Sede da Sociedade Recreativa 14 de Março – anos 30
Quem passa atualmente pela Rua 7 de Setembro e a observa atentamente, vê, pouco antes da Praça Dr. Paulo de Lima Corrêa, um imponente prédio que ocupa quase todo o quarteirão da rua. Trata-se da sede da SOCIEDADE RECREATIVA 14 DE MARÇO, atualmente com pouquíssimo uso, mas até décadas recentes, movimentou e encantou a vida social da elite batataense.
O prédio atual é fruto de uma ampla e radical remodelação nos anos 60, na diretoria do sr. João Junqueira; passando em décadas anteriores por outras modificações.
Os saudosistas e cultuadores da memória e preservação do patrimônio cultural de Batatais rememoram com nostalgia os anos áureos do seu suntuoso clube social. Talvez muitos não saibam, mas, antes de passar por uma grande reforma nas décadas de 60 e 70, o edifício teve sua venda cogitada por seus diretores.
A venda do prédio seria para o governo do Estado de São Paulo, que doaria à municipalidade para que se tornasse sede do Museu Histórico e Pedagógico ‘Dr. Washington Luís’ e do Departamento Municipal de Cultura da cidade. Com a venda do prédio histórico, uma nova sede seria construída em outro local, porém a transação nunca aconteceu.
Primórdios
Perto de completar 100 anos de existência, a Sociedade Recreativa 14 de Março, tal como conhecemos hoje, foi constituída formalmente no início de fevereiro de 1930. Porém, há indícios que a entidade tenha suas raízes em tempos anteriores, na década de 10, como veremos a seguir.
Cogita-se que a atual S.R. 14 de Março nasceu da reestruturação de uma antiga agremiação de cunho dramático-cultural, existente em Batatais que, por vezes, levava o mesmo nome da atual Sociedade Recreativa 14 de Março, e usava como sede o Salão Santa Cecília. Tratava-se do Grêmio Dramático 14 de Março.
O Grêmio 14 de Março existiu com vigor na década de 10, a partir de 1914 e sem grande fôlego sobreviveu até meados de 1928, quando o ‘Salão’ encerrou suas atividades recreativas para tornar-se a Capela Santa Cecília e serviu de Matriz Provisória, enquanto a antiga Igreja Matriz esteve em reforma.
Diante do iminente fechamento do Salão Santa Cecília, alguns integrantes do antigo Grêmio 14 de Março mobilizaram-se para ter um espaço social efetivo e reestruturar a dita agremiação recreativo-cultural, a fim de transformá-la num verdadeiro clube social para representar a elite batataense.
Desta forma, a antecessora da quase centenária SOCIEDADE RECREATIVA 14 DE MARÇO, nasceu como Grêmio Dramático Santa Cecília, fundado em março de 1914 e poucos meses depois, em julho do mesmo ano, teve seu nome alterado para Grêmio 14 de Março, com direito a festa inaugural. A agremiação rapidamente passa a ser denominada pela imprensa local de Club 14 de Março.
Idealizado e criado por um grupo de jovens rapazes e moças frequentadores do Salão Santa Cecília, próximo à Praça Cônego Joaquim Alves, nº 45, ao lado da casa do seu proprietário, o então Padre Joaquim Alves Ferreira, a primeira diretoria eleita do antigo Grêmio 14 de Março teve como presidente, Dr. Bazileu Soares Muniz e os demais membros diretores foram: Dr. José Arantes Junqueira, Romano Barreto, Guilherme Tambellini e José Marques.
Foram considerados seus sócios fundadores: Arthur Garcia Lopes, Bertholino Tambellini, José Salviano do Patrocínio, Joaquim Tristão de Almeida Júnior, Manoel Custódio Vieira, Maria Novelli, Zizinha Marques, Francisco Telles de Menezes, Affonso Vieira, Oswald Vieira, Carlos Alberto de Agostini, Adolpho Vietti, entre outros.
Nas notas de 11/08/1927 da Gazeta de Batataes, a dita agremiação ainda promovia apresentações teatrais e bailes dançantes no ‘Salão’ – assim denominado nos últimos tempos o Salão Santa Cecília.
“A Sociedade R. 14 de Março, sob a direção do adv. Guilherme Tambellini, levará a effeito hoje, ás 21 horas, em sua séde, um brilhante festival, conforme programma seguinte: I parte – *Rosas de todo o anno* – Julio Dantas, por Leonor Scatena (Iguez) e Carmita Tambellini (Suzanna); II parte – *Victimas da Moda* – Henry Duvernois por Conceição Menezes, Inae Girardi, Sarah Lima, Yollanda Tambellini e Antonieta Menezes; III parte – *Não é com vinagre que se apanham moscas* – Henry Duvernois, sendo personagens: Leopoldo, Leonor Scatena; Themistocles, Zulmira Girardi; Joséphina, Yolanda Tambellini; Engracia, Antonietta Menezes; Cecilia, Carmita Tambellini; Aurelia, Rina Girardi; IV parte – I- Jaquelão – Conjuncto; II – O palhaço – Sarah Lima; III – Tango – Carmita e Leonor; IV – Fadista, porque choras? – Antonietta Menezes; V – Fumando Espero – Sarah Lima; VI Ave, Jahú! – Conjunto. A festa terminará com um sarau dansante. A ‘Gazeta’ agradece a gentileza do convite.” (GB,11/08/1927)
“Festival – Conforme fora annunciado, effectuou-se na noite de quinta-feira, no Salão Santa Cecília, séde da Sociedade Recreativa 14 de Março, um grandioso festival com o concurso? de graciosas e intelligentes senhoritas, sob a direção do sr. Guilherme Tambellini, advogado neste fôro.
A primorosa festa social e de arte reuniu os mais brilhantes elementos da sociedade batataense. (…)
Após foi proporcionada a fina assistência uma esplendida ‘soireé’ dansante. A primorosa festa deixou em todos a melhor impressão, tendo sido muito applaudidas as distinctas senhoritas que, com o seu talento e a sua bella interpretação, deram todo o fulgor à mesma.
A ‘Gazeta’, que sempre tem estimulado com os seus encomios, todas as manifestações de vida intellectual e progressista de Batataes, dirige calorosas felicitações não só as mencionadas senhoritas, que tanto brilho deram ao festival, como também ao seu dedicado organizador sr.advogado Guilherme Tambellini.” (GB, 14/08/1927)
Ao que tudo indica, o ‘Salão’ servia de ponto de encontro dos elementos da elite batataense. Com a proximidade do fechamento do espaço, a imprensa local, começa a instigar a elite batataense, especialmente, Gustavo e Adelino Simioni, a se mobilizar na construção de uma sede para a associação.
“É incontestável a habilidade com que o sr. Gustavo Simioni organiza e dirige reuniões elegantes em nosso meio social. Esta afirmação não vem para lisonja, tem, antes para uma pergunta e que vae logo a seguir porque o Gustavo e o Adelino não reorganisam o Club ’14 de Março’ que ultimamente só tem existido ‘inannime’ e não premeiam Batataes com uma sociedade dansante e literária como há muito tempo a cidade está a pedir?
