Quando era bem mais jovem, e desfilava minha (pouca) categoria futebolística na quadra da escola Washington Luiz, ou no campinho do Santo Antônio, era comum a gente ouvir: “Eu e Fulano contra a rápa!” Basicamente isso significava que ali haviam dois craques acima da média, e… o resto!
Sei que muitos acharão que ainda é cedo para analisar um provável cenário da eleição para presidente do ano que vem, mas por culpa desses dois do título do artigo, o jogo foi antecipado, e provavelmente terá um resultado difícil de prever.
Pesquisa estimulada da XP Investimentos do início dessa semana indica Lula com 29%, Bolsonaro 28%, Moro e Ciro 9% cada, Huck 5% e Dória, Boulos e Mandetta 3% cada. Num segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o petista venceria com 42% contra 38% do Capitão. Na pesquisa espontânea, os indecisos são 36%, mais de um terço, mas como todos sabem, é só o começo de um campeonato que terá muitas rodadas ainda.
Analisando tão somente os números, suas tendências e reflexos, sem nenhuma consideração de ordem ideológica ou preferência pessoal, fica bem claro que, assim como na última eleição presidencial de 2018, a polarização entre esquerda e direita continua dando as cartas. Mas esse cenário pode mudar até o início da campanha, em agosto do ano que vem.
Em 2018, no Brasil do Michel Temer, quem tinha lenha para queimar nas eleições eram os anti-petistas, vitaminados pela Lava-Jato, e os petistas, com o legado de um Lula preso, mas ainda popular. O primeiro grupo encontrou no discurso conservador e anti-corrupção do deputado Bolsonaro, o candidato perfeito para contrapor o Prof. Haddad, que só faltou deixar a barba crescer e cortar o dedo mindinho para mostrar que ele, na verdade, era o Lula. Bem, vocês sabem bem o resultado.
No ano que vem, como já disse em outro artigo que escrevi por aqui, teremos não só o “anti-petismo”, que continua firme e forte, e mais duas novidades: o protagonismo do “anti-bolsonarismo” e a volta do “lulismo”. Teremos então uma outra eleição polarizada? Talvez sim… e talvez não!
Pelos números acima, se o “centro” ficar dividido, a polarização é certa, como ocorreu em 2018, quando candidatos como Alckmin, Marina e Meireles tiveram votações pífias. O caminho seriam estes candidatos de “centro” se unirem, para lançarem uma candidatura competitiva, que agradasse o eleitor que procura consenso num momento de tantas aflições, aquele que unisse o país na busca de soluções conjuntas para sairmos dessa crise, não é mesmo? Bem, não é tão simples assim.
Primeiro porque esse eventual candidato do centro, seja ele quem for, no momento nem de longe tem a exposição midiática que Lula e Bolsonaro possuem, ou seja, ele precisa agir rápido, e se colocar como candidato urgentemente, para aparecer como alternativa desde já. Segundo, porque uma “terceira via” precisa de uma marca. Um discurso de centro sem personalidade, numa sociedade polarizada como a nossa, é um discurso que tem muito pouco apelo. Bolsonaro tem sua retórica da pauta de costumes e anti-petismo, e Lula na distribuição de renda e anti-bolsonarismo. Seria como uma luta de boxe, com espaço apenas para dois lutadores.
Portanto, a eleição está longe, mas já começou. Espero que tenhamos alternativas viáveis e realistas para podermos escolher o próximo presidente sem a faca na garganta, quando temos que optar pelo “menos pior”. Quem viver verá!