Os visitantes e alunos do Centro Cultural Professor Sergio Lauratto, quando retornarem ao prédio, terão a grata surpresa de serem recebidos com um belíssimo mural desenvolvido pelo artista plástico e grafiteiro Fabiano Nunes, que no último dia 10 de abril esteve em Batatais para entregar uma obra de arte sua adquirida por uma moradora da cidade que intermediou a gentil doação de uma pintura mural para a cidade de Batatais.
De acordo com o diretor de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Batatais, Adilson Donizeti da Silva, tudo aconteceu de forma muito espontânea e com a colaboração de várias pessoas para que durante o mutirão de limpeza realizado no final de semana, o artista também pudesse estar presente realizando sua arte gratuitamente.
Fabiano nos conta que nasceu em Cotia e foi criado na Vila Albertina, no extremo norte da Zona Norte de São Paulo. Em 2005 conheceu o Graffiti pelo seu irmão Enivo, e desde então já sabia o que queria. Entre idas e vindas para estabilizar a vida e a arte, precisou de dez anos para entender que a arte é o movimento nele.
“Fui adotado duas vezes, pela rua que me acolheu e pela mãe Francisca. Aprendi cedo a escolher e a ser escolhido. Trago expressões das minhas memórias nas plantas que embelezavam a minha infância difícil: dos matos, dos cheiros e das texturas. Elas estão nos banhos de arruda, no benzimento e em todos os espaços ocupados pelos fragmentos da natureza, na pequena casa que cresci na Vila Albertina. Hoje essas experiências saem do meu olhar cotidiano para a toda natureza que cruza o meu caminho e também da pequena troca com a minha coleção pessoal das plantas que cultivo em casa. A expressão das cores, tons e texturas nas telas, muros e papéis são como essa relação me transborda.”
A primeira participação de Fabiano em uma exposição, foi neste ano de 2021 na Galeria A7MA em São Paulo, que tem desde a sua fundação acreditado na união, num modo de fazer onde o coletivo sempre está à frente, construindo bases sólidas para troca e diálogos, dando abertura e possibilidades a artistas que não se encontram em um sistema já estabelecido no mercado da arte. Para Fabiano, esta oportunidade na Galeria A7MA é realização do seu maior sonho!
“Uns sonham em ter, outros sonham em ganhar. Na minha vez de sonhar eu só queria existir e com esse marco na minha vida o sonho só começou”.
Já sobre o processo criativo, Fabiano diz que sua produção se inicia na observação e se desenvolve pelo cuidado. Do macro que é toda a natureza à sutileza micro em minhas plantas, companheiras do seu cotidiano, sendo a “Dieffenbachia seguinte”, conhecida pelos nomes comuns de comigo-ninguém-pode e aningapara uma de suas plantas afetivas, aprendendo com a mãe o poder de sua força de proteção.
“Os primeiros esboços nas folhas de papel são declarações da forma como essas plantas me tocam, suas linhas, folhas, galhos, troncos e raízes ganham formas simbólicas que me motivam, todos os dias. As paletas de cores são tons que me encontram neste processo, e na troca que é observar o seu ciclo de vida natural. Os Verdes, vermelhos, amarelos, roxos são sentimentos expostos do nascer e morrer. O equilíbrio das cores com os meus sentimentos na produção das telas, são a extensão de quem sou. Observação, cuidado e exploração. O afeto pela natureza é que me move.”
Os graffitis de Fabiano podem ser encontrados em escolas nas cidades de Guarulhos, Franco da Rocha, nas favelas Vila Albertina, Paraisópolis, Vila Zilda, Jardim Colombo, Palmas do Tremembé, nos bairros de Barra Funda, Cantareira, Vila Nova Galvão e muitos outros lugares, tendo agora a cidade de Batatais a honra de receber este presente em uma edificação histórica centenária.
Fabiano também realiza pinturas na técnica acrílica sobre tela, recorte, pintura e colagem em papel cartão ou canson, e possui trabalhos em galerias no Rio de Janeiro e São Paulo.
Quem se interessar e quiser acompanhar o trabalho deste grande artista, pode seguir suas postagens no instagram @apcgraff ou entrar em contato pelo email: apcegraff@gmail.com .
Fabiano Nunes, Adilson Donizeti e Matheus Doninha (artista visual) em frente ao mural no Centro Cultural, 2021.