Não lhes há de ser difícil, dada a influencia e a sympathia que gozam, obter entre nós os fundos necessários a esse empreendimento, tanto mais no inventario, além de piano, mobília e bilhares, alguns contos de reis que desde muito tempo aguardam se lhes dê melhor destino.
Ora, com tão bons cabedais, a seu favor, poderão facilmente os irmãos Simioni angariar os fundos restantes que, reforçados com dedicações e enthusiasmo que nunca lhe faltam, hão de produzir forçosamente um ’14 de Março’ renovado e prestigioso como o está a exigir a sociedade batataense que dansa, que se diverte e que aprecia nas horas vagas boa musica e hora literária. E temos dito.” (TB, 15/04/1928)
Sendo assim, os incentivos para a formação de um clube social com sede própria começaram após o fechamento do antigo ‘Salão Santa Cecília’ e o fim da agremiação cultural que lá sobreviveu aos anos 10 e 20, constituída por frequentadores do local.
Nasce uma nova sociedade
Sem um espaço adequado para a elite batataense promover seus eventos culturais e entretenimentos, alguns elementos do antigo clube, começaram a reorganizar-se a fim de formar uma comissão para construir uma sede social e constituir-se verdadeiramente em uma sociedade recreativa.
Com isso, os semanários da cidade começaram a noticiar sobre a formação da nova sede para o Club 14 de Março, uma das denominações usadas para designar a agremiação. A partir de janeiro de 1929 foram publicadas na Tribuna de Batataes uma série de textos intitulados ‘O progresso social de Batataes’, com informações sobre a futura sede da já denominada Sociedade Recreativa 14 de Março:
“A construção de um prédio próprio para a sede de nossa Sociedade Recreativa. O enthusiasmo com que vão sendo subscriptas as acções – Bem razão tinha o nosso jornal quando, em momento feliz, se lembrou de solicitar os esforços do sr. Gustavo Simioni no sentido de conseguir, por meio de acções, os necessários fundos para a construcção de um edifício digno do nosso progresso destinado a servir de séde á Sociedade Recreativa. Hoje, podemos constatar, com justa alegria, o enthusiasmo com que foi recebida a nossa suggestão e, dado o número de subscriptores conseguimos, pelo sr. Gustavo Simioni, afirmar com segurança que dentro de muito pouco, a nossa culta sociedade terá um ponto magnífico de reunião onde possa, em ambiente agradável e cheio de conforto, manter mais estreitas relações sociaes. Por esses dias será convocada uma reunião de todos os subscriptores para o fim de se estudar e escolher, dentre as oferecidas, a planta do novo edifício e dar-se outras evidencias de caracter urgente. A lista de acções continua em poder do sr. Simioni, a disposição dos que se interessam pelo nosso progresso social.(…)” (TB, 15/01/1929)
“A construcção de um edifício próprio para a séde da ‘Sociedade Recreativa 14 de Março’ – Conforme temos escripto dentro em breve uma realidade a construcção do belo e sumptuoso edifício destinado á sede da Sociedade Recreativa 14 de Março, desta cidade, e no qual o nosso escol poderá cultivar, em agradável ambiente, as relações sociaes. (…) pois salta aos olhos de todos as magnificas vantagens que ella trará ás famílias batataenses e ao valor social de nossa terra. E a culta sociedade batataense bem comprehendeu isso, tanto que a primeira e mais difícil etapa para a concretização da belíssima idea, já foi vencida. Pode-se, pois, considerar uma realidade a construcção da séde social da Recreativa, graças á boa vontade de um grupo de distinctos cavalheiros, a cuja frente se encontra o sr. Gustavo Simioni.
Quarta-feira ultima, no salão nobre da Camara Municipal, reunio-se a maioria dos subscriptores do capital necessário a essa construcção; e por unanimidade escolheu para seu presidente effectivo,o sr. Coronel Manoel Victor Nogueira, governador da cidade, e para presidente de honra, o sr. Dr. João Francisco Cuba dos Santos, íntegro juiz de direito da comarca. Estes, por sua vez, convidaram para secretario, o sr. Guilherme Tambellini. Pelo sr. Presidente foram, então, explicadas e apresentadas três plantas confeccionadas por architectos constructores aqui residentes, plantas essas que submeteu a apreciação dos srs. Acionistas. Pela ordem pede a palavra o sr. Gustavo Simioni e solicita designe o sr. Presidente uma comissão de cinco membros para proceder ao exame desses ante-projetos e confeccionar o memorial descriptivo da obra a se construir, que servirá de base á concorrência publica que vae se abrir. Deferindo esse pedido, depois de ouvir os demais interessados, o sr. Presidente nomeia os srs. Dr. Carlos Zamboni, dr. Garcia de Barros, José Candido de Andrade, Gustavo Simioni e Zefferino Girardi para constituírem essa comissão. Aceita a incumbência, a comissão solicita e obtem o praso de quinze dias para proceder e apresentar os respectivos estudos. (…)” (TB, 16/02/1929)
“Concorrencia – Está aberta a concorrência para a construcção do edifício destinado á séde do Club Recreativo 14 de Março até o dia 28 próximo. Os orçamentos devem ser entregues, em envelopes fechados, ao sr. Gustavo Simioni, que dará os necessários esclarecimentos. A planta será fornecida aos interessados pelo prazo de 24 horas, para estudos”. (GB, 28/02/1929)
“No dia 03 de março de 1929, as 13 horas, nas dependências do Paço Municipal, a Comissão responsável pela construção do edifício sede da Sociedade Recreativa 14 de Março esteve reunida para decidir qual a melhor proposta dentre as apresentadas pelas firmas de Pimenta & Santos, Rômulo Rigotto, Dr. Carlos Zamboni e José Marsiglia. A Comissão, presidida pelo coronel Manoel Victor Nogueira, secretariada pelo advogado dr. Guilherme Tambellini, e por outros acionistas do empreendimento, como Zefferino Girardi, Arthur Scatena, Dr. José Garcia de Barros, Gustavo Simioni, Major Antônio Cândido Alves, José Cândido de Andrade e José Lazzarini Sobrinho e José de Almeida, representando a Tribuna de Batataes, decidiu pela proposta do construtor Rômulo Rigotto, por satisfazer às condições exigidas e por ser a ser de preço mais módico”. (TB, 03/03/1929)
A decisão da Comissão recaiu sobre a proposta do construtor Rômulo Rigotto e
“ficou exposta na Casa Cruzeiro a bella planta do sumptuoso edifício do Club Recreativo 14 de Março. A construção já foi iniciada, que é motivo de parabéns para a nossa sociedade, que dentro em breve terá um centro de primeira ordem, digno do nosso adeantamento. Trata-se de um emprehendimento do mais elevado alcance.” (GB, 21/03/1929)
Após a decisão pelo projeto de Rômulo Rigotto, a sede social foi construída, em pouco mais de um ano, à Rua Sete de Setembro.
Os jornais locais acompanharam atentamente a construção do palacete, dando ênfase às belas linhas arquitetônicas do edifício e à rapidez com que estava sendo erguido. Conforme noticiavam os jornais, o edifício colaboraria para dar um ar ‘progressista e moderno’ à cidade.
