Em julho de 1943, Carlos Zamboni apresentou proposta para o término da construção da igreja matriz, com desenhos de plantas, fachadas, cortes, além de detalhamento de esquadrias, caixilhos e portas de ferro. Destacamos aqui alguns dizeres do Memorial Descritivo da obra:
“Os materiais empregados deverão ser de primeira escolha, tendo em vista a resistência, qualidade, e o gênero do trabalho a serem empregados. (…) Serão demolidas as paredes da parte velha da igreja que atravessam o altar Mór. O telhado correspondente a sacristia e as outras repartições adjacentes, será desmontado. (…) A cobertura será de telhas proveniente das cerâmicas São Caetano ou Saccoman, do tipo Grego. (…) As portas externas serão inteiramente de cabreuva,(…). As portas internas serão construídas conforme as externas, uzando porem madeira de cedro para as folhas e peroba para os batentes, (…). Toda a madeira uzada deverá ser de primeira qualidade, rigorosamente seca, sem fendas, nem defeitos.” (Acervo da Paróquia).
Zamboni também se aventurou no ramo empresarial, sendo sócio majoritário da Fábrica de Tecidos Erbema em 1954 e de uma fábrica de máquinas de lavar roupas, Collyba, em 1957. Em março de 1958, o jornal ‘Folha de Batataes’ assim descrevia o aniversariante do mês: “Profissional de excepcionais méritos, seu nome se encontra estreitamente ligado a maioria das obras de vulto executadas em nossa cidade. Propugnador incançável do progresso local, foi dos mais decisivos fatores das instalações de várias indústrias, como a Têxtil, a Erbema e a Collyba”. (Folha de Batataes, 14/03/1958).
Em relação a algumas curiosidades sobre Zamboni, é sabido que ele sempre andava com chapéu e terno, sendo considerado um homem muito rígido no trabalho, tendo especial carinho pelos operários, os quais ensinou e formou muitos mestres de obra.
De acordo com relato de um antigo funcionário da Santa Casa de Batatais, conhecido como “Sr. Santo”, certo dia Zamboni realizou uma palestra na antiga escola do IESA (onde atualmente funciona o Centro Cultural Professor Sérgio Laurato) e desenhou ao mesmo tempo dois círculos perfeitos de mesma medida usando as duas mãos, convidando ao final para que os alunos verificassem se havia diferença entre os dois; não sendo possível encontrar nenhum erro.
Outra curiosidade que vale a pena destacar é que podemos atribuir a Zamboni o apelido de ‘construtor de pontes’, uma vez que entre os anos de 1940 a 1960, ele foi responsável pelo projeto executivo e construção de 12 pontes estaduais, sendo: Ribeirão Santa Bárbara, Rio do Turvo (Espírito Santo do Turvo), Rio do Peixe (entre São Sebastião da Grama e Divinolândia), Ribeirão do Cubatão (entre Cajuru e Mococa), Rio Tamanduá (entre Cravinhos e Serra Azul), Rio da Onça (entre Cravinhos e Guatapará) Rio Jacaré Pepira (entre Boa Esperança do Sul e Jaú), Rio Jacaré Guaçu (entre Araraquara e Boa Esperança do Sul), Rio Pardo (entre Mococa e São José do Rio Pardo), além de três pontes sobre o Rio Sapucaí (entre Batatais e Franca, entre São José da Bela Vista e Nuporanga e entre Guaíra e Miguelópolis).
Tal era a vinculação de Zamboni às pontes que encontramos nos arquivos do site da Câmara Municipal, uma Lei Municipal (nº 384) com a seguinte autorização:
“Eu, Mario Martins de Barros, Prefeito Municipal de Batatais, usando das atribuições que me são conferidas por lei. Faço saber que a Câmara Municipal de Batatais decreta e eu promulgo a seguinte lei:
Artigo 1° – Fica o senhor Chefe do Executivo autorizado a pagar ao engenheiro Carlos Zamboni, a importância de CR$ 300.000,00 (trezentos mil cruzeiros), pela execução de uma ponte dobre o ribeirão “Santa Bárbara”, ligando o Município de Patrocínio Paulista à rodovia Franca _ Batatais. Parágrafo Único_ Esse pagamento ficará condicionado ao recebimento prévio do Estado, de igual importância em favor da Prefeitura Municipal de Batatais, para o fim constante deste artigo. Artigo 2° – Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Prefeitura Municipal de Batatais, em 30 de Outubro de 1.958.”
O engenheiro Zamboni também realizou projetos para as cidades de Ribeirão Preto, Orlândia, Rio Preto, Altinópolis, São Paulo, no estado de Minas Gerais e até mesmo em sua cidade natal.
