Em meio a pandemia, o debate sobre a cloroquina continua rendendo, ela foi politizada e as consequências dessa ação só está começando. Sabe-se que o medicamento é eficiente contra a malária, o combate ao lúpus, artrites e até a chikungunya, porém com relação a covid19, não há comprovação científica de sua eficiência.
Ela, a cloroquina, recebeu os holofotes quando Trump anunciou resultados promissores contra a doença, o gesto no Brasil foi seguido por Bolsonaro, era ela a candidata possível para células do trato respiratório; testada não funcionou. Mas, governos populistas tentam dar soluções simples para questões complexas, acontece que o corona não tem solução simples.
Não existe a cura milagrosa, mas a ala “olavista”, os seguidores do terraplanista Olavo de Carvalho utilizou a tática de jogar a culpa pelo não uso da medicação em cima dos pesquisadores, ultrapassando o debate médico e transformando numa questão política; lutando pela sua sobrevivência política, Bolsonaro busca livrar-se de todas orientações científicas.
Essa onda “anti-ciência” típica de governos populistas, pauta uma agenda para se aproximar dos mais pobres e desinformados, desqualificando cientistas e universidades. Articulando um discurso de enfrentamento, o presidente também compra briga com os governadores dizendo que “há uma cura que não deixam ele usar”, mais o impacto econômico do isolamento que vai aumentar o desemprego. É a tentativa de eliminar adversários e escorar nos mais pobres e desinformados na prática do negacionismo científico. Isso também deve-se há uma falta de educação científica entre a comunidade acadêmica e a sociedade, a compreensão e não apenas o acesso a informação ajudam nessa partidarização política da covid19. Ciência e sociedade tem que pensar em se comunicarem.
No fim de março, o presidente autorizou o laboratório químico farmacêutico das Forças Armadas a produzir cloroquina, em 3 semanas 1,25 milhões de comprimidos foram feitos, antes eram 125 mil por ano, até agora mais de 2 milhões de comprimidos já foram produzidos, ou seja em poucas semanas fabricou-se mais cloroquina do que nos últimos 10 anos, sem ter a certeza de sua eficácia e gastando R$ 625 mil, importando a matéria prima da Índia (sal difosfato), um custo seis vezes mais caro que no ano anterior. Ministro Teich não concordou com esse gasto.
Estudos apontam para os graves efeitos colaterais: arritmia cardíaca, perda de visão, distúrbios sanguíneos entre outros. Se ministrado for, será preciso verificar o óbito, talvez não será do vírus, mas da consequência da medicação. No Amazonas o Ministério Público está investigando a morte de 11 pacientes que foram a óbito depois de seis dias de tratamento. A O.M.S. não recomenda tal procedimento, mas o Brasil vai no caminho inverso.
Por isso o presidente editou uma M.P. isentando de responsabilidade administrativa gestores que cometem erros sem intenção no combate ao coronavírus. O S.T.F. limitou a M.P. citando no seu parecer as recomendações da O.M.S.
Bolsonaro incorre em crime de responsabilidade mantendo um protocolo sem saber se ele é seguro? A obrigação do Estado é assegurar medidas de proteção ao cidadão. E o uso de verbas públicas também pode caracterizar crime de responsabilidade? O governo não pode gastar dinheiro sem estudos que comprovem a eficácia.
Como o debate da pandemia foi politizado, não é mais a doença que importa, mas sim seus dividendos políticos. Cruel e triste sina de um Brasil que caminha dolorosamente para o epicentro mundial da doença.