O Instituto Butantan, a Universidade de São Paulo (USP) e o Hemocentro de Ribeirão Preto lançaram um programa de terapia celular especializado no tratamento contra o câncer que utiliza células do sistema imunológico dos próprios pacientes para combater a doença, tecnologia conhecida como CAR-T Cell. Considerada altamente inovadora por possibilitar a cura ou remissão de linfomas e leucemia, a terapia é baseada em células modificadas que serão produzidas no Núcleo de Terapia Celular (Nucel), localizado em São Paulo (SP), e no Núcleo de Terapia Avançada (Nutera), localizado em Ribeirão Preto (SP).
Juntos, os núcleos terão capacidade de produzir células que poderão atender até 300 pacientes por ano, com resultados animadores, explicou o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, durante lançamento do programa no dia 14 de junho.
“Estamos falando da possibilidade de cura, com baixa toxicidade, de algumas dessas doenças. Isso é de grande importância e será o tratamento do futuro. Esse portfolio vai se expandir para um grande número de cânceres”, afirmou o médico hematologista, um dos líderes do estudo.
A iniciativa é feita em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e Hemocentro de Ribeirão Preto.
O lançamento contou com a presença do governador do estado de São Paulo, Rodrigo Garcia, do secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde do estado de São Paulo, David Uip, do reitor da USP, Carlos Alberto Carlotti, entre outras autoridades.
Para o governador paulista, a terapia deve se tornar referência no combate ao câncer e é sinônimo da vitória da ciência. “[A construção dos núcleos] é uma forma de mostrar que a ciência vence a doença e São Paulo mostra isso mais uma vez. Estes núcleos na Universidade de São Paulo e em Ribeirão Preto serão referência na produção de terapia celular que produz resultados concretos no tratamento do câncer de sangue”, salientou.
A terapia com células CAR-T (sigla para receptor quimérico de antígeno, em português) já é desenvolvida no Centro de Terapia Celular da FMRP-USP. O primeiro voluntário, que recebeu o tratamento experimental há dois anos, alcançou a remissão total de um linfoma em estágio terminal. Outros pacientes que optaram pelo tratamento, que para o paciente é “semelhante a uma transfusão”, também tiveram remissão, explicou Dimas.
“A terapia consiste em uma célula de defesa do organismo geneticamente modificada que passa a combater o câncer. Nós modificamos uma célula do próprio paciente e transformamos essa célula em um armamento contra o câncer que ela possui. Por isso que há uma elevada porcentagem de cura”, afirmou o presidente do Instituto Butantan.
“Do ponto de vista de tratamento, é uma infusão. O paciente recebe as células como se fosse uma transfusão e, a partir deste momento, as células começam a se proliferar e vão combatendo o câncer. A internação é muito curta. Se não houver nenhuma complicação no tratamento, em um mês ele recebe alta e, quando isso acontece, a doença normalmente já está sob controle”, detalhou Dimas Covas.
Tratamento acessível para todos
Para o secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde do estado de São Paulo, David Uip, o objetivo do programa é tornar o tratamento acessível para o máximo possível de pacientes oncológicos. “Esse tratamento, além do fato de ser inovador, com o tempo será acessível. Esse é o objetivo: a possibilidade de todos os brasileiros sem exceção terem acesso a esse tratamento.”
Objetivo ressaltado pelo reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti, que vê como um desafio escalar a terapia para outros locais do Brasil. “Estamos falando de um tratamento já realizado. Temos sete pacientes tratados e o desafio agora é transformar isso em uma produção industrial para que todo o Brasil, para que todo paciente brasileiro possa se beneficiar dessa metodologia”, afirmou.