E aconteceu naturalmente, artificialmente. A banda inglesa The Beatles, decantada desde sempre como a mais importante banda de música pop de todos os tempos, emplacou mais uma música no “top one” britânico, e em tantas outras partes do mundo. Se alguém duvidava que eles sempre serão a excelência da música, “Now and then” prova que menos é mais.
Primeiro a frase inicial desse texto: em 1995, os três Beatles vivos na ocasião, Paul, Ringo e George, tentavam completar 3 músicas que haviam sido compostas por Lennon, em 1978 na sala de seu apartamento em Nova Iorque, com um gravador de fita cassete e um piano. Eles acabaram lançando o projeto “Anthology” com duas músicas inéditas: “Free as a bird” e “Real love”, que fizeram bastante sucesso à época. Mas o melhor estava por vir… naturalmente de forma artificial.
A terceira música da fita era “Now and then”, uma canção agridoce, melancólica e emocionante ao mesmo tempo. Mas a gravação não permitia ouvir de forma ao menos razoável a voz de Lennon, que ficou muito baixo, e encoberta pelo piano. George Harrison, o guitarrista metódico e exigente foi taxativo ao dizer que não poderiam lançar uma música daquelas com tão baixa qualidade dos vocais de John, e naturalmente, decidiram que ela seria engavetada. Até que 2021 chegou e trouxe a Inteligência Artificial, que, artificialmente fez com que a verdadeira voz de Lennon surgisse límpida e livre de qualquer interferência. E assim renasceu “Now and them”, o décimo oitavo single número um dos Beatles nas paradas britânicas.
A façanha dos Beatles pode ser medida em números. Eles são agora o grupo com a maior diferença de todos os tempos no topo da parada, uma vez que seu último “número um” havia sido com a música “The ballad of John and Yoko”, em 1969, 54 anos atrás. Ele é o single mais vendido do ano até o momento em todas as plataformas, e também é o single de vinil mais vendido do século até agora, registrando mais de 20 mil cópias, até o momento que escrevia esse artigo. Pra mim, a música do ano, disparado.
McCartney e Ringo fizeram questão que fosse incluído na gravação um belíssimo arranjo de cordas, com a coordenação de Giles Martin, filho de Sir George Martin, produtor da banda nos anos 60, o que trouxe grandiosidade à uma canção de progressão melódica simples, mas cativante e de extremo bom gosto. Impossível assistir o vídeo da música, que junta imagens atuais e de arquivo da banda, e não se emocionar e pensar: “eles fizeram de novo!”
Alguns dirão que “Now and them” não está no mesmo patamar que “Hey Jude”, “Yesterday”, “Something”, “All You Need Is Love”… isso seria como comparar Pelé com Maradona, ou o extraordinário com o excepcional, ou seja, de toda forma, é impactante.
Em tempos de popularização da Inteligência Artificial, e num ano em que a gravação de maior relevância e sucesso é uma música dos Beatles, e um dos principais discos lançados é dos Rolling Stones, podemos sonhar com um novo trabalho do Led Zeppelin, Pink Floyd, The Who ou Credence? No cenário atual, eles ainda fazem falta!