O capital dispendido para a construção do prédio foi levantado, em grande parte, por um grupo de acionistas, que financiou praticamente todo o empreendimento, encabeçados por Gustavo Simioni, Dr. José Garcia de Barros, Zeferino Girardi, Carlos Zamboni, Dr. José Arantes Junqueira e José Cândido de Andrade, entre outros.
Título de sócio remido
“Uma obra de valor – Club 14 de Março – Aureoladas pelo enthusiasmo da directoria do Club Recreativo 14 de Março, as obras do novo e majestoso edifício sede estão prosseguindo com tenacidade, já demonstrando, em linhas geraes, o que vai ser esse palacete sob o ponto de vista da elegância e da esthetica. Há mezes, lamentando o fechamento da antiga sede (o Salão) fizemos um fervoroso apelo aos srs chefes de família no sentido de ser reaberto o club, que tão lindas ‘serestas’ proporcionou à nossa sociedade. Os nossos commentarios foram atendidos pois, as obras da nova sede foram em pouco tempo iniciadas, esperando-se a sua inauguração ainda este anno. As construcções do segundo andar estão em extraordinário adiantamento, devendo em breve ficar concluídos os trabalhos de assentamento de tijolos. Batataes vai, pois, possuir mais esse notável melhoramento.” (GB, 11/07/1929)
“Sociedade Recreativa – As obras do bello e sumptuoso edificio da Sociedade Recreativa, cuja construção foi confiada aos habeis architectos Romulo Rigotto & Cia, vão bem adeantadas, esperando-se sejam entregues em breve.
O enthusisasmo que reina na sociedade batataense pela inauguração da nova sede, é um índice seguro do brilhantismo de que se revestirão os festejos com que se pretende solennisar esse grato acontecimento.
O incançavel sr. Gustavo Simioni, a quem está entregue a direcção dos serviços, tem encontrado a maxima boa vontade e facilidade por parte dos accionistas. Para a biblioteca e salão de diversões, s. s. tem já recebido valiosas offertas de livros e apparelhos para jogos.
Em occasião opportuna publicaremos os nomes dos distinctos cavalheiros que tão fidalgamente vão concorrendo para a ‘Casa das Famílias Batataenses’.” (TB, 13/09/1929)
Cada etapa da construção era celebrada com entusiasmo pela diretoria e associados, além de noticiada pela imprensa local. Numa dessas comemorações houve a ‘solenidade da cobertura do telhado’ em agosto de 1929, com o comparecimento de convidados e população em geral:
“SOCIEDADE RECREATIVA – Solenidade de cobertura – como temos noticiado as obras do edificio-sede da distinta Sociedade Recreativa 14 de Março estão em pleno andamento, o que vêm demonstrar o esforço continuo e eficiente da respectiva directoria, a cuja frente está o sr. Gustavo Simioni, moço progressista e enthusiasta dos grandes empreendimentos. Amanhã, às 16 horas (4 hs. da tarde) terá lugar a cobertura do majestoso edifício, com a presença da directoria, dos accionistas e pessoas da alta representação. Serão oferecidos chops”. (GB, 15/08/1929)
“(…) Compareceram ao acto as autoridades locaes, a directoria, muitos acionistas e operários. Ao ser servido chops aos presentes, fez uso da palavra o nosso muito presado colaborador sr. Antonio Arantes, que, como batataense, congratulou-se com esta cidade pela realização de grandioso empreendimento, que vinha marcar uma brilhante e nova phase em nossa vida social”. (TB, 28/02/1929)
A comissão responsável pela construção da sede da S.R. 14 de Março preocupou-se, em primeiro lugar, com a edificação, para depois reorganizar-se formalmente enquanto um novo clube social. Sua constituição final foi articulada no início de 1930, conforme as chamadas para reuniões e assembleias:
“Sociedade Recreativa 14 de Março – Realiza-se no dia 26 do corrente, às 14 horas, em o prédio da Sociedade Recreativa 14 de Março, uma sessão extraordinária que ali se realizará afim de deliberar sobre importantes e urgentes assumptos referentes á constituição dessa sociedade. Por nosso intermédio a sua digna comissão pede a presença de todos os associados no referido dia e horas designadas”. (TB, 30/01/1930)
A diretoria S.R. 14 de Março foi constituída em fevereiro de 1930 e teve como seus primeiros representantes:
“Presidente, o médico Dr. Leandro Cavalcanti da Silva Guimarães; Vice-presidente, o médico Dr. José Garcia de Barros; 1º Secretário, o advogado Dr. Guilherme Tambellini; 2º Secretário, o tabelião Francisco Tristão de Lima; 1º Tesoureiro, Carlos Fugazolla; 2º Tesoureiro, José Luiz Lazzarini Sobrinho; Orador, o médico Dr. Jorge Nazar; Bibliotecário, Firmino Teixeira; Diretor Geral, o tabelião Dr. Gustavo Simioni; Conselho Fiscal: José Cândido de Andrade, Joaquim Barboza Junior, João Gaspar Gomes e demais conselheiros: Prof. Firmino Teixeira e Dr. Frederico Marques.” (TB, 01/03/1930)
No entanto, o ato que realmente marcou o início de uma nova era para a SOCIEDADE RECREATIVA 14 DE MARÇO foi a inauguração de sua sede em 28 de junho de 1930, festejada com toda a pompa que a ocasião exigia.
Vale indicar que a entidade instituiu como sua fundação e inauguração simbólica a data que recebe o nome da sociedade, o dia 14 de março – que marca a elevação da cidade de Batatais à condição de vila, bem como fez uma homenagem à antiga agremiação dramático-cultural que deu origem à nova Sociedade Recreativa 14 de Março.
A seguir, o programa comemorativo de inauguração da nova sede:
“Inauguração da nova séde da Sociedade Recreativa 14 de Março – A Sociedade 14 de Março, há tempos fundada em nossa terra, tem hoje, uma séde magnífica que se impõem pela construcção e também pelo elegante e fino mobiliário que a ornamenta.
Essa sociedade que perpectua a data grandiosa, que é 14 de Março, para Batataes, terá sua sede inaugurada no dia 28, deste, havendo, após o benzimento da mesma, artístico festival, organizado pelos altos e representativos elementos que a constitue.
A benção que será feita por Monsenhor dr. Joaquim Alves Ferreira, realizar-se-á ás 16 horas daquele dia; e, às 17 horas, Café paulista, oferecido aos presentes e bailados executados por graciosas senhorinhas do nosso escol. Para a noite, ás 21 horas, os diretores dessa Recreativa reservaram bello e magnifico sarau dansante que deixará imorredouras impressões aos que assistirem”. (TB, 22/06/1930)
Sede da Sociedade Recreativa 14 de Março – início dos anos 30
A INAUGURAÇÃO DA SEDE DA SOCIEDADE RECREATIVA 14 DE MARÇO
“Com o brilhantismo e esplendor que era de se esperar, realizou-se, hontem, a inauguração da sede da Sociedade Recreativa 14 de Março.
