Na tarde de segunda-feira, 17 de janeiro, uma chuva de boa intensidade, mas por poucos minutos, foi suficiente para alagar as Avenidas 14 de Março e Oswaldo Scatena, além de promover grandes enxurradas em vários locais da cidade, como na Rua Dr. Alberto Gaspar Gomes e Avenida Nove de Julho. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, foram 57 milímetros de chuva que caíram sobre Batatais. Não foram registrados maiores problemas, com carros sendo arrastados em função do horário e também porque os moradores e proprietários de empresas na extensão das avenidas, que já somaram muitos prejuízos, sempre retiram os veículos quando começam as chuvas.
O volume de água correndo por cima do asfalto era grande mesmo na parte alta da Avenida 14 de Março, demonstrando que a drenagem é deficiente nas regiões altas e com isso as galerias e a tubulação em canal fechado, na maior parte da via, são completamente insuficientes para absorver tamanha quantidade de água.
Atual projeto não vai resolver
O presidente da Associação Batataense de Engenheiros e Arquitetos, Engenheiro Sérgio Toledo Pereira, já disse, em reportagem que publicamos no ano passado, que o maior problema foi o desprezo pela lógica na concepção do projeto de contenção de enchentes. “A área de contribuição da bacia se modificou muito desde que foi executada a canalização do córrego, a época a bacia era composta prioritariamente de quintais e chácaras com grandes áreas permeáveis, da sua execução até hoje, essas áreas foram impermeabilizadas modificando muito o volume de água e o tempo de escoamento, assim, considero que a obra não resolve o problema que nasce a montante”, destacou.
Problema de drenagem urbana cresce a cada ano
Basicamente a Drenagem Urbana é composta de dois sistemas: microdrenagem e macrodrenagem, e são sistemas que captam, conduzem e destinam as águas pluviais, ou águas de chuva de nossas cidades.
A microdrenagem é composta do sistema de captação das águas pluviais, mais precisamente das caixas coletores comumente denominadas de ‘bueiros’ ou ‘bocas-de-Lobo’, e do sistema de condução destas águas que são as tubulações subterrâneas que geralmente tem seu diâmetro entre 0,40m e 1,50m. São estas tubulações que conduzem as águas das chuvas captadas pelos bueiros até o sistema de macrodrenagem.
Já a macrodrenagem é composta de um sistema de maiores dimensões, com tubulações subterrâneas que vão de 2,00m de diâmetro, podendo chegar a casa dos 5,00m ou mais, dependendo da necessidade de cada local. E também fazem parte deste segundo sistema, as canalizações a céu aberto, que geralmente possuem dimensões bem maiores que as tubulações subterrâneas e são capazes de conduzir maiores volumes de águas pluviais.
Segundo especialistas consultados pela nossa reportagem, um dos principais fatores é o subdimensionamento do sistema, ou até inexistência do mesmo. Bairros mais antigos de Batatais praticamente não possuem bocas-de-lobo, ou se possuem, geralmente não são insuficientes. As galerias subterrâneas também, quando existem, geralmente estão subdimensionadas.
Este subdimensionamento por sua vez é consequência de outros multifatores. O primeiro deles se refere ao próprio processo de urbanização da cidade, onde é aumentada a área impermeável do solo, quer seja por novos empreendimentos implantados a montante do sistema existente, quer seja pela própria população que vai eliminando as áreas permeáveis de suas propriedades urbanas. Ao mesmo tempo, temos notado que os índices de precipitação pluviométrica, em períodos muito curtos de tempo, tem aumentado gradualmente.
Também é muito comum em novos empreendimentos imobiliários, identificarmos em seus projetos de Drenagem Urbana, que nas ruas localizadas nas partes mais elevadas do terreno, não se prevêem galerias pluviais, prevendo-se este sistema somente para as ruas localizadas nas partes inferiores da gleba, proporcionando economia substancial para os empreendedores, mas causando prejuízos enormes para toda a cidade, pois inclusive, em muitas vezes, se esquecem que outros empreendimentos que serão implantados a montante destes empreendimentos iniciais.
E as consequências de tudo isso acima relatado são muito sérias, causam prejuízos tanto físicos como econômicos para a população e também para a administração pública. Além dos prejuízos individuais para cada habitante das regiões prejudicadas, a parte urbana também é bastante prejudicada, principalmente no que se refere aos danos causados nos pavimentos das vias públicas.
É necessário que este sistema seja muito bem dimensionado na fase de projeto, calculando-se não apenas o que as tabelas de cálculo determinam, mas prevendo-se o aumento das águas pluviais pelos índices que crescem anualmente e também pelo aumento espontâneo das áreas impermeáveis que ocorrem gradualmente.
Em síntese podemos dizer que as águas pluviais devem sempre ser captadas e conduzidas subterraneamente, nunca sobre os pavimentos. Quando as águas pluviais correm sobre as vias públicas dificultam a locomoção de pedestres, podem provocar alagamentos, danificam os pavimentos, complicam todo o sistema de trânsito, além de muitos outros transtornos à população. Cabe salientar que já tivemos mortes em algumas cidades de nossa região, causadas por enxurradas nas vias públicas, e isso é muito sério e preocupante para todos nós.