida pública, se candidatando novamente. Ele foi uma única vez candidato a vice-prefeito na então chapa encabeçada por Sebastião Mazzaron. Mas, vamos a entrevista, com respostas que revelam as avaliações de uma pessoa preparada e atenta aos acontecimentos da cidade.
JC – Ricardo, vamos a sua apresentação:
Ricardinho: “Primeiramente quero cumprimentar o José Paulo e toda equipe do Jornal da Cidade, que está fantástico, parabéns pelo excelente trabalho. Meu nome é Ricardo Mele Filho, farei 40 anos nesse mês, minha esposa é Paula Carina, e meus filhos, Marina Mele, de 16 anos, e Ricardo Mele Neto, de 12 anos. Sou médico Cirurgião Geral, formado e exercendo a profissão há 14 anos.
JC – Ricardo, como médico você tem uma visão diferenciada sobre o tema saúde. Qual a sua opinião sobre o Sistema Único de Saúde no Brasil?
Ricardinho: O SUS na teoria é o melhor sistema de saúde do mundo, onde o estado ‘garante’ assistência à saúde para ‘todos’ os brasileiros. Na prática, sabemos que é um sistema inviável e falido, com filas astronômicas para consultas, exames e cirurgias. Há falta de recursos para a imensa demanda, com escassez de leitos, de medicamentos e de tantas outras necessidades do nosso povo.
JC – Se é único, porque em algumas regiões o SUS funciona melhor e em outras nem tanto?
Ricardinho: Na realidade, o Governo Federal garante saúde para todos, de acordo com a Constituição, mas repassa os recursos e a responsabilidade de gestão do SUS para os municípios. Portanto, cada município é responsável pela gestão do SUS na sua população, por isso há essa discrepância do SUS em diferentes regiões do país e em diferentes cidades. Onde há melhor gestão e mais recursos, o SUS funciona melhor, e vice-versa.
JC – Em Batatais, a população pode se considerar bem atendida? Porque?
Ricardinho: Para responder essa pergunta, teríamos que fazer uma comparação entre a nossa cidade e alguma outra. Me lembro quando fui reprovado no vestibular, fui justificar para o meu pai citando vários amigos que também não tinham conseguido passar na prova. Meu pai, muito sábio, retrucou citando vários que haviam sido aprovados. Portanto, certamente existem cidades em que o SUS funciona muito melhor que na nossa cidade e outras que funcionam muito pior. Mas, não fugindo da pergunta, de um modo geral, o SUS em Batatais funciona bem. Temos um Hospital muito bem equipado, em que mais de 80% dos pacientes internados e tratados são do SUS, com Centro Cirúrgico e UTI de primeira linha, serviço de Hemodiálise, agora oncologia, quantidade e qualidade satisfatórias de leitos para internação, unidade de cuidados paliativos, UPA, UBS, serviços de Saúde da Família, somos uma cidade polo de atendimento do Vale das Cachoeiras, conseguimos resolver aqui boa parte dos problemas de saúde da nossa população.
JC – Ainda há muitas reclamações nessa área por parte dos munícipes. O que precisa melhorar no seu ponto de vista?
Ricardinho: Desburocratização da saúde, plantonistas nas UBSs para diminuir o movimento caótico da UPA, valorização dos profissionais, com pagamentos em dia, o que não acontece com o sobreaviso médico de urgência e emergência, com médicos especialistas trabalhando de forma desmotivada, sem a mínima valorização. Saber reconhecer prioridades para boa utilização dos escassos recursos. Parceria com o nosso Hospital, que hoje conta com uma provedoria forte e bem-intencionada. Parceria com a nossa Unimed, entre outras ações.
JC – Também há reclamações de falta de medicamentos na Rede Pública. Como as pessoas que não têm condições financeiras devem proceder para continuar seus tratamentos?
Ricardinho: Medicamentos e tratamento das pessoas tem que ser uma das prioridades, e o SUS tem obrigação, perante a Constituição, de oferecer isso às pessoas. Infelizmente, devido às condições precárias do sistema, temos um aumento substancial de processos judiciais de pacientes usuários do SUS, reivindicando seus tratamentos. Esse é um outro ônus gigante do nosso sistema de saúde, que os municípios têm que arcar. Aos pacientes, cabe a orientação de que têm direito e devem reivindicar.
JC – A Unidade de Pronto Atendimento de Batatais (UPA) foi uma conquista para o município nos atendimentos de urgência e emergência?