O acto inaugural revestiu-se de excepcional solenidade, a ele comparecendo tudo que Batataes encerra de distincto e precioso. (…) Como lembrança desse inesquecível festival, foram pela Directoria dessa novel Sociedade, distribuídos ás senhorinhas ali presentes lindas cestas como lembrança da festa inaugural da Sociedade, tendo sido, então, eleita a rainha da festa. Abrilhantaram, com sua presença ao acto inaugural, a banda Euterpe Batataense que tocou durante o dia e o Jazz band Moderno, de Ribeirão Preto, durante á noite. (…)” (TB, 29/06/1930)
Em seguida, foto do salão de festas e da benção da sede da S. R. 14 de Março, promovida pelo Monsenhor Joaquim Alves na tarde da inauguração oficial do prédio em 1930.
Cerimônia de Inauguração da S.R. 14 de Março
AS FESTAS INAUGURAES DA SEDE
“(…) revestiram-se de beleza excepcional os actos comemorativos da inauguração da linda sede da Sociedade Recreativa 14 de Março. As 16 horas, estando todas as salas do architectonico edifício repletas de exmas. famílias e cavalheiros, o mons. dr. Joaquim Alves Ferreira procedeu a bençam, acto que foi paranymphado pelas sras. D. Adorama Alves e Emma Girardi, consortes respectivamente, dos srs. major Antônio Cândido e Marcello Girardi e pelo srs. Arthur Scatena e José Ordine. A seguir, o celebrante dirigiu expressivas phrases aos presentes. Após um pequeno intervalo, teve lugar um encantador conjunto de bailados, executados por distintas senhoritas, números esses que foram apreciadíssimos e abrilhantados pelo Jazz Band Moderno de Ribeirão Preto. Aos seus convidados, a directoria, em bellas mezas, fez servir finíssimo ‘lunch’. Ás 22 horas, estando os salões iluminados ‘a giorno’, foram iniciadas as dansas, procedendo-se, antes das mesmas, ao acto inaugural.
O sr. dr. Leandro Cavalcanti, presidente da associação, fez um bello discurso, discorrendo sobre a vida da Recreativa e agradecendo, em nome da directoria, a presença ali dos convidados.
O sr. dr. Frederico Marques, orador oficial leu um primoroso discurso, que produziu uma das mais nítidas impressões quer pela impecável beleza da forma, quer pela excelência e elevação dos conceitos. A seguir, o advogado sr. Guilherme Tambellini, secretario, lavrou uma acta, que foi assignada pelos presentes. Num dos intervalos das dansas, procedeu-se a escolha da ‘rainha da festa’, tendo sido eleita a graciosa senhorita Julieta Simioni, que tomou posse do ‘throno’, sob uma calorosa salva de palmas. Foram eleitas ‘princezas’, Antonieta Garcia e Rina Girardi sob aplausos geraes. As dansas prosseguiram atraentes e animadas por uma verdadeira nota de distinção, constituindo um encanto tendo o relevo de riquíssimas toilettes, cujas cores completavam o maravilhosos effeito das luzes. Na tarde de domingo, para concluir os festejos, foi oferecida uma vesperal dansante às gentis crianças batataenses, tendo sido eleita ‘rainha’ da encantadora reunião infantil a menina Martinha. Também foram eleitos o ‘rei’, o menino Zezinho Passos e ‘princezas’ Zóe e Celeste. O serviço de buffet esteve irrepreensível.” (GB, 03/07/1930)
Eleição da Rainha e princesas da Festa Inaugural
Os anos 30, bem como todas as décadas posteriores, foram bem movimentados para os associados e convidados da S.R. 14 de Março, com frequentes programações artístico-culturais, como chás dançantes, apresentações teatrais, apresentações de músicos e artistas locais e nacionais, bailes acompanhados de renomadas bandas locais e regionais, recitais, festas, jogos, palestras, reuniões políticas, formaturas escolares, almoços e jantares com autoridades políticas e militares locais e estaduais.
As representantes femininas associadas da ‘Recreativa’ sempre estiveram envolvidas com a organização de eventos teatrais, musicais e dançantes, desde a época do Grupo Dramático 14 de Março. As jovens e mulheres da alta sociedade batataense se encarregavam de organizar bailes e festivais para a comunidade, que eram realizados geralmente no Salão Santa Cecília, no Cine-Teatro Santa Helena e na sede da Sociedade Recreativa quando esta foi finalizada. Um dos primeiros eventos recreativos após a inauguração do prédio foi realizado por essas jovens, filhas e esposas dos associados.
“As senhorinhas da ‘Sociedade Recreativa 14 de Março’ teem a honra de convidal-o e a exma. Família, para um baile a caracter ‘Cigano’, a realizar-se no dia 13 do corrente, às 21 horas, na sede social, pedindo às pessoas que tomarem parte nas dansas, respeitarem aquelle trajo. Batataes, 8- VII-930.” (TB, 13/07/1930)
“Sarau á ‘Cigano’ – Realizou-se no dia 13 do corrente, na Sociedade Recreativa 14 de Março, um festival a caracter cigano, promovido por distintas senhorinhas do nosso meio social. Foi concorridíssimo o sarau, (…). A escolha do cigano e cigana mais originaes, recahiu no sr. Simão Terra e senhorinha Leonor Scatena, que se apresentaram perfeita e singularmente caracterizados. (…).” (TB, 20/07/1930)
Baile a fantasia
Eram elas, na maioria das vezes: Elza Scatena Simioni, Lourdes Paiva, Rina Girardi, Irma Girardi, Julieta Simioni, Bijou de Paula Arantes, Leonor Scatena, Adelaide Lima, Celeste Fugazolla, Myriam Tambellini, Lourdes Testa, Zayra Mascagni, Lourdes Caran, Antonietta Garcia, Maria Helena, Doralice, Zizinha Marques, Josephina, Emilia, Luzia Pippa, Dalva Montana, Alice Figueiredo, Cidinha, Olga, Dora, Stella, Cora, Marina, Myrtes. (GB, 15/05/1930)
Ainda no mesmo ano de inauguração da sede, promoveram um recital com a pianista Ophélia Nascimento com “a presença do elemento mais fino da nossa sociedade”.
“Teve execução esmerada, como era de se esperar, o concerto musical aqui effectuado pela exímia pianista Ophélia do Nascimento, nome consagrado nos meios artísticos do nosso paiz e no extrangeiro, onde já figurou, com grande destaque nas plateas dos Estados Unidos, França, Allemanha e outros paizes, com sucesso inenarrável. Vinda de Ribeirão Preto, onde o seu mérito de artista de incontestável valor mais uma vez se fez notar, em sucessivas demonstrações na Legião Brasileira e na Sociedade Recreativa daquela culta cidade, (…).” (TB, 28/09/1930)
Uma prática realizada pela antiga agremiação foi mantida no novo Clube 14 de Março: a de sortear um grupo de jovens, homens e mulheres, que ficavam responsáveis por organizar periodicamente as atividades sociais, chamadas pelos associados de Hora Recreativa, Hora Literária e a Hora da Dança, como as descritas a seguir:
“Clube 14 de Março – Hora Recreativa – Realizou-se quarta-feira última no salão de festa do 14 de Março, mais uma dessas animadas reuniões recreativas. O grupo mixto, rapazes e senhorinhas, encarregado daquela Hora Recreativa, demonstrou, evidentemente, numa linha impecável, o grão fino gosto em que se acha collocado.
