Nessa semana o município de Batatais voltou a contabilizar mortes por covid-19. Duas pessoas, de 90 e 82 anos, perderam a vida por complicações da doença. O crescimento rápido da variante ômicron provocou inclusive um novo pico de casos confirmados, com o registro de 258 pessoas que testaram positivo em um único dia, na quinta-feira, dia 20, isso ainda porque houve uma redução do número de testes disponíveis na rede pública.
Os números são preocupantes quando verificamos o isolamento domiciliar. Até a tarde de quinta-feira, 1825 pessoas tinham recomendação para permanecerem isoladas. Batatais ultrapassou a marca de 10 mil pessoas que contraíram a covid-19 desde o início da pandemia. O boletim, divulgado antes do fechamento desta edição, apresentava 10532 casos confirmados, com 176 mortes.
Para saber quais ações a Secretaria de Saúde está tomando neste momento, para seguir enfrentando o novo surto de casos da doença, falamos com a Secretária de Saúde, Bruna Toneti
JC – Existe a possibilidade de reabrir a Ala Covid na Santa Casa uma vez que estão aumentando os casos que precisam de internação?
Bruna Toneti: A Secretaria Municipal de Saúde já se manifestou por meio do Ofício n. 24/2022 junto ao prestador, Santa Casa de Batatais e pelo Ofício n. 006/2022, em 12 de janeiro, quanto a capacidade e interesse de reabertura dos leitos de assistência para a Covid-19 para a DRS XIII, pelo Estado de São Paulo. Ressaltamos que o município, contudo, não possui condições financeiras para o custeio apresentado pelo prestador para suporte regional, sendo necessário, portanto, apoio em financiamento junto ao Estado e Ministério da Saúde para provermos da estrutura de atendimento aos pacientes acometidos pela doença em necessidade de cuidados hospitalares. Recordamos, ainda, que a Ala Covid-19 do município foi fechada a pedido em deliberação pela regional de saúde em novembro de 2021, sendo indispensável, no momento, repasses de recursos financeiros para retomarmos a infraestrutura e assistência hospitalar no enfrentamento da COVID-19 no município.
No momento, diante do atual cenário epidemiológico de saúde da cidade, a Secretaria Municipal de Saúde junto a Santa Casa de Batatais tem internado seus munícipes com a doença em leitos de Enfermaria (7 leitos, sendo 5 SUS e 2 de convênio), buscando absorver sua demanda interna com custeio de recursos próprios, não deixando de prover, ao máximo, a assistência aqueles que necessitam de leitos clínicos diante do atual aumento regional por vagas hospitalares pela COVID-19.
JC – Todos os pacientes que tiveram agravamento da doença estão com as vacinas atrasadas ou não tomaram nenhuma dose?
Bruna Toneti: Há as duas situações presentes nos casos que necessitaram de internação. Analisamos tanto pacientes vacinados quanto com esquemas vacinais incompletos ou não realizados (em sua maioria). Vale considerar que a maioria são idosos acima de 80 anos, com comorbidades prévias e situação de saúde prévia frágil. Destacamos que, entre os vacinados, nota-se necessidade de suporte apenas clínico, sem a necessidade de cuidados críticos em evolução da doença, como leito de UTI ou necessidade de intubação para suporte ventilatório invasivo. Isso é um grande ponto de destaque, fica evidente a importância da vacinação na prática clínica!
JC – Algumas pessoas não perceberam ainda a importância da vacinação?
Bruna Toneti: Infelizmente. Ainda notamos muitos casos de negacionismo em relação à vacinação contra a COVID-19. Devemos analisar criticamente o atual cenário. Se estivéssemos com a alta incidência da doença que temos hoje no ano passado, sem as vacinas, não teríamos leitos e condições de atendimento aos casos de agravamento pela doença. Contra fatos não há argumentos, o cenário epidemiológico da doença está diante dos nossos olhos para conduzirmos essa análise. Antes, sabíamos que cerca de 10% dos casos precisariam de leitos de internação, sendo 5% de cuidados críticos (UTI), hoje sabemos que isso representa apenas 2% dos casos, sendo a apresentação em menor gravidade, ou seja, de suporte clínico (Enfermaria). Vale destacar, porém, que 10% dos casos antes eram sob um número absoluto, no mínimo, 3 vezes menor do que temos hoje. Assim, não podemos deixar de considerar a preocupação que temos quanto a necessidade de assistência aos casos, principalmente, na esfera de planejamento em gestão em saúde pública para suporte em rede, uma vez que temos uma situação crítica de funcionamento dos serviços pela grande contaminação dos profissionais de saúde em atividade.
