No início dessa semana foi anunciado, por determinação do presidente Bolsonaro, o novo nome para presidir a maior estatal brasileira, a Petrobrás, o quarto em 3 anos e meio de governo. Motivo? A eleição de outubro. Faz algum sentido? Para os governistas, sim, mas para os acionistas, expõe total desorganização do governo federal, e falta de previsibilidade no comando da estatal, prenuncio de desastre num futuro não tão distante.
Em ano de eleição, o governo não quer saber de aumentos sucessivos no preço dos combustíveis, já prevendo que o tema será amplamente utilizado pelos adversários para desgastar a imagem do presidente perante o eleitor, independentemente da influência da guerra na Ucrânia, pandemia ou alta da inflação global na cotação do barril de petróleo. A verdade é que, na cabeça do eleitor, o responsável pelo combustível caro, e consequente reflexo em toda cadeia produtiva, é o governo federal, e a conta sempre cai no colo do presidente (da república) de plantão.
A Petrobrás vem se recuperando bem dos estragos causados pelo escândalo do Petrolão, que derrubou as ações da companhia aqui e no mercado externo à partir de operações da Lava-jato em 2015. Prova dessa recuperação foi o resultado do lucro líquido da empresa no primeiro trimestre deste ano, que alcançou a impressionante cifra de mais de 44 bilhões de reais (3.718,4% maior do que apurado no mesmo período de 2021), o maior resultado já divulgado por uma empresa de capital aberto para o primeiro trimestre no Brasil. Isso foi música para os ouvidos dos acionistas, que comemoraram o retorno da lucratividade, competitividade e credibilidade da empresa. Mas Bolsonaro tratou esses números como um “crime inadmissível” e um “estupro”, e que não queria saber da estatal “faturando horrores” em tempos de crise, nas palavras dele próprio.
Com a nova troca na presidência da Petrobrás, Bolsonaro tenta, dessa vez definitivamente, influenciar na política de preços dos combustíveis, eliminando a paridade de preços com o mercado internacional, forçando uma redução na margem de lucro e diminuindo a constância dos reajustes de preços nas bombas dos postos de combustíveis, em especial no período eleitoral, pelo menos até novembro deste ano.
A mudança na presidência da Petrobrás teve reflexos já na manhã de terça-feira (24), com os investidores reagindo negativamente à decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar novamente o comando da estatal. No Ibovespa, as ações caíram mais de 4% na terça e quarta-feira, e despencaram mais de 11% no pré-mercado de Nova York, causando preocupação (e prejuízos) aos acionistas.
A leitura que o mercado faz é que, pela reeleição, Bolsonaro empurra a Petrobrás para uma “implosão”, e para isso conta com a complacência dos ministros da Economia e das Minas e Energia, que no atual cenário não tomam mais nenhuma decisão técnica, mas somente decisões políticas já de olho na campanha presidencial, para atender as determinações do presidente-candidato.
Por enquanto a pergunta que fica é: se Bolsonaro insiste em dizer que não tem responsabilidade na alta do preço dos combustíveis, porque já nomeou quatro presidentes da Petrobrás durante seu mandato? Uma certeza se tem: a conta dessa instabilidade criada pelo capitão com a troca constante da direção da maior empresa brasileira, detentora do monopólio de um setor estratégico para todo mercado, continuará caindo no bolso do consumidor, e a fatura mais cara ainda está por vir.