A incumbência que lhe foi dado por sorteio, foi de um modo admirável, promovida e desempenhada com os números do programma que segue: 1º Chrônica da Semana: Paulo Villa Nova – trabalho escripto – Considerações sobre a Conflagração Europeia; 2º ‘A Vontade’ – trabalho escripto – Wanda Diniz Mascagni; 3º ‘O passeio de Santo Antônio – Adriano Tambellini; 4º versos de ‘Escandalo’ – Julieta Simioni; 5º Ao piano e plantas, da ópera ‘Trovador 1 – Oswaldo Scatena; (…). Terminado este, deu-se em seguida início a hora de Dansa sendo, por essa ocasião, servido delicioso chá.” (TB, 26/04/1931)
“Para a sessão da próxima semana foram sorteados: Yolanda Tambellini, Maria do Carmo Teixeira, Suzana Menezes, Apparecida Menezes, Paulo Teixeira, Moacyr Mascagni, Nelson N. Tondella e Nelson Freire Vianna.” (TB, 26/04/1931)
“Para a sessão do dia 06, Rosina Nogueira Albano, Carmem Tambellini, Lourdes Testa, Guiomar Menezes, Wadih Acra, João Carlos Filho e Benedicto Arantes.” (TB, 03/05/1931)
“Para a sessão da próxima semana foram sorteados: Luiz Gonzaga Lellis, Chrônica da Semana, e os demais srs. Anselmo Tambellini, Julieta Simioni, Antonietta Menezes, Zayra Mascagni, Paulo Teixeira, Adalberto Ferreira e Aliceleste de Oliveira.” (TB, 07/06/1931)
Uma variante desses encontros foi a formação de comissões de meninos e meninas para organização de matinês.
“Matineé – Uma commissão infantil constituída dos meninos Walter, Guido, Ruy B. Nogueira e Laercio, realiza hoje um interessante matineé, na S. Recreativa.” (GB, 08/03/1931)
“BAILE INFANTIL – Realiza se hoje, ás 14 horas, nos salões da Sociedade Recreativa 14 de Março, uma vesperal dansante infantil, organizado por uma comissão de meninos (…).” (GB, 14/02/1932)
Os sócios da S.R. 14 de Março, desde a sua fundação, mostraram-se animados em relação às celebrações, como festas de Ano Novo; festas em honra ao Momo com bailes, corsos e grupos; nos ‘Bailes de Aleluia’ e na Festa Junina de São João.
“Nos amplos e alinhados salões desse clube, foi pela sua directoria, organizado como oferenda ao seus associados, um primoroso baile, ao som do optimo ‘Jazz das Buzinas’.
Por essa ocasião foi, como anteciparam os convites, feita a votação entre as senhoritas ali presentes, para a escolha, da nova rainha e igualmente princeza.
Essa votação teve o seguinte resultado: rainha – Leonor Scatena; Princezas: Rina Girardi e Julieta Simioni tendo logo após procedido a coroação, que finalizou, com inteligentes e delicadas palavras do sr. Guilherme Tambellini.
Num espírito galhonha, mesmo fora do programma, inventaram os rapazes a necessidade de uma votação, criteriosa (estilo P.R.P.) de cujo resultado lhes desse o Judas da festa.
Não tardou em demonstrar o seu resultado, apontando como eleito o sr. Paulo Borges que ao rythmo de uma gozada marcha fúnebre, tomou o throno que se armara na escada e onde foi fartamente felicitado.” (TB, 12/04/1931)
“S.R. 14 de Março – Sob a harmonia esplendida do Jazz 14 de Março e da corporação musical Santa Cecília, desta cidade, decorrer-se-á o ‘Quentão dansante’ que esta fina sociedade oferece aos seus associados, hoje, a noite, das 20 as 24 horas.” (GB, 23/06/1938)
Festa Junina – década de 40
No primeiro carnaval oficial da recém fundada S.R. 14 de Março, as homenagens ao Momo foram animadas:
“Foram cheios de beleza todos os momentos que ali decorreram, notando-se nos lindos salões, tudo quanto a nossa elite possue de mais attrahente e distincto. Num ambiente de perfumes e alegria, pleno de luzes, decorreram as dansas empolgando a todos. Toillettes belíssimas, num turbilhão de polychromas, enchiam os olhos de surpresas e extasiavam as almas (…).” (GB, 22/02/1931)
Durante os Carnavais, é sabido que a S.R. 14 de Março fazia-se representar nos salões com blocos e cordões, nos corsos, batalhas e desfiles numa completa empolgação.
“ (…) em Batataes, ao que parece, o Tríduo vai ser ruidoso. As sociedades Recreativa, Italiana, Operária e Victoria Regia numa louvável attitude, tomaram o encargo de dar brilho e enthusiasmo às festas folia. A mocidade de Batataes, desta vez, vai deixar a tristeza de lado e cahir na loucura desses tres dias…” (GB, 03/03/1935)
“Na Recreativa – Programas de Hoje – As 22 horas, barulho de sereias, toque de clarins e abertura de salão de festa, seguindo os números:
– entrada triunphal de Momo:
– apresentação dos cordões, annunciados em alto- falante da P&XX 1237;
– ao ser apresentado o cordão, a Recreativa cantará o seu hymno de Guerra;
– recepção dos cordões das sociedades visitantes, obedecendo a seguinte ordem:
– as 23 horas – Victoria Régia;
– as 24 horas, – Sociedade Italiana;
– á 1 hora, Sociedade Operária.
Amanhã, continuarão os folguedos na sede da mesma agremiação.
No baile de 3ª-feira, haverá um esplêndido Concurso de Phantasias, sendo distribuídos ricos prêmios.
O salão principal está ricamente decorado primorosamente.
A decoração é a mesma do Hotel Terminus, no Carnaval do anno findo.
As visitas das sociedades serão retribuídas 3ª-feira pelo Cordão da Recreativa.
Cordões – Sairão os seguintes: – Recreativa – Victoria Regia – Fábrica de Chapéus – Piscina – Sociedade Italiana – Cadê Tristezas – Cadetes – Granadeiros – É da Coroa – ‘Dinét Jaquets” – ‘Num dianta chorá’ e Futurista, além de outros que serão improvisados.” (GB, 03/03/1935)
As festas em honra ao Momo continuaram numa crescente animação pelas décadas seguintes. Encontramos no O Jornal, na edição de 05 fevereiro de 1942, uma letra de música carnavalesca, próxima a um hino de guerra escrito por um associado – codinome Barnabé – para as festas carnavalescas da S.R. 14 de Março.
