/Dez anos depois, Interestelar ainda nos leva para casa

Dez anos depois, Interestelar ainda nos leva para casa

Neste último domingo, eu e minha família estávamos procurando o que assistir no cinema aqui em Ribeirão Preto. Foi então que meu filho lembrou que já havia comprado ingressos para Interestelar. Lançado em 2014, esse filme parece desafiar o tempo — volta e meia retorna às telonas como se fosse sempre uma estreia. Fiquei com muita vontade de rever essa obra de arte, e acabamos todos indo juntos.
Saímos do cinema profundamente tocados. Quem vê pela primeira vez se impressiona com a grandiosidade. Quem revê, descobre novas camadas, novas emoções. E isso me fez pensar: por que Interestelar continua voltando aos cinemas, mesmo depois de uma década?
O filme já teve reestreias em 2017, 2020, 2022, 2023, 2024 — e agora em 2025, celebrando seus dez anos. A resposta talvez esteja menos na física e mais em nós mesmos.
Vivemos tempos instáveis: mudanças climáticas, pandemias, crises políticas. A cada relançamento, Interestelar parece ganhar uma nova camada de significado. Ele mostra uma Terra sufocada por tempestades de poeira e pragas que destroem colheitas — algo que, cá entre nós, não parece tão distante das manchetes do noticiário. Fala de ciência e tecnologia como última esperança. Mas, acima de tudo, fala do amor e das conexões humanas como o verdadeiro combustível que nos mantém em movimento.
É por isso que voltamos. Porque, em tempos em que tudo parece incerto, Interestelar nos lembra que o tempo pode ser cruel, mas também é ponte. Que a ciência pode nos levar longe, mas são os laços humanos que nos dão rumo. Podemos atravessar galáxias, mas é o coração que nos guia de volta para casa.
Na sessão aqui em Ribeirão, o silêncio era absoluto nos momentos mais tensos — e muitos saíram enxugando lágrimas discretas no final. Interestelar não é só um filme. É uma experiência coletiva.
Claro, há outros motivos também: ver Matthew McConaughey em uma das atuações mais intensas da carreira, Anne Hathaway equilibrando ciência e emoção, Jessica Chastain como Murph, que traduz nossa raiva e esperança. E tudo isso embalado pela trilha sonora de Hans Zimmer, que faz até o coração da plateia vibrar como se fosse motor de nave.
E tem os números: mais de 680 milhões de dólares na estreia, e outros milhões em cada reexibição — só em 2024, foram mais 14 milhões em um relançamento especial em IMAX. Virou até recordista de relançamentos em tela gigante. Mas, convenhamos, o que explica tanta gente voltando para assistir não é o número. É a experiência.
Curiosamente, o físico Kip Thorne, consultor do filme, ganhou o Nobel em 2017 por sua pesquisa sobre ondas gravitacionais — as mesmas que ajudam a explicar o tempo dilatado em Interestelar. Ou seja, a ficção ali tem raízes profundas na realidade.
No fim das contas, talvez tudo se resuma a uma única frase que ecoa no tempo — e no peito:
“O amor é a única coisa que transcende o tempo e o espaço.”
E talvez também nesta outra, que nos lembra da urgência de agir:
“Não fomos feitos para salvar o mundo. Fomos feitos para deixá-lo.”
Ainda está em cartaz, corre que dá tempo.