De um lado, obras publicadas no Rio de Janeiro pelo editor batataense José Olympio, incluindo raridades como um “Sagarana” autografado por Guimarães Rosa, em 1956. De outro, obras que ele mesmo adquiriu ao longo da vida — muitos tesouros garimpados que faziam parte de sua biblioteca particular.
Vários desses livros, deixados em sua cidade natal, estavam separados até o início deste ano, quando foram reunidos novamente. Uma parte, composta por mais de 699 exemplares, foi doada ainda na década de 1970 ao Claretiano – Centro Universitário de Batatais pelo próprio José Olympio.
Já a outra metade, composta por 1.124 exemplares, estava sob a guarda da Prefeitura Municipal de Batatais. Em 2019, começaram as tratativas entre o órgão público e a instituição de ensino com o objetivo de unificar as coleções.
José Olympio nasceu em Batatais em dezembro de 1902 e se tornou um dos maiores editores de livros do país. Fundada nos anos 1930, sua editora chegou ao auge nos anos 1950, no Rio de Janeiro, tendo publicado milhares de romances e livros acadêmicos de renomados autores. A empresa foi adquirida em 2001 pelo Grupo Editorial Record.
Unificação dos acervos
O secretário de Cultura e Turismo do município, Luciano Dami, aponta que a centralização deverá facilitar o acesso às obras e sua melhor conservação.
“O acervo apresenta um período extremamente marcante de nossa literatura, que foi potencializado por iniciativa desse batataense que lançou certamente os maiores escritores de nosso país. Além disso, foi uma figura fundamental na criação do centro universitário em nossa cidade. Por isso, o destaque para o acervo ser unificado sob a guarda do Claretiano, com apoio e parceria da administração municipal, mantendo viva essa história que une a instituição e o município. Também destacamos o fato da guarda em ambiente universitário fortalece o interesse da pesquisa acadêmica referente ao conteúdo”, disse.
As obras que estavam com a prefeitura, assim como armários e mesas que pertenceram ao editor, foram entregues ao Claretiano no começo de 2020. A oficialização aconteceu no último dia 9 de novembro, após assinatura do termo que concede definitivamente à instituição o direito de cuidar da segunda parte do acervo. De acordo com a bibliotecária Ana Carolina Guimarães, os livros estão sendo higienizados, catalogados e tombados.
“Ainda não temos uma previsão de quando essas obras estarão disponíveis para o público, mas a intenção é criar um memorial específico para esse conjunto. Assim como já acontecia, os exemplares do acervo podem ser consultados por pesquisadores e profissionais com prévia autorização e acompanhamento, utilizando luvas e máscara. Além disso, faremos a digitalização e indexação do material, em especial das dedicatórias, ampliando o acesso a esses livros”, afirmou.
Obras raras
A bibliotecária Ana Carolina acrescenta ainda que o acervo que pertencia ao Claretiano integra o Catálogo do Patrimônio Bibliográfico Nacional (CPBN), que reúne registros bibliográficos que tenham sua raridade justificada, com 11 obras raras. Segundo ela, os exemplares que chegaram à instituição neste ano também serão enviados à Biblioteca Nacional para análise dos critérios de raridade.
Entre as obras raras que podem ser encontradas no acervo em Batatais destacam-se “Insônia” (1947), de Graciliano Ramos, “O Tempo e o Vento” (1961), de Érico Veríssimo, “Raízes do Brasil” (1956), de Sérgio Buarque de Holanda, além do “Sagarana” (1956), autografado por Guimarães Rosa.
As páginas autografadas que já estavam sob a guarda do Claretiano foram digitalizadas e podem ser consultadas on-line pelo link: www.biblioteca.claretiano.edu.br/pergamum/biblioteca. Para encontrá-las, basta escolher José Olympio no campo “Coleção” da busca.