Sobre a pintura realizada em imóvel tombado, o diretor de Patrimônio Cultural salientou que tal ação foi realizada prevendo a reversibilidade (ou seja, pode ser removida sem prejuízo ao bem tombado) e distinguibilidade (não pretende criar um falso histórico à edificação, considerando ser uma intervenção clara de seu tempo atual), sendo consultados informalmente especialistas na área que não viram por parte do Departamento de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Batatais nenhum dano que prejudicasse o valor de autenticidade e história da edificação, podendo até mesmo atribuir mais valor a este espaço cultural.
Todavia, após a realização do mural um parecer oficial foi solicitado ao Conselho do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Batatais em relação aos trabalhos realizados, uma vez que o mural foi pintado no final de semana, não havendo tempo hábil para uma solicitação formal anterior.
Histórico do Centro Cultural Professor Sérgio Lauratto
Transcrevemos a seguir trechos do Histórico do Centro Cultural Professor Sergio Lauratto, realizado pelo Museu Histórico e Pedagógico Dr. Washington Luís para o seu tombamento pelo Decreto Municipal nº 3562 de 03 de janeiro de 2018.
De acordo com as palavras da arquiteta e pesquisadora Maria Stella Teixeira Fernandes Dutra, o prédio é “um destacado edifício público” (1993, v.2, p.259). Foi construído em meados da década de 10 do século XX. Atualmente abriga o Centro Cultural Prof. Sérgio Lauratto, entre outros departamentos e setores da Prefeitura Municipal de Batatais, além de uma base da Polícia Militar local.
O prédio situado à Praça Barão do Rio Branco construído para ser cadeia pública, fórum, delegacia e quartel do município de Batatais, foi oficialmente inaugurado em 07/04/1917.
Antes disso, cada uma dessas instituições citadas lotava um prédio em local diferente. Vale ressaltar que as discussões em torno da sua necessidade e construção, começaram aparecer nos jornais e fez parte das pautas de discussão na Câmara Municipal da cidade desde 1911.
Em 1911, começaram os primeiros debates sobre a necessidade de um prédio que abrigasse as três instituições, manifestados pela Câmara Municipal, conforme transcrição retirada das Atas da Câmara (ano/volume 1908-1912, fs.117 v e 121), feita por Dutra:
“Em 18.4.1911, a Câmara Municipal é de parecer que se entre em negociação com o governo (…) no sentido de ser adquirido até 10 contos de reis, o edifício da actual cadeia pública desta cidade para nelle ser instalado o paço Municipal construindo o Governo do Estado um novo edifício para a cadeia (…)” (DUTRA, 1993, v.2, p. 259)
Nota-se que o novo prédio era pauta dos noticiários: “(…) em breve, as obras de construção do novo edifício destinado a cadeia, fórum e quartel, nesta cidade, serão iniciadas.” (GAZETA DE BATATAES, 16/03/1913)
“Foi designada a praça Barão do Rio Branco desta cidade, para ser construído o novo edifício em que funcionará a cadeia pública, fórum e quartel policial, desta cidade.” (GAZETA DE BATATAES, 27/03/1913)
Tão logo depois da notícia dada acima, a Diocese de Ribeirão Preto fez a doação do terreno para o governo estadual, no caso, para a secretaria da justiça de segurança pública, por intermédio do governo municipal, em 17/03/1913 para a construção do prédio: “(…) o Bispo da Diocese, em despacho de 17 corrente, concedeu por doação ao Governo do Estado, o terreno para o prédio destinado a servir de cadeia pública, fórum e quartel policial…” (GAZETA DE BATATAES, 30/03/1913)
Conforme informa ainda a Gazeta de Batataes de 10/08/1913, foi aberta a concorrência pública para a construção do edifício e a proposta vencedora, foi a do italiano Vicente Lo Giudice, mesmo que alguns construtores da cidade tenham participado, como os italianos e empreiteiros Guilherme Rosada e João Bradaschia, além dos construtores Giacomo di Giacomo, Aureliano Botelho e H. L. Fry.
Os estudos de Dutra (1993) indicam que o construtor italiano Vicente Lo Giudice, chegou “ao Brasil em 1890, iniciou sua carreira executando pequenas obras em diversos pontos do Estado, tendo se estabelecido, por volta de 1896, em Ribeirão Preto, como construtor e empreiteiro de obras públicas.” (DUTRA, 1993, v.2, p. 260)
Os trabalhos de preparação do terreno do novo fórum, cadeia e quartel foram iniciados já em setembro de 1913. Todavia, conforme Dutra (1993, v.2, p.262) “o projeto arquitetônico só foi concebido no ano seguinte”. No entanto, já em 1915, por motivo desconhecido, abriu-se novo edital para finalização da obra:
“Conforme edital que está sendo publicado no “Correio Paulistano”, emittido pela Directoria de Obras Publicas – Concorrencia para conclusão das obras de construcção da cadeia eforum desta cidade – as propostas que forem apresentadas serão abertas naquella Directoria, no dia 05 de maio proximo em presença dos concorrentes.