JC – Na questão dos testes, o município chegou a adquirir mais unidades para poder voltar a fazer a testagem de todos que procurem?
Bruna Toneti: Sim. Iniciamos o ano com uma quantidade em estoque significativa, contudo, o crescente aumento da demanda por testagem, bem como dificuldade de acesso ao mercado para aquisição nos levou a priorizar os casos em avaliação. O problema não é a compra, mas sim a disponibilidade no mercado. Vários laboratórios já se manifestaram quanto à falta de testes no mundo. A presente medida visa garantir o diagnóstico para a prevenção do agravamento da doença em pessoas mais expostas ao vírus ou mais suscetíveis a quadros graves pela doença, de maneira momentânea, até que a regularização do acesso aos testes e insumos se normalize. Ressalta-se que, todos os casos de síndromes gripais, contudo, devem seguir o diagnóstico clínico para o isolamento oportuno dos casos e seus comunicantes, conforme orientações do presente protocolo.
JC – É possível manter o projeto de assintomáticos com o Butantan por mais um tempo?
Bruna Toneti: Sim. Já dialoguei com os responsáveis pela pesquisa em andamento pelo Instituto Butantan nesse sentido. Como já tínhamos o planejamento do estudo e, considerando sua importância diante da pandemia, optamos por mantê-lo, sem prejuízos nos próximos dias. Contudo, as amostras dos RT-PCR serão congeladas para posterior análise genômica, uma vez que o Estado de São Paulo suspendeu tais análises de projetos de pesquisa para priorização das demais clínicas frente à escassez dos insumos nesse sentido. O paciente que participa do projeto, assim, fica ciente do seu resultado pelo teste rápido de antígeno viral, porém, o teste molecular só será disponibilizado provavelmente em fevereiro ou março, quando a situação laboratorial do país se normalizar.
JC – A recomendação continua sendo para que as pessoas com sintomas gripais procurem o Ambulatório Covid?
Bruna Toneti: Sim. Durante a primeira avaliação o caso já deve ser definido quanto à suspeita da doença. É importante que defina, durante a triagem, o tempo de início dos sintomas para, assim, conduzir a indicação da testagem para doença e conduta clínica. Na rede pública de saúde, os atendimentos de todos os casos suspeitos da doença devem ser direcionados ao Ambulatório COVID-19 e Unidade de Pronto Atendimento de Batatais (UPA 24h).
JC – Acredita que o pico de novos casos, por reflexo das festas de final de ano, já passou?
Bruna Toneti: Sem dúvidas, sabemos que a projeção atual se refere aos dias passados, ou seja, aos de final de ano, que foram associados a festividades em família, bem como viagens em diversos territórios nacionais e internacionais. É fato de que já havíamos alertado que isso ocorreria, uma vez que o comportamento social influencia diretamente na saúde coletiva frente a pandemia da COVID-19.
JC – Quantos funcionários da saúde estão afastados por testar positivo?
Bruna Toneti: Em média, afastamos 20 profissionais da Secretaria Municipal de Saúde por semana devido a suspeita ou confirmação da COVID-19. Esse número é assustador, uma vez que são profissionais essenciais para a assistência na linha de frente dos cuidados em saúde. Em analogia, é como se tivéssemos um avião para decolar, porém, sem pilotos para viabilizar que isso ocorra. Em termos de gestão pública, trata-se de um cenário nebuloso e prejudicial diretamente a população, que pode ficar sem acesso aos demais serviços em saúde para atendimento de suas necessidades fora a COVID-19.
JC – Como tem sido lidar com mais essa onda da Covid, após um período onde boa parte da população foi se acomodando nos cuidados preventivos?
Bruna Toneti: Na verdade, sinceramente, tem sido muito frustrante. A impressão é que não se aprendeu nada nos últimos dois anos de pandemia. As medidas preventivas sanitárias foram relaxadas, bem como os conhecimentos quanto à testagem e importância do isolamento social. Precisamos ficar retomando os mesmos discursos, como a importância do uso de máscara e da vacinação contra a COVID-19. Uma diferença notória é que, ano passado, nossos profissionais de saúde eram considerados como heróis pela sociedade, hoje, sofrem agressões diárias nos serviços de atendimento. A sensação é de exaustão! Resumo em duas palavras o que esperamos nos próximos dias: resiliência e empatia!