Ricardinho: Na minha opinião, a UPA foi um presente de grego. O governo federal financiou a construção, mas não deu a devida manutenção. A cidade teve que dispor de toda a estrutura necessária para um serviço de pronto atendimento de urgência e emergência, desde a parte estrutural como a parte humana, que inclui funcionários da recepção, limpeza, administração, além de todos os profissionais da área da saúde, estrutura essa que já dispúnhamos no nosso Hospital. Portanto isso gerou um gasto astronômico para o município e que não mudou muito em termos de resolutividade, visto que já tínhamos o serviço acontecendo no Hospital. Veja bem, não estou julgando o prefeito de ter construído a UPA, qual prefeito não ia querer uma UPA na sua cidade? Mas me lembro, que na época da construção das UPA´s no Brasil, Orlândia ia ser agraciada com a construção de uma unidade, mas o Secretário da Saúde de lá até devolveu recursos para a União, rejeitando a UPA, devido gastos excessivos que a cidade iria ter, sem melhorar resolutividade. Ele foi duramente criticado na época, mas depois a população entendeu e a Prefeitura se manteve com as contas equilibradas e com os pés no chão.
JC – É comum ouvir que esse tipo de atendimento deveria ser feito pelo Hospital Major Antônio Cândido. Qual sua opinião? .
Ricardinho: Eu sempre fui a favor de que o serviço de Pronto Atendimento se realizasse no Hospital, mas aí a UPA teria que ser reestruturada para prestar um outro serviço, poderia ser uma AME (Ambulatório Médico de Especialidades), que é bem resolutiva no estado de São Paulo. Não dá para ter dois serviços públicos de pronto atendimento na cidade, não há condições nem financeira e nem estrutural.
JC – Conforme o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta comentou em sua entrevista no programa Roda Vida, da TV Cultura, exibido no dia 27 de maio, o atendimento do SUS tem que ser cobrado, acabar com a ‘gratuidade’?
Ricardinho: O SUS deveria cobrar das pessoas que têm condições financeiras, e ser gratuito para aqueles que realmente precisam. Se o Sílvio Santos solicitar remédios que ele faz uso o SUS é obrigado a pagar, isso é absurdo, mas é a realidade. Acho que o Governo Federal e o Ministro da Saúde estão corretos de iniciar essa importante discussão.
JC – Naturalmente, você acompanha a política de modo geral, por ser militante e também pelo seu pai ser político reconhecido na cidade. Desta forma, como avalia a atual Administração Municipal?
Ricardinho: Acho que a atual administração está péssima. A impressão que dá, como cidadão, é de que Batatais está realmente abandonada, ruas esburacadas, povo sem emprego, pessoas tristes, os mais otimistas esperando dias melhores, que não chegam. Quantas e quantas promessas essa administração fez e não cumpriu? Prometeram ser a melhor administração que Batatais já teve, máquina de Ressonância para fazer os exames aqui em Batatais nos primeiros três meses de governo, recapeamento de toda cidade como medida emergencial já nos primeiros meses, câmeras de segurança por toda a cidade, Distrito Industrial de primeiro mundo, Mcdonald´s, carnaval e Festa do Leite durante os quatro anos de mandato, enfim, mais uma vez, um oceano de promessas para nenhum balde de realização. Lamentável. Os políticos deviam ser responsabilizados por não cumprirem promessas de campanha, isso engana o eleitor, não dá mais para fazer política desse jeito, o povo não aguenta mais isso.
JC – As necessidades do município e da população estão sendo atendidas, das básicas às mais prioritárias?
Ricardinho: Pensando em tudo que foi prometido por esse governo, certamente não. Os batataenses estão desassistidos.
JC – A atuação dos vereadores da Câmara Municipal de Batatais é condizente? Há equilíbrio entre situação e oposição?
Ricardinho: Os vereadores são pessoas idôneas, honestas e trabalhadores, com boa intenção para com a nossa cidade, mas há uma clara maioria da situação sobre a oposição desde o início desse desastroso mandato do prefeito.
JC – Em sua opinião, o que está faltando para o desenvolvimento acompanhar o crescimento de Batatais? O que o apontaria como principal prioridade?
