Se os leitores estão lembrados, em matéria do mês de fevereiro escrevemos sobre Fausto Bellini Degani e em março sobre Bassano Vaccarini, dois artistas que possuem suas histórias vinculadas ao Teatro Municipal de Batatais. Chegou então o momento de falar de mais um personagem que possui seu trabalho e arte atrelados a esta edificação.
Estamos falando do engenheiro e construtor Carlos Zamboni, que nasceu no dia 08 de março de 1901 em Brescia (norte da Itália), cidade esta a qual ele prestou homenagem no projeto da então igreja matriz Senhor Bom Jesus da Cana Verde, modificando a proposta original e construindo uma nova cúpula semelhante à da catedral de sua cidade natal.
Mas antes de falarmos da famosa cúpula, vamos conhecer um pouco mais sobre a história deste imigrante e as “pontes” que construiu entre a arte e a engenharia.
Formado em 1925 como engenheiro civil pela Escola de Engenharia de Milão, Zamboni veio morar no Brasil em 1927, trabalhando inicialmente como tradutor comercial de francês e italiano na cidade portuária de Santos.
A primeira oportunidade de trabalho em sua área de formação apareceu em um anúncio de jornal, que oferecia emprego em uma cidade do interior de São Paulo, à vaga de engenheiro candidato ao cargo de responsável de obras. A cidade era Batatais e o contratante era o também imigrante italiano Julio Latini, engenheiro que estava de mudança para a Argentina e deixava duas obras em andamento por aqui: a residência do Monsenhor Joaquim Alves Ferreira e a reconstrução da igreja matriz.
De acordo com os relatos de Sami Tebechrani (engenheiro, escritor e genro de Carlos Zamboni), no final de 1927, Zamboni veio para Batatais e conviveu com Latini por algum tempo, até se inteirar de todo projeto e de como as obras, que já estavam sendo executadas pela parte dos fundos da igreja, deveriam ser finalizadas, ficando responsável pelas mesmas a partir de 1928.
Tudo indicava que o destino de Zamboni era mesmo Batatais, pois em 10 de setembro de 1929 ele se casou com Irma Girardi, com quem teve seis filhos: Luiz Carlos, Marcelo, César, Ernesta, Marina e Beatriz (ao lado).
Todavia, um mês após o casamento, ocorreu a Grande Recessão Mundial e o Brasil entrou em drástica crise econômica, principalmente em relação à economia cafeeira que era a maior riqueza de Batatais. Sem trabalho no ramo da construção e diante das dificuldades econômicas pelas quais passava o Brasil, Carlos e Irma viajam para a Itália (em agosto de 1930), residindo em Bréscia até 1932.
Este período na Itália foi muito importante para que Zamboni desenvolvesse uma nova proposta para a fachada e cobertura da igreja matriz de Batatais, diferente do projeto de Júlio Latini, inspirados em soluções técnicas e estéticas que ele observou ao visitar a principal igreja de Bréscia.
Ao voltar com a esposa para Batatais em 1932, Zamboni retomou o acompanhamento das obras da igreja matriz, fazendo propostas de alterações e supressões de alguns elementos de decoração que existiam antes da interrupção, sendo que algumas sugestões estavam atreladas a soluções mais econômicas.
No início de 1933, Carlos Zamboni anunciou na ‘Gazeta de Batataes’ seus serviços de medições de terras, divisões, levantamento de plantas de fazenda etc., tendo seu escritório na antiga Avenida Dr. Rebouças, atual Avenida Nove de Julho.
Já em 1934 o engenheiro mudou o endereço de seu escritório para a Rua Capitão Andrade nº3, mudando também o tipo de divulgação de seus trabalhos, informando na ‘Tribuna de Batataes’ os serviços de projetos de construções confortáveis e de “linha arquitetônica”, o que pode ser considerado um investimento maior em seus projetos dentro dos conceitos de conforto ambiental e qualidade estética.
Em 1936, Zamboni desenvolveu o projeto para a nova Santa Casa de Batatais, inaugurada em 1938. De acordo com as extensas e minuciosas informações da ‘Gazeta de Batataes’ em 17 de dezembro de 1936, Zamboni contava com os serviços do arquiteto Romulo Rigotto no acompanhamento de suas obras. “O arquiteto, sr. Romolo Rigotto, é o incansável e cuidadoso dirigente desses mesmos serviços e que tem se esmerado no auxílio ao talentoso engenheiro que traçou soberba planta que enriquecerá Batatais com uma casa de caridade que será colocada entre as primeiras do Estado.”
Durante a construção do hospital, em 1937, o engenheiro mudou novamente, desta vez para a cidade de São Paulo, lá permanecendo até 1939. Na capital, Zamboni constituiu firma com Antônio Terrini e de acordo com encarte da exposição sobre ele, realizada na Casa da Cultura de Batatais em 1999: “Projetou e construiu residências no bairro do Pacaembu e o prédio comercial da International Harvester. Também é de sua autoria o projeto da construção do Ginásio Paulistano, na Rua Taguá que, pela sua modernidade, funcionalidade e arte nos detalhes, constituiu marco arquitetônico da época.”
O projeto do Ginásio Paulistano chegou a ser capa da revista Acrópole (um importante revista de arquitetura que circulou entre os anos de 1938 e 1971), edição de nº 08 de dezembro de 1938, contendo também uma página sobre a obra do International Harvester.
Em 1939, Carlos Zamboni retornou definitivamente para Batatais, desenvolvendo inúmeros projetos tanto na área da construção civil, como também voltados para pintura decorativa, mobiliários, afrescos e até painéis, como os que desenvolveu para o Salão Circular da ABR Operária e para o palco da Sociedade Rádio Difusora, no antigo Cine São Joaquim.