“São de autoria de um nosso prezado amigo, os versos abaixo que já foram convenientemente musicados, para o Carnaval de 1942 na Recreativa:
“Deixe em casa essa tristeza” – Samba Rancho Barnabé
I
Nem a mulher do padeiro,
No batente noite e dia,
Nem a mullher do leiteiro,
Que lavava e cosia noite e dia,
ESTRIBILHO
No cordão, alegremente,
Todo mundo tem que entrar,
Batam palmas minha gente,
Para o compasso marcar.
II
Lá tem morenas bonitas,
De olhar que cala profundo,
Tem loirinhas catitas,
Bem prá lá do outro mundo!
Deixa pra lá essa tristeza,
Venha a Momo dar seu viva,
Aderindo `a turma bamba,
Da nossa Recreativa.”
Nas datas de aniversário do clube, organizavam bailes memoráveis. Ao completar o primeiro ano de inauguração de sua sede, em 28 de junho de 1931, foi organizado por uma comissão de senhoritas o ‘Sarau Dansante da Simplicidade’ que está sendo aguardado com grande interesse, esperando-se que seja bastante apreciada pela nossa fina sociedade.” (GB, 21/06/1931)
“Recreativa – A directoria da Recreativa levará a effeito na noite de 29 próximo, anniversario do acto inaugural do seu salão nobre, uma festa dansante, que promete muito brilho (…).” (GB, 23/06/1935)
Nas décadas de 30 e 40, a S.R. 14 de Março organizou apresentações artísticas e musicais com renomados artistas, como o recital de poesias com a declamadora Maria Luiza Quirino dos Santos (05/1931), um concerto de piano, com a musicista Nair Santos (06/1931); apresentação musical com o tenor português Octacílio Machado acompanhado do tenor batataense Jayr Diniz, e apresentações dos musicistas Adalberto Ferreira com André Pippa (04/1933) e Guiomar Novaes (09/1936).
Programa do Recital de Guiomar Novaes realizado na Sociedade Recreativa 14 de Março
A entidade também ofereceu banquetes e bailes a diversos homenageados, autoridades civis e políticas, como os registrados quando da mudança de cidade do estimado médico Dr. Júlio Luiz de Mesquita em abril de 1932. Marcou presença nos salões de festas do clube social, ainda em 1932, a comitiva de rapazes do Grêmio Olavo Bilac, do Ginásio do Estado de Ribeirão Preto.
Dentre os vários momentos de gala, temos registrado o jantar e baile oferecido ao Dr. Cantídio de Moura Campos, então Secretário de Educação do Estado e ao prof. Luiz da Motta Mercier, Delegado Regional de Ensino, além de outros membros da comitiva governamental, por ocasião da inauguração do Grupo Escolar do Castelo, atual Escola Estadual ‘Monsenhor Joaquim Alves Ferreira’ em 1935.
Baile na Sociedade Recreativa 14 de Março oferecido ao sr. Cantídio de Moura Campos e comitiva – 1935
Outra visita que marcou a história da S.R. 14 de Março ocorreu em agosto de 1938, com a presença do Interventor Federal do Estado, Dr. Adhemar de Barros e comitiva para o lançamento da pedra fundamental do futuro Instituto Regional de Amparo e Proteção à Infância (prédio do antigo Lar da Infância). Aos visitantes foi oferecido um banquete e, em seguida, um baile dançante.
Adhemar de Barros em visita a Batatais
Outro evento que ficou marcado nos anais deste clube social foi o ‘Baile das Américas’ quando da visita de autoridades políticas estaduais para as homenagens e inauguração do busto do Dr. Paulo de Lima Côrrea, por conta de seu recente falecimento.
Porém, de todos os momentos vividos pelo clube, um deles é sempre rememorado com orgulho, a mobilização dos associados e associadas deste clube social durante a Revolução Constitucionalista de 1932.
Em julho daquele ano, tão logo teve início o conflito entre as tropas legalistas de SP e as tropas federalistas, os batataenses se envolveram em diversos tipos de campanhas pró-Constituinte, além é claro, de ter oferecido voluntários para o conflito armado.
Em Batatais, foram constituídas várias comissões locais, composta por membros de todos os segmentos sociais. A principal comissão do M.M.D.C. local, de base política, foi formada por destacadas autoridades da elite batataense, entre elas advogados, médicos, empresários, comerciantes e fazendeiros, todos ligados a S.R. 14 de Março.
A saber: Dr. José Garcia de Barros, Dr. Frederico Marques, José Ordine, Dr. José Arantes Junqueira, Dr. Domingos de Morais, Dr. João Francisco Cuba dos Santos, Dr. Francisco Arantes Junqueira, Dr. Eulógio Bastos e Dr. Raphael di Lorenzo.
Alguns dos membros da comissão central local, participaram diretamente do levante, como voluntários. Foram eles, os médicos: Dr. José Garcia de Barros, Dr. Amador de Barros, Dr. Leonel Orsolini e Dr. Eulógio Bastos.
A S.R. 14 de Março ofereceu sua sede para ser a Casa do Soldado de Batatais, tendo por comissão diretora: Adelino Simioni, Gustavo Simioni, Carlos Figueredo Júnior, Francisco Tristão de Lima, Colombo Mascagni, Appricio de Mello, Wadih Miguel Acra e Nestor Lellis.
A Casa do Soldado de Batatais teve por finalidade realizar e agregar as diversas campanhas estaduais e locais que aconteciam e, com isso, receber os diversos tipos de doações, dar apoio aos soldados, em especial voluntários batataenses e oferecer amparo às respectivas famílias em suas necessidades, principalmente as menos favorecidas economicamente.
“Casa do Soldado – Consoante noticiamos, effectuou-se na quarta-feira no edifício da S. Recreativa 14 de Março com a presença das autoridades, exmas. famílias e combatentes, a instalação da Casa do Soldado. Fallaram os srs. dr. José Arantes Junqueira, oferecendo a Casa do Soldado aos bravos defensores ‘da lei’ e o sr. cap. Oswaldo Pereira de Carvalho, comandante desta praça e delegado especial do general Bertholdo Klinger, agradecendo. A comissão diretora, Adelino Simioni, Gustavo Siimioni, Carlos Figueiredo Junior, Francisco Tristão de Lima, Colombo Mascagni, Apparício de Mello, Wadih Miguel Acra e Nestor Lellis.” (GB, 25/09/1932)
“Casa do Soldado – o dr. Domingos de Moraes fornece diariamente de 25 a 30 litros de leite, assim como os srs. Luiz Franzosi, Aquiliano Costa e Plínio Coelho com menores quantidades. Os srs. Umberto Calefi, João Mendes e Felipe Caran têm fornecido grande quantidade de cigarros.” (GB, 13/10/1932)
Para cuidar especificamente dos donativos feitos à Casa do Soldado de Batatais, ficou responsável um grupo de rapazes encabeçado por Jácomo Campi e Atílio Lazzarini e, as comissões femininas associadas ao respectivo clube social. Outro grupo que muito ajudou nas arrecadações foi o das crianças do Batalhão Infantil do Grupo de Escoteiros local.
