Batatais já tem sua cracolândia, fica ali entre a avenida José Pimenta Neves com a rua dos Antúrios, bem na esquina, perto da Escola Antônio Augusto, próximo à avenida dos Pupins. A polícia já sabe, a Guarda Civil Municipal sabe, a Prefeitura sabe, a Câmara Municipal sabe, a Igreja sabe, o Conselho Tutelar sabe, as secretarias sabem, as crianças sabem, os cachorros e os ratos também já sabem.
Ali, principalmente à noite, nos deparamos com os mórbidos frequentadores com seus olhos esgazeados mirando uma profundidade opaca e vazia, abandonados na miséria, é a cólera dos desalmados.
Essas dezenas de pessoas quando pensam no seu cozimento neural abandonaram Deus, ou ainda por Ele, parecem ter sido abandonadas.
Ali podemos ver a devastação que as drogas provocam no ser humano, demonstrando o quão somos frágeis, quando nos rendemos a essa tentação maligna. O corpo é apenas invólucro de um espírito doente que talvez até os obsessores se negam a estar presente, a réstia se esparrama entre eles se confundindo num único corpo perturbado pela próxima ausência daquilo que os sustenta. Ali não se fuma o cachimbo da paz, mas o cachimbo da morte que é o caminho mais próximo dos seus definhamentos.
Todos sabem, mas a situação permanece e aumenta porque quando as forças constituídas na sociedade se omitem, a bandidagem, o crime, o mal assombram o local e cobram seu quinhão daquela putrefação quase cadavérica.
São tidos como invisíveis, visto que, todos dizem que “não se pode fazer nada”, ou “eles não querem sair dali”, e outras desculpas atribuindo o problema a esses doentes e não ao que os levou até lá.
De fato, não é simples, problemas complicados exigem soluções complicadas, mas o abandono fica fácil e ignorar só reforça a nossa situação de egoísmo, pois não está acontecendo comigo, então esse inferno não é meu, é deles, é a falta de compaixão que nos faz desviar o olhar e fingir que a vida segue já no quarteirão debaixo. Essa banalização da vida somada a incapacidade das autoridades de resolverem o problema demonstra o quanto somos vulneráveis aos assédios que nos atormentam.
Qual será o fim deles? Uns talvez nesse final de semana, deixando já, sua vaga para o próximo nessa fila dos desesperados.