Em relação ao Teatro Municipal Fausto Bellini Degani, o projeto do mesmo foi desenvolvido pelo arquiteto batataense Durval Suave em terreno doado pelo casal Fernando Bologna e Elvira Cousuli Bologna. De acordo com a Lei nº 680, de 13 de Dezembro de 1965, sobre doação de terreno para construção do Teatro Municipal de Batatais, o terreno tinha área de 3.111,00 m², “com frente para a Avenida Central, onde mede 82,80 (oitenta e dois metros e oitenta centímetros), com frente também para a Avenida Dr. Chiquinho Arantes, onde mede 57,00 (cincoenta e sete metros), com frente para a projetada rua Dr. Júlio de Mesquita, onde mede 69,60 (sessenta e nove metros e sessenta centímetros), fazendo confrontação com as ruas já referidas e com Altino Menegheli, nos fundos, onde mede 32,40 (trinta e dois metros e quarenta centímetros).”
Em 1968, o prefeito municipal José Olímpio Freiria promulgou a Lei (nº 746 de 20 de Julho) para crédito especial, visando o prosseguimento das obras do Teatro Municipal, sendo: “Artigo 1º)- Fica aberto na Contadoria Municipal, um crédito especial no valor de NCR$ 50.000,00 (cincoenta mil cruzeiros novos), para ocorrer as despesas com o prosseguimento das obras do Teatro Municipal de Batatais, digo, nesta cidade. Artigo 2°)- O valor do presente crédito será coberto com os recursos do excesso de arrecadação a se verificar no presente exercício, na Receita do Imposto sobre circulação de mercadorias, “Código 1 1 1.4. 4. 10” do orçamento vigente.”
De acordo com os jornais da época, Carlos Zamboni era chefe do departamento de engenharia da prefeitura, ficando responsável pelo projeto executivo e construção da primeira etapa do Teatro Municipal Fausto Bellini Degani, na gestão do prefeito José Olímpio Freiria (1964 – 1968).
Desta forma, se o trabalho de Zamboni está diretamente relacionado ao início da obra do Teatro, é indiscutível que este foi realizado com a mesma correção do memorial descritivo da igreja matriz, pois a obra que hoje temos não apresenta nenhum tipo de patologia ou dano proveniente de sua fundação e estrutura, que são as bases de uma construção pública duradoura.
Carlos Zamboni faleceu no dia 30 de maio de 1973 e entre suas obras na cidade de Batatais, podemos enumerar:
1-Residência do Monsenhor Joaquim Alves Ferreira (1928);
2-Residência de João Cândido Alves Ferreira (1934) depois pertencente à família de José Martins de Barros;
3-Hospital Santa Casa de Misericórdia inaugurado em 1938;
4-Ampliação do Ginásio São José (1940);
5-Cúpula da igreja matriz, atual Santuário Bom Jesus da Cana Verde (1942);
6-Esboço para execução de mosaico do Senhor Bom Jesus da Cana Verde para o tímpano sobre o portal de entrada da igreja matriz, atual Santuário;
7-Portal principal de entrada da igreja matriz, atual Santuário, inspirada em portal florentino;
8-Ampliação da Fábrica de Fiação e Tecelagem de Gabriel e Raphael Jafet & Cia Ltda. (1944);
9-Ampliação e reforma da Sociedade Recreativa 14 de Março (1945);
10- Painel temático para o Bar do Clube 14 de Março (1945);
11- Residência de Luís Cândido Alves (1947);
12- Novas Piscinas e Vestiários do Centro de Cultura Física de Batatais (1948);
13- Residência do Dr. Oswaldo Scatena (1949) depois pertencente ao Dr. Paulo Scatena;
14- Projeto da COLABA (1952);
15- Adjacências da Praça Cônego Joaquim Alves em 1953;
16- Conclusão das obras da Igreja Senhor Bom Jesus da Cana Verde em 1953;
17- Salão Circular de Festas da ABR Operária (1954/ 1957);
18- Estádio Dr. Oswaldo Scatena (1954);
19- Fábrica de Tecelagem ERBEMA (iniciais das filhas Ernesta, Beatriz e Marina) o qual foi sócio majoritário (1954);
20- Represa da Cachoeira, hoje denominada de Parque Náutico Engenheiro Carlos Zamboni (1955);
21- Residência de Antônio Cândido Alves (1955);
22- Afresco na parede circular do Salão de Festas da ABR Operária (1957);
23- Igreja de São Sebastião (1958);
24- Painel temático Radiodifusão para a Rádio Difusora, quando funcionava no Cine São Joaquim (1959);
25- Sede do Tiro de Guerra 02-047 (1964);
26- Projeto executivo e construção da Estação de Tratamento de Água (1967);
27- Projeto executivo e construção da primeira etapa do Teatro Municipal Fausto Bellini Degani (1967/ 1968);
28- Novo Mercado Municipal;
29- Coreto da Praça João de Andrade (atual Praça Dr. Jorge Nazar);
30- Casa de fazenda de Rafael Luiz Alves Oliveira.