“Pioneiros do Batalhão Infantil de Batataes – O senhor Rubens Morato, organizador do Batalhão Infantil teve a lembrança de organizar um grupo de escoteiros para prestar serviços à Casa do Soldado. São estes os pioneiros: Jesus Morato, José A. Freitas, José Puccinelli, Esmeraldo Tame, Oswaldo A. Freitas, Abessio de Oliveira, Valentim Cinalli, Nelson Côrrea, Paulo Scatena, Otto Mello, José G. Figueiredo, Hugo Francisquini e José Iara.” (GB, 25/09/1932)
As várias comissões eram responsáveis pela arrecadação de fundos monetários; objetos específicos para a compra de armamentos, capacetes ou medicamentos; doação de cigarros e gêneros alimentícios, além da confecção de uniformes e acessórios de lã.
A população batataense contribuiu ativamente com doações de valores em espécie, joias em ouro e pedras preciosas, livros, objetos raros, veículos, alimentos, colchonetes, cigarros, fósforos entre outros para a causa constituinte.
Foram levantados os nomes de algumas das jovens mulheres que participaram de forma ativa nas campanhas do movimento constitucionalista de 32: Adelaide Moraes Tambellini, Adorama de Macedo Alves Pereira, Angelina Raimundo, Angelina de Mello, Alicinha Figueiredo, Antonieta Cinali Junqueira, Aurora Cinali Gomes, Belem Perez, Cândida Pimenta de Castro, Elisa Grellet Cardoso, Ercília de Barros, Erondina Cardoso, Glória Nogueira Lelis, Helena Teixeira Leite, Izaura Cursini, Josephina Ballirari, Josephina Simioni, Judith Nobre, Lucilla Junqueira Nogueira, Lydia Berger, Maria Abiathi, Maria Augusta Tambellini, Maria José Lellis Lima, Maria Marina Macedo, Maria Rita Cabral, Maria Rita Tristão, Maria Zenaide Arantes, Maricota de Lima Ordine, Nanci Marques, Odila Machado, Orsolina Raimundo, Sebastiana Nogueira, Sílvia Toledo Morais, Stella Tambellini, Yolanda Diniz Mascagni, Yolanda Gonçalves Nunes, Yollanda Tambellini, Wanda Diniz Mascagni, entre outras anônimas.
Porém, o movimento não foi unânime, mesmo com o amplo envolvimento pró-Constituição em nossa cidade. Os discursos e debates prós e contras do levante constitucionalista eram inflamados; as pessoas contrárias ao movimento de 32 enfatizavam o caráter partidário e elitista do conflito, afim de desmoralizar o movimento. Esses oponentes afirmavam que o movimento tinha cunho separatista.
Em nossa cidade, o jornalista Nelson Freire Viana – um dos proprietários da Tribuna de Batataes – foi acusado de ser contrário aos ideais constitucionalistas e seu nome excluído do quadro de associados da S.R. 14 de Março.
No dia 03 de outubro de 1932, deu-se a rendição paulista, há apenas poucos meses do início do conflito armado. Com o fim do levante, surgiram grupos dedicados a preservar a memória da Revolução Paulista. Alguns desses grupos foram responsáveis por invocar a participação das mulheres paulistas na política, liderados por Chiquinha Rodrigues.
Em Batatais, percebemos o empenho das nossas representantes femininas em ações beneficentes, como as relacionadas ao movimento de 1932 e mesmo em outras ações de apoio às instituições filantrópicas locais.
Na maioria das vezes, os grupos femininos organizavam saraus, festas dançantes e campanhas de arrecadação de fundos.
“(…) deliberou levar a feliz exito na noite de quarta-feira, nos faustosos salões da aristocratica Recreativa 14 de Março, uma (…) a festa dansante foi promovida com o nobilissimo intuito de prestar auxílio ao Orphanato Santo Antonio, estabelecimento de fins essencialmente altruisticos, que já abriga, apesar de sua fundação recente, quase uma centena de orphamsinhas, cuja direção é exercida pela Congregação Salesiana (…). (GB, 14/07/1935)
“(…) Nos belos salões da Recreativa 14 de Março, um esplendido sarau dansante promovido por uma distinta comissão de graciosas e dedicadas senhoritas, em prol da biblioteca pertencente ao referido club (…) os números de música executados pelo excelente ‘jazz Band Paulista’, desta cidade(…)”. (GB, 18/11/1934)
Baile pró-Mausoléo – “…effetuar-se á, ao sábado próximo, 10 do corrente, as 22 horas, na sede da Recreativa, uma grandiosa reunião dansante, que terá por nobilíssimo intuito beneficiar a construção do Mausoléu aos gloriosos combatentes da Revolução Paulista. Trata-se de uma fina reunião da nossa elite, que indubitavelmente, obterá absoluto êxito. A comissão que assumiu o honroso encargo desse baile, social e beneficente é constiuída de exmas senhoras.” (GB, 11/08/1935)
No final da década de 30, na presidência do Dr. Leandro Cavalcanti, a sede passou por uma grande ampliação, justificada em função do número de associados e a necessidade de maior melhor espaço recreativo:
“(…) Ultimamente, o seu edifício espaçoso e aristocrático já não comportava os inúmeros sócios, que comparecem diariamente para dois dedos de prosa, uma partida de bilhar, um joguinho inocente e camarada, a leitura repousada de livros e jornaes, no salão da biblioteca.
Então ocorreu a actual diretoria, uma ideia arrojada e grandiosa, que já se vae transformando numa estupenda realidade: a reforma completa do edifício, com o acréscimo de novos salões de jogos, uma espaçosa varanda lateral para onde abre o majestoso salão de baile, ampliação das escadarias, adaptação mais ampla e confortável do palco, instalação de bar permanente, e mais um sem número de melhoramentos que seria fastioso enumerar (…)” (OJ, 04/01/1938)
Para coroar a ampliação, a entidade recebeu em sua sede recém-reformada, o Baile de Gala do Centenário de Batatais. Nesse dia foi coroada a Senhorita Batataes 1939, num concurso promovido pelo O JORNAL. A eleita pelo voto popular, também era uma associada do clube: Julieta Simioni.
“Senhorita Julieta Simioni, com 2.780 votos e a demais senhoritas princesas: Lucilla Rocaratti, com 747 votos; Carminha Barbosa, com 707 votos; Apparecida B. de Oliveira, com 609 votos; Lourdes Lopes, com 579 votos e Caçula R. Rabello, com 345 votos.” (OJ/FB, 14/03/1939)
Prédio com reforma finalizada – final da década de 30
A partir de 1945, o prédio passou por nova remodelação coordenadas pelo engenheiro e arquiteto Carlos Zamboni e foi reinaugurado em grande estilo e opulência, em 1952, sendo a cerimônia, novamente apadrinhada, como na inauguração da S.R. 14 de Março em 1930, pelo Cavalheiro Arthur Scatena e Capitão José Ordine e pelas sras. Ema Marchesan Girardi e Adorama de Macedo Alves.
