A psicologia do desenvolvimento explica que o ser humano, no decorrer de sua vida, adota comportamentos e em momentos posteriores os nega, podendo posteriormente readotá-los. Isso acontece com a criança em relação a identidade que mantém com os pais. Na primeira e segunda infância, justamente pelo processo de identificação, admira os pais, passa a copiá-los em alguns comporta-mentos. Após, na fase da adolescência, devido ao desejo de se independentizar, nega a admiração e a identidade do pai, da mãe ou de ambos. Isso também acontece com os adultos que assumiram a responsabilidade pela criação desses adolescentes. Assim, esses adultos passam a ser alvos constantes de críticas pelos filhos nos diferentes campos de atuação: profissional, doméstico, com relação à moda, por suas ideologias – religião, cultura etc.
Com o passar do tempo, na chegada da adultez, os pais ou aqueles que ocuparam seus lugares, passam a ser vistos pelos filhos com maior compaixão, passam a ser melhor compreendidos. A postura compassiva não é reflexo da melhoria dos pais, mas em grande parte, em consequência do amadurecimento dos filhos. Há a necessidade de pontuar que existem as pessoas que não amadurecem a tal ponto de reconhecer que os pais, como diz a música de Renato Russo “são crianças como você”, assim, mais vítimas do que algozes.
Não é tão comum como deveria ser, a percepção por parte dos adultos, que temos muito mais de nossos pais do que conseguimos perceber. Eu mesma, em momentos frequentes, percebo que faço como minha mãe, o gesto com os dedos das mãos em meu rosto. Em momentos reflexivos e que me sento sobre o sofá, com a mesma disposição das pernas, como meu pai. Que de um herdei isso e do outro, aquilo.
Como pais que somos, também não é tão natural, como deveria, a percepção de que às vezes aquilo que mais nos irrita na postura de nossos filhos, trata-se justamente de um fator herdado de nossos hábitos. Chega a ser estranho como nos irritamos com isso, como se não nos fosse familiar, merecendo nosso estarrecimento e incompreensão. Pasmem!
Ponho-me a pensar que dependendo do quanto não tenhamos experenciado problemas graves, como doenças irreversíveis e portanto fatais ou outras perdas graves, em nós ou em nossos familiares próximos ou pessoas queridas, os problemas menores ou até situações que não chegam a ser problemas verdadeiros, ganham um vulto além do que verdadeiramente possuem. Quando os problemas verdadeiros nos impactam, os problemas que na realidade não o são, passam a ser tratados como parte da rotina, coisas pequenas e tolas. Chamou minha atenção o depoimento de uma amiga: “Quase morri ontem, quando meu filho, com um produto químico utilizado em um trabalho escolar, manchou a madeira do chão da minha sala”. “Morrer” pela madeira do assoalho?
Assim, os problemas ou aqueles que denominamos como “problemas”, dependem muito mais de nossa estrutura para enfrentá-los do que deles próprios. Desta feita, lembrando de nossos pais, na maioria, com uma estrutura psicológica diferente das tidas pelas pessoas nascidas a partir da metade do século passado, pessoas mais novas que viveram realidades menos sofridas financeiramente ou em casamentos menos conservadores, que estudaram em escolas menos rígidas, dentre tantos outros possíveis exemplos, certamente, os mais velhos enfrentavam e enfrentam problemas banais com a banalidade que merecem e problemas reais com a capacidade necessária. Nesse ponto, que bom se os filhos fossem como os pais.
Pensem nisso!