A Justiça condenou o empresário Sebastião Francisco de Abreu Neto, dono da escola responsável pelo treinamento que terminou com nove mortos na gruta Duas Bocas, em Altinópolis, a quatro anos de prisão por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
Além da pena, Abreu Neto também foi condenado a pagar R$ 50 mil aos familiares de cada uma das vítimas por danos morais, totalizando R$ 450 mil. Ele vai responder em liberdade.
Em reportagem realizada pelo portal g1, o advogado de defesa do empresário, Wesley Felipe Martins dos Santos Rodrigues, informou que respeita a decisão, mas vai recorrer por não concordar com a sentença. “Não foi a Real Life quem ministrou o curso, e sim a pessoa física do Celso Galina, o qual era extremamente qualificado para tanto. Ainda assim, o acidente se deu por causas naturais, visto que a gruta era aberta ao público”, disse.
O acidente aconteceu em outubro de 2021, quando bombeiros civis de Batatais foram soterrados no desabamento da gruta, que fica na zona rural da cidade.
O Promotor do caso, Ivan Cintra Borges chegou a afirmar à época que o curso de busca e salvamento na gruta, vendido pela escola de Abreu Neto, não poderia ter acontecido no formato definido.
Segundo ele, a empresa não forneceu sequer capacetes a todos os inscritos, que precisavam fazer rodízio para usar os equipamentos.
Em dezembro de 2021, a Polícia Civil já havia indiciado Abreu Neto. Segundo o delegado Rodrigo Salvino Patto, responsável pelo inquérito, o dono da escola não deveria ter permitido o curso na gruta por causa das más condições climáticas da região no dia do treinamento.
Na época, o delegado afirmou que o acidente ocorreu por ‘fato extraordinário da natureza’, mas ressaltou que o curso deveria ter sido cancelado por causa do mau tempo.
Grupo soterrado e mortes
O curso de busca e salvamento em caverna teve início na tarde de 30 de outubro de 2021. Na oportunidade, 28 bombeiros civis e instrutores participavam do treinamento. O plano inicial, segundo sobreviventes, era passar a noite no local como parte das atividades. No início da noite, o treinamento foi suspenso por causa da chuva forte, mas o mau tempo impediu a saída do grupo, que acampou na entrada da gruta. O desmoronamento do teto de arenito aconteceu na madrugada de 31 de outubro, deixando parte do grupo retido.
Das dez vítimas completamente soterradas, nove morreram: Celso Galina Júnior, instrutor responsável pelo curso, Jenifer Caroline da Silva, José Cândido Messias da Silva, Elaine Cristina de Carvalho, Rodrigo Triffoni Calegari, Jonatas Ítalo Lopes, Débora Silva Ferreira, Ana Carla Costa Rodrigues de Barros e Natan de Souza Martins.
O laudo da perícia técnica descartou ação humana no desmoronamento, com escavação ou uso de máquinas e ferramentas, mas apontou falhas na formação rochosa composta por arenito, em razão do desgaste do tempo e da ação do clima. Na época, a perícia ainda apontou manchas de umidade na gruta. Em contato com água da chuva, é comum que, ao longo dos anos, haja um processo de encharcamento e perda do formato original da rocha.