“S.R. 14 de março – Já se delineiam, em suas linhas gerais, a magnífica fachada, o espaçoso ‘hall’ e as demais dependências da Sociedade Recreativa 14 de Março, que sob a presidência do sr. Carlos Pereira Vianna, está passando por uma grande e radical reforma. O projeto modernista do eng. Dr. Carlos Zamboni, ao que já se percebe, emprestará outra fisionomia ao importante ao importante edifício, que sempre foi a ‘sala-de-visitas’ da cidade. Terá uma escadaria e ‘marquise’ proporcionais, com entrada ampla e quatro janelões de vidro na parte fronteira. Internamente, saindo do ‘hall’, outra escadaria de grandes dimensões e fino acabamento levará ao salão de festas. O mobiliário novo está sendo montado e constará de cômodas e elegantes poltronas de assento anatômico e móvel, que ficarão solidamente fixadas no assoalho, aos lados do salão de baile. No terreno adquirido ao lado esquerdo, em parte aproveitado para o corpo avançado da escada interna, será feito um jardim nos moldes do que já existe do lado direito. A S.R. 14 de Março, depois desta reforma, há de ser com certeza o Clube mais completo e luxuoso do interior do Estado de São Paulo”. (OJ, 04/10/1945)
SOCIEDADE RECREATIVA 14 DE MARÇO
“(…) nestes dois últimos anos, vem a S.R. 14 de Março passando por uma grande reforma, criteriosamente estudada e dirigida pelo dr. Carlos Zamboni.
O edifício social, que antes era aristocrático e majestoso, já se revela magnífico de suntuosidade e modernismo, com a fachada e o resto em vias de acabamento. O salão principal, acrescido de duas varandas laterais, em plano ligeiramente mais alto, assoalhado com tacos e ostentando um palco mais amplo e elegante, iluminado por artístico janelões e dispondo, agora, de camarim, toilette, sacada, bar e escadas condiguas, vai ser um dos mais lindos de todo o interior do Estado.
A parte térrea, as dependências de jogos, o salão nobre e o salão de senhoras, o espaçoso ‘hall’ e a chapelaria, tudo mereceu acurado estudo e vem sendo executado com segurança e de modo definitivo de sorte que, por muitos anos, a S.R. 14 de Março estará de acordo com o desenvolvimento e o progresso da cidade.
Ainda não se sabe se a inauguração se fará a 14 de março próximo, por isso que resta muita cousa por fazer. Mas no domingo vindouro os salões estarão abertos para os folguedos do Momo, em três bailes de arromba e matinê infantil ás 14 horas do dia 16, dedicada aos filhos dos sócios.” (OJ, 09/02/1947)
Novo prédio da S.R. 14 de Março – estilo Art’Dèco
No início dos anos de 1940, a entidade já contava com mais de 200 sócios e nesta época foram homenageados com o título de sócios beneméritos, dois de seus fundadores e principais entusiastas: Gustavo Simioni e Dr. Leandro Cavalcanti.
Ao completar 20 anos de sua fundação, a S.R. 14 de Março, a diretoria promoveu homenagens póstumas ao seu primeiro presidente e fundador, Dr. Leandro Cavalcanti, falecido no mês anterior.
A S.R. 14 DE MARÇO PRESTA HOMENAGEM PÓSTUMA AO DR. LEANDRO
“Na noite de 29 de junho p. findo, a Sociedade Recreativa 14 de Março, comemorando seu 20º aniversário de sua fundação, prestou uma solene homenagem póstuma ao seu primeiro presidente e fundador, Dr. Leandro Cavalcanti da Silva Guimarães, há pouco falecido.
Abrindo a sessão solene falou o sr. dr. Carlos Pereira Vianna, atual presidente da S.R., sobre o falecido e sobre as perdas recentes que Batatais vem de sofrer entre seus filhos diletos em menos de um lustro.
Em seguida falou o Dr. Oswaldo Scatena, advogado, banqueiro e vice-presidente da S.R.; depois o Dr. José Garcia de Barros, médico, que discorreu brilhantemente sobre a biografia do falecido; em seguida usaram da palavra o sr. Augusto Roncaratti, a sra. Prof. Marina Pereira Lima Pizzo, o sr. Cássio Alberto Lima, encerrando a sessão de homenagem póstuma o sr. Dr. Francisco Arantes Junqueira, Presidente da Câmara Municipal de Batatais. Estiveram presentes à homenagem: a família do extinto, especialmente convidada, seleta assistência e representantes do clero, funcionários municipais, vereadores, bancários e sociedades. (OJ, 03/07/1949)
Em 1954, foi feita um busto em homenagem ao ‘eterno diretor social do clube’, o sr. Gustavo Simioni.
No decorrer de sua história, a S. R. 14 de Março foi sede provisória de algumas entidades batataenses durante várias décadas, como o Batatais Tênis Clube, o Batatais Polo Club, o Aeroclube de Batatais, e foi palco de reuniões políticas e de entidades assistencialistas, como a Legião Brasileira de Assistência (LBA).
Ainda nesse mesmo período, na sede da Sociedade existiu uma sala de armas onde funcionou, por poucos anos, aulas de Esgrima, dadas pelo Comandante do 3º Batalhão da Força Pública Paulista, o Coronel Tenente Coriolano de Almeida Junior enquanto essa instituição esteve instalada em Batatais.
As apresentações artísticas durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), não deixaram de existir; foram apenas reduzidas. Em 1944, para comemorar a fundação de sua sede e o mês joanino, a entidade recebeu comediantes caipiras e dois conjuntos musicais, que durante dois dias animaram os associados (OJ, 29/06/1944).
No mesmo ano, a sociedade recreativa recebeu para um recital, o famoso pianista e compositor português, prof. Oscar da Silva, do Conservatório de Lisboa (OJ, 26/10/1944).
Outra apresentação que mereceu destaque foi da ‘A Brigada da Alegria’, sob o comando de Alfredo Nagibe que era composta por comediantes, atores e músicos famosos em suas atuações nas rádios das ‘Emissoras Associadas’, entre eles: Chica Pelanca (humorista), Bob Nelson (famoso ator cowboy), Romeu Ferez (tenor), Lupe Ferreira (sambista), Janet Clair (atriz) etc. (OJ, 14/03/1945)
No final da década de 40, surge o ‘Explosão Clube’, grupo de associados e associadas, liderados por Stella Marina Alves Pereira que ficavam incumbidos pelas festividades e eventos dentro do clube. Uma dessas noites inesquecíveis foi ‘Uma noite na Baía’ com direito a salão decorado com o tema ‘Baía de Todos os Santos’, peça teatral escrita por Guilherme Tambellini sobre um casamento entre os personagens a bahiana ‘Yayá Dendê’ (Netinha Ferreira) e o paulista ‘Sô Tônico’ (Augusto Roncaratti) e ao final apresentação do músico Fausto Degani e do cantor José Lopes e do grupo ‘Jazz Pinho’ (OJ, 27/08/1948).
A Sociedade Recreativa 14 de Março viveu anos maravilhosos nas décadas posteriores aos anos 50 até a virada do século XX, quando o clube social entrou em declínio, embora ainda perdure até os dias atuais. A Recreativa está a menos de uma década de completar 100 anos de vida, à espera de quem possa reviver seus pomposos anos dourados. Para rememorar as décadas posteriores aos anos 50, há necessidade de outra pesquisa.