Constatação da semana em Brasília: O presidente está claramente acuado, soltando impropérios para todos os lados, demitindo assessores, e declarando até que no ano que vem poderemos não ter eleições. Tudo com a única intenção de produzir uma cortina de fumaça sob as evidências de corrupção que vem surgindo a cada novo depoimento na CPI da Covid em andamento no Senado. Vamos somente aos fatos, deixando as especulações de lado.
O depoimento do deputado federal Luis Miranda e o irmão dele, Luis Ricardo Miranda, servidor de carreira do Ministério da Saúde, produziu um cenário com potencial desastroso para o presidente. Relataram que em conversa com Bolsonaro no Palácio do Planalto sobre irregularidades na compra de 400 milhões de doses da vacina Covaxin com preço superfaturado e por intermédio de uma empresa com sede num paraíso fiscal, o presidente teria dito, muito contrariado, que “esse rolo é coisa do Ricardo Barros!”, e que mandaria a Polícia Federal investigar o assunto. Lembrando que Ricardo Barros é o deputado do Centrão líder do governo na Câmara, e a Polícia Federal não foi acionada na ocasião.
Depois de uma entrevista desastrosa do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência Onyx Lorenzoni e do Coronel Élcio Franco tentando explicar os tais contratos irregulares, os senadores de oposição pressionaram por um posicionamento do governo para esclarecer o assunto, e o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra leu uma nota na CPI dizendo que o presidente havia pedido para o então Ministro da Saúde General Pazuello apurar a denúncia, confirmando então que a conversa e o seu teor realmente existiram. Nesse momento, Bolsonaro caiu na arapuca! Explico.
Pelo Planalto circula a tese de que os irmãos Miranda gravaram a conversa com Bolsonaro, e que portanto, o presidente ficou encurralado. Se ele negar que a conversa existiu, ou tentar desmentir o seu conteúdo, a gravação aparece e ele passa por mentiroso, e todas as consequências advindas dessa atitude. Se ele confirma a conversa e seu teor, ele confirma que prevaricou, porque não mandou a Polícia Federal investigar a denúncia, uma vez que o contrato foi até suspenso recentemente pelo próprio Ministério da Saúde. E por fim, se ele jogar essa granada sem pino no colo do deputado Ricardo Barros, o Centrão pode abandoná-lo, abrindo o caminho para o impeachment.
O núcleo central do governo, e seus apoiadores não são bobos. Estão acompanhando a evolução das pesquisas de opinião, que nas duas últimas semanas constatou, através de 5 levantamentos realizados pelos institutos Ipec/Ibope, Datafolha, XP Ipespe, PoderData e CNT/MDA, de forma unânime:
- a queda da avaliação positiva do governo;
- a queda da avaliação pessoal do presidente;
- o aumento de sua rejeição, que atingiu nível recorde;
- o apoio majoritário do eleitorado ao impeachment;
- a percepção de que existe corrupção no governo, e, o pior dos cenários:
- se a eleição presidencial fosse hoje, o ex-presidente Lula venceria no primeiro turno.
Ou seja, as perspectivas não são nada boas para o eleitor que quer mudança, mas não quer voltar ao passado. Cada vez mais, penso que seria melhor mudarmos de vez para o regime parlamentarista. Mas aí já é assunto para um outro artigo…