O orçamento projecto, clausula do contracto, exemplares do Regulamento e modo de pagamento das obras executadas serão franqueados também na Secretaria da Camara Municipal desta cidade, a exame dos interessados. O orçamento para conclusão do importante edifício attinge 132:943$489”. (GAZETA DE BATATAES, 18/04/1915)
“Na Directoria das Obras Publicas foram abertas, no dia 5 do corrente, as propostas referentes à conclusão da Cadeia e Forum desta cidade. A construcção do sumptuoso e importante edifício – verdadeira obra d’arte architectonica como nenhuma outra existe no interior do Estado _ custa dois orçamentos de avultada importancia, havendo o primeiro attingido 78 e i segundo 120 contos. Pelas importâncias acima, uma já despendida e a outra agora em dispendio, pode-se avaliar o primor da excellente obra, cujo acabamento virá, sobremaneira, enriquecer o conjuncto dos edifícios mais artísticos e solidos existentes em São Paulo, bem como dar merecido nome ao habilissimo pessoal techinico de que dispõe o governo do Estado. E nossa cidade, no tocante a edifícios desta natureza _ Cadeia e Foram [sic] _ pode orgulhar-se de possuir o melhor, em tudo e por tudo, dentre os que ha em todo o interior. Das propostas appresentadas à Directoria das Obras Publicas foi acceita a do sr. (não consta o nome impresso) O empreiteiro deverá entregar a construcção terminada em 1916, nos primeiros mezes.” (GAZETA DE BATATAES, 09/05/1915)
Percebe-se, com o passar do tempo, certa expectativa com o novo prédio:
“Esteve nesta cidade o sr. Commendador Eduardo Freire, chefe do almoxarifado da secretaria da Justiça da Segurança Publica do Estado. S.s. veio incumbido de proceder à installação, quanto ao mobiliário, da Cadeia e Forum desta cidade, cujo edifício, importante e magestoso por todos os motivos, se acha terminado devendo ser entregue por estes dias, definitivamente, pelo respectivo empreiteiro, ao governo do Estado”. (GAZETA DE BATATAES, 24/09/1916)
“Já chegou a esta cidade o mobiliário destinado ao bello edifício da praça Barão do Rio Branco em que vae ser installado o forum desta comarca. (…) O salão destinado às sessões do jury já está mobiliado, tendo o dr. juiz de direito officiado ao dr. Secretario da Justiça pedindo autorização para ali ser realizada a proxima sessão”. (GAZETA DE BATATAES, 07/01/1917)
“Com a expectativa frustrada de inauguração do novo prédio do Fórum para o início o início do ano 1917, fez-se a composição da 1ª. sessão do Tribunal do Júri do ano de 1917, esta realizou-se ainda no prédio velho a 23 de janeiro de 1917”. (GAZETA DE BATATAES, 28/01/1917).
A inauguração do novo edifício público foi bastante celebrada como narrada pela Gazeta de Batataes:
“A sete do corrente, a convite do dr. Juiz de Direito reuniram-se ao meio dia no edifício que até então servia de cadeia e fórum desta comarca, todo o pessoal do fôro e outras pessoas gradas, para se proceder à trasladação do fórum daquelle para o novo edifício à praça Barão do Rio Branco. Alli reunidos, o dr. Juiz de Direito assumiu a presidência da reunião, convidando para tomarem assento a seu lado o representante do presidente do Estado o cap. Afro Marcondes Rezende e o vigário desta parochia, padre dr. Joaquim Alves; em seguida explicou os fins da reunião e deu a palavra ao dr. José Arantes Junqueira, que pronunciou um discurso despedindo-se do velho edificio. Dahi seguiram à Santa Casa de Misericórdia conduzindo a imagem do cruxificado que existia no prédio velho e que devia ser oferecida àquella casa de caridade, onde, uma vez chegados, oraram, fazendo a offerta, o nosso redactor dr. Silvio Marques, e agradecendo, o revmo. padre dr. Joaquim Alves. Da Santa Casa seguiram todos em demanda do novo edificio à praça Barão do Rio Branco. Ahi, após a bençam da imagem do Christo, oferecida pelo povo para figurar no salão do Jury, e a bençam do prédio, usaram da palavra os srs. Dr. Frederico Marques, Guilherme Tambellini e o dr. Francisco Torres. Este último orador, em brilhante improviso, fez sentir que melhor seria sí, ao envez de cadeia e fórum, se destinasse aquelle majestoso edificio a uma casa de instrucção e pediu ás senhoras