No artigo de hoje, faço um pacto com vocês, caros leitores: vou me ater a analisar fatos, certo? Lá vamos!
Fato: escrevo este artigo na quinta-feira, 21 de janeiro, e nesse momento temos uma única vacina para imunização contra o contágio do coronavírus nas prateleiras dos hospitais públicos de nosso país, disponíveis para ir aos braços dos brasileiros desde domingo passado. A Coronavac.
Fato: é uma vacina de origem chinesa e com produção no Brasil pelo Instituto Butantan de São Paulo. Quem adquiriu o primeiro lote da vacina, os insumos e a transferência de tecnologia para produção em nosso país, foi o governo paulista com dinheiro do orçamento do Estado de São Paulo. Este por sua vez, revendeu este primeiro lote (6 milhões de doses) ao Ministério da Saúde, para distribuição nacional pelo SUS (em tempo: a informação oficial é que até esse momento o Governo Federal ainda não pagou São Paulo pelas doses).
Fato: a aquisição da Coronavac teve o marco inicial em maio do ano passado, quando o governo paulista, por orientação traçada pelo Centro de Contingência do Coronavírus e inciativa administrativa do governador João Dória, definiu que investiria cerca de 85 milhões de reais na compra do medicamento, insumos e transferência de tecnologia para produção no Butantan. Naquele momento, sequer havia sido iniciada a fase 3 de testes da vacina, não havia prazo determinado para conclusão dos estudos e não se sabia se ela seria segura e eficiente.
Fato: Era portanto, uma aposta arriscada!
Fato: Na oportunidade, São Paulo se aproximava de 10 mil mortos pelo coronavírus, e nenhum político de expressão em nosso país falava em vacinação, com exceção do já ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que assim como Dória, visualizava uma única saída para vencer o vírus: a vacinação em massa da população.
Fato incontroverso: a vacina Coronavac está hoje sendo aplicada nos brasileiros em consequência de uma inciativa do governador Dória e sua equipe técnica, que em maio de 2020 iniciou as tratativas com o laboratório chinês, pagou pelo produto com recursos do Estado de São Paulo, cumpriu as exigências da Anvisa, e garantiu, até o momento, a única vacina à disposição da população brasileira para aplicação.
Fato incontestável: goste-se ou não do nosso governador (eu particularmente o considero um tanto quanto convencido e prepotente, mas isso é outra discussão) o planejamento de Dória na principal conquista – a vacina – para derrubar o contágio do coronavírus em nosso país, foi efetivo, e a aposta mostrou-se certeira! Portanto, nada mais normal e justo que ele estar ao lado da primeira vacinada em nosso país. Este ato foi mais uma forma (política sim!) de demonstrar à toda população de nosso Brasil, que o governador apoia a necessidade de vacinação do maior número possível de pessoas. Errado seria negar a necessidade da vacinação, certo?
Fato triste, mas também verdadeiro: o governo federal, através do presidente abertamente negacionista, e de um atrapalhado Ministro de Saúde (um general de divisão sem formação em saúde), não tornou efetiva, até o momento, nenhuma compra de vacina (além da “vacina chinesa do Dória”). Desdenhou da eficiência da Coronavac (que acabou tendo que comprar), fretou um avião para buscar vacinas na Índia, que sequer levantou voo, não conseguiu comprar seringas e jogou a responsabilidade para Estados e Municípios, negligenciou o uso de máscaras e o distanciamento, não agiu no momento certo para minimizar o caos sanitário em Manaus, estimulou o uso de medicamentos sem eficácia comprovada na prevenção da coronavírus. Detalhe: no último domingo, os cinco membros do Comitê de Análise da Anvisa (quatro deles nomeados por Bolsonaro), reafirmaram que não existe tratamento precoce para a Covid-19, deixando o presidente e o ministro Pazuello de calças curtas (e cloroquina na mão), de novo!
Fato: não nos enganemos nesse momento em que o início da vacinação abriu uma onda de esperança e a sensação de que a pandemia foi vencida, achando que podemos voltar às festas e aglomerações. Por enquanto as doses disponíveis são poucas, uma nova cepa do coronavírus muito mais contagiosa ainda circula, e a falta de planejamento e de responsabilidade do governo federal não garante a continuidade da vacina. Se relaxarmos como no segundo semestre de 2020, poderemos sim enfrentar um novo aumento nos casos, e em consequência, mais mortes.
Fato final: a ciência sempre é o melhor caminho, vide como agem os países mais desenvolvidos e com maior índice de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Negar a ciência é levar a morte aqueles que amamos, e à miséria o país em que vivemos.