Ricardinho: Eu penso que para a cidade voltar a crescer e se desenvolver economicamente, precisamos cuidar primeiramente das questões mais básicas, saúde como pilar básico de qualquer administração, porque a saúde é o maior bem que podemos ter; cuidar do asfalto, que é básico, importante, que está intransitável por toda cidade; o Distrito Industrial que tem de sair do campo da promessa e virar realidade. Me lembro de um projeto do então vereador Professor Moraes, que sugeria colocar Batatais como referência em inox, com várias propagandas nesse sentido, visando atrair investidores e turistas para a nossa cidade, achei muito interessante o projeto na época, e nada foi feito nesse sentido. Revitalização dos nossos pontos turísticos estratégicos; manter nossas festas tradicionais, sem interrupções desnecessárias, enfim, cuidar do básico da nossa cidade, assim o desenvolvimento acontece, tenho certeza.
JC – Há praticamente um ano das convenções partidárias, o Ricardinho já pensou no seu futuro político? Tem planos para disputar a eleição como candidato a Prefeito?
Ricardinho: Na eleição passada, ventilava-se a possibilidade de eu ser candidato a prefeito, inclusive eu tive condições de conseguir um amplo apoio, de um grande número de pessoas e de partidos, mas eu não achei que fosse o momento de abandonar minha carreira como médico para ser candidato. Na época, o meu amigo, conhecido ‘Galã’, pai do ex-prefeito Eduardo, me disse: ‘Ricardinho, não é você que será candidato a prefeito, o povo vai te colocar como candidato, e isso acontecerá na hora certa’. Eu não tenho sonho de ser prefeito, não tenho vaidade nenhuma nesse sentido, prefiro muito mais ser um médico querido da população, do que ser prefeito, ainda mais na atual conjuntura da política brasileira. Minha família não quer e eu não quero, mas, quando for a hora certa, eu não me curvarei de colocar meu nome à apreciação, não me curvarei de tentar melhorar a vida dessas pessoas de Batatais, que demonstram tanto respeito e carinho por mim. Hoje tenho 40 anos, mais maduro, já fiz mais de 3 mil cirurgias em centro cirúrgico, mais de 10 mil cirurgias ambulatoriais, já vivenciei problemas de saúde de grande parte da população batataense, tentando aliviar o sofrimento quando dava para aliviar, curando doenças quando Deus e a medicina permitiram e chorando a morte quando não teve jeito. Não fiz riqueza financeira na profissão, mas fiz um legado de pessoas queridas, principalmente pessoas carentes, que gostam de mim, e veem em mim uma esperança de que talvez, como político, eu possa ajudar as pessoas que mais precisam. Ainda estou sem partido desde que saí do DEM na última campanha política, e ainda tenho aproximadamente seis meses para pensar e me filiar em alguma sigla, e posteriormente tomar a decisão de ser ou não candidato.
JC – Nessa hipótese, quem seria um bom candidato a vice-prefeito para compor com o senhor?
Ricardinho: Eu queria conseguir fazer o Irmão Francisco ficar os quatro anos rsrs. Na realidade, nossa cidade tem a felicidade de ter muitas pessoas maravilhosas, eu seria até injusto de citar apenas alguns nomes. Eu citei o irmão Francisco porque ele sabe da minha verdadeira admiração por ele, então foi uma citação totalmente despretensiosa.
JC – Muitos batataenses comentam que o município é carente de novas lideranças e, por isso, sempre os mesmos estão voltando para o governo. Qual a sua opinião sobre isso?
Ricardinho: Concordo totalmente. Tirando os quatro anos do governo do PT, que na época foi uma epidemia em todo Brasil, nós somos administrados pelo atual prefeito ou por quem ele indicou desde 1996, ou seja, mais de vinte anos. Passou da hora de mudar.
JC – Como médico da Rede Pública de Saúde, tem receio de perseguições caso decida disputar o pleito, que possam prejudicar o seu trabalho?
Ricardinho: Tenho esse receio, não por mim como médico, porque tenho meu consultório, sou médico cooperado da Unimed, e consigo trabalhar até com mais qualidade de vida sem ser médico da rede pública, mas eu jamais queria deixar de atender os pacientes do SUS, porque foram esses pacientes que me trouxeram toda a realização profissional e pessoal que eu tenho hoje. Gratidão é a maior riqueza que o ser humano pode ter, e isso eu tenho, gratidão pelas pessoas que tanto me respeitam.
JC – Tem alguma questão que queira colocar que não lhe foi perguntado e que seja relevante?
Ricardinho: Não. Na verdade, vocês perguntaram demais rsrs. Se eu puder, prefiro retirar algumas perguntas rsrs. Brincadeira. Vocês são muito profissionais, e novamente parabenizo por não nos deixar sem a imprensa escrita que é insubstituível e agradeço a lembrança do meu nome para participar dessa entrevista.