presentes que, aproveitando a presença do presidente do Estado nesta cidade, a ele se dirigissem em commissão, para solicitar a creação de uma escola normal em Batataes pois é possível, disse elle, que com a creação desse estabelecimento de ensino se converta entre nós em realidade o sonho de quem disse que “ quando uma escola se abre, uma cadeia se fecha.” * No dia seguinte, 8 do corrente, em regozijo pela installação do fórum no novo prédio, foi oferecido aos presos um lauto almoço, servido, entre outras pessoas, pelo dr. Juiz de Direito, padre dr. Joaquim Alves e o dr. Frederico Marques”. (GAZETA DE BATATAES, 15/04/1917)
Carece de uma pesquisa aprofundada o período após a instalação da Cadeia, Fórum no prédio da Praça da Barão do Rio Branco até o aquartelamento do 3º Batalhão de Caçadores da Força Pública. Seria interessante a ampliação do acervo iconográfico do prédio no decorrer do tempo. Parece haver um vácuo de informações sobre o prédio e as atividades ali desenvolvidas entre os anos 20, 30 e meados de 40, o que pode demonstrar talvez um “descaso com o prédio”, porém, de acordo com Barbieri (1997, p. 63): “o fórum e a cadeia funcionaram até meados de 1940”(…) e por determinação do Interventor Federal do estado de São Paulo, Dr. Fernando Costa, o ‘antigo edifício’ passou a ter uma nova função em 17/07/1944: servir de aquartelamento do 3º. Batalhão de Caçadores da Força Policial. (…)
“Não faz um ano que recebemos a visita memorável e já quase finalizamos os serviços de adaptação do Fórum (…) para o próximo aquartelamento da briosa unidade da milícia estadual”. (O JORNAL, 12/2/1944)
“Confirmando aquelas frases pronunciadas pelo batataense, dr. Paulo de Lima Corrêa, estão chegando parcelada e continuadamente, à medida que vão ficando prontos os alojamentos, os soldados do 3º Batalhão de Caçadores da Força Policial do Estado. Dentro de sessenta dias, no mais tardar, estarão completas as acomodações para mais de 250 homens. O corpo de engenharia, com a nova remessa de material, reiniciará as adaptações também para as báias das composições da cavalaria e o alojamento para as duas bandas, a de cornetas e fanfarras e a musical. Já se encontram aqui diversas praças. O sr. Cap. João José de Sant’Anna definitivamente transferiu-se para esta cidade, onde comandará o 3º Batalhão de Caçadores da Força Policial do Estado. Reafirma-se assim a grande veracidade contida na palavra do inesquecível dr. Paulo de Lima Corrêa ao dizer: ‘O sr. Interventor Federal autoriza-me a anunciar a transferência do 3º Batalhão de Caçadores da Força Policial para esta cidade’. Aliás, este acontecimento nos recorda com amargura a perda do grande conterrâneo que numa de suas visitas a Batatais dissera: ‘Procurarei fazer pela minha terra um pouco do muito que ela necessita e merece’.” O JORNAL, 14/03/1944)
Anterior à chegada festiva do 3º. Batalhão da Força Pública à cidade, esteve na cidade de forma oficial, o dirigente Tenente Coronel Coriolano de Almeida Júnior em junho de 1944, “afim de determinar a localização das diversas companhias em seu novo quartel” (O JORNAL, 23/06/1944). No início do mês de novembro de 1947, o 3º. B.C. volta novamente para a cidade de Ribeirão Preto, depois de acirradas discussões e interesses políticos, para o “antigo quartel”. Entre os anos de 1951 e 1958, no prédio, funcionou uma escola estadual, o então Ginásio Estadual Sílvio de Almeida, enquanto sua sede própria estava sendo construída.
Concomitante ao uso das instalações como unidade educacional, de 1957 até 1988, funcionou o Museu Histórico e Pedagógico ‘Dr. Washington Luís’ no andar superior do prédio, indo em seguida, ocupar as dependências do palacete do Monsenhor Joaquim Alves, a antiga Casa da Cultura. Desse tempo para cá, o prédio tem abrigado vários departamentos e secretarias estaduais e municipais, além de outras instituições de ensino, por períodos temporários, como a atual E. E. Cândido Portinari e do Centro Educacional SESI – 237, entre os anos de 1974 a 2009.
Atualmente, o prédio abriga o Departamento de Cultura e oferece diversas atividades e cursos artístico-musicais principalmente à população de baixa renda.