Domingo passado, dia 14 de fevereiro seria, em tempos de normalidade, um alegre e animado domingo de carnaval, com desfile na Sapucaí, Blocos pelas ruas de Batatais e Trios Elétricos festejando em Salvador e todo nordeste. Mas em tempos de pandemia, os carnavais foram adiados, e o que tivemos foi o dia em que foi constatada a maior média móvel de mortes pelo coronavírus em nosso país desde o início da pandemia: 1.105 por dia na semana anterior, média que persistiu essa semana toda. Com certeza foi mais um recado, muito claro, que o vírus continua mandando para todos nós.
Mesmo com a vacinação (que é lenta), ele continua circulando e se aproveitando do descaso que a população em geral vem fazendo dele, descaso este provocado pelo cansaço da quarentena, pela necessidade de trabalhar, pela vontade de viajar e respirar novos ares, visitar parentes e amigos, ou simplesmente pela certeza de que o vírus não vai atacar pessoas próximas, e portanto os outros que se cuidem, pensam os mais desavisados. E podem apostar, muitos pensam dessa forma.
O que observamos durante esse período de carnaval, mesmo sem feriado por aqui, foram aglomerações em chácaras, áreas de lazer, ranchos, ou mesmo em locais públicos dentro do município, como bares, praças e avenidas. O resultado dessa movimentação será óbvio: no final deste mês e início de março, teremos inevitavelmente uma nova alta de casos, e de mortes, infelizmente.
Mas pode ser pior. Como estamos passando por um período de média alta de casos e mortes, o efeito “Contaminação Carnaval” será turbinado, e o risco de colapso no sistema de saúde aumenta consideravelmente. Junte-se a isso, a constatação de que a mutação do Covid-19 vinda do Amazonas, denominada “P.1”, foi detectada na cidade de Araraquara em 12 pessoas, e o prefeito de lá decretou “lockdown” por 15 dias, para tentar frear a disseminação da nova variante do vírus, que já se mostrou mais contagioso e mais agressivo. Por lá, 100% dos leitos de UTI estão ocupados. Lembrando: Araraquara é distante de Ribeirão Preto 90 km, e muitas pessoas circulam entre estas cidades, principalmente por motivos de trabalho, e já existe a constatação de que esta variante já está circulando em Ribeirão. Este é o caminho que o vírus utiliza para circular regionalmente, e quanto mais expostos estivermos (como no carnaval), maior a chance de contágio.
Como disse, vacinação ainda é lenta, principalmente por falta da vacina, por isso temos que manter a guarda levantada, ao menos até atingirmos algo em torno de 70% de vacinados com a segunda dose, o que só iremos atingir próximo ao final deste ano, se as vacinas chegarem, e tudo correr bem. Ao menos para Batatais, com relação à vacina estamos bem: os últimos levantamentos da nossa Secretaria de Saúde mostram que 2.320 pessoas já receberam a primeira dose da vacina, o que corresponde a 3,68% de nossa população, uma das cidades com maior efetividade no processo de vacinação em todo estado de São Paulo (que tem média de 3,27% de imunização), e bem maior que a média do Brasil (2,55% da população vacinada), até a data que redigi essa matéria (18/02).
Temos que ter em mente que o vírus se torna mais perigoso porque tem “parceiros” em nossa sociedade. Estes são aqueles que aglomeram, que fazem festas, que não cumprem a legislação sanitária, que discutem para não usar máscara, que pregam a desobediência às leis, que acham que são imunes, que propagam notícias falsas e sem fundamento, e que contribuem para confundir ainda mais a já confusa cabeça do brasileiro, que corre o risco de, em algum momento, precisar de um leito de UTI para um ente querido, e este não estar disponível.
Fundamental ouvirmos (ainda mais) a ciência, e não oportunistas de plantão, que ao contrário dos nossos heróis profissionais da saúde, desconhecem o que é assistir um paciente perder a vida por falta de ar.