O desejo de abordar este tema, surgiu a partir da fala da jornalista Flávia Oliveira, comentarista da área econômica, faz parte do elenco do Estudio I , Globonews, em sua participação no debate sobre racismo, veiculado pela Rede Globo, Programa Globo Repórter. Negra e empoderada, ela relata com veemência a importância de seus ancestrais na sua formação e na sua vida. Paralelamente, fatos opostos chamam minha atenção, em razão da possibilidade de análise que propiciam. Existem os filhos e filhas, que majoritariamente, por questões sociais, adotam a postura de renegar suas origens, assim, negando o passado, negam suas famílias. Optam por ostentar e a origem humilde poderia ou poderá consistir em impeditivo ou fato dificultador para intencionada escalada social. Diferentemente de Flávia Oliveira, negam suas ancestralidades e dão aos filhos esse exemplo, talvez mais tarde, venham a degustar o amargo sabor da ingratidão.
A importância que se dá aos pais e aos ancestrais, depende certamente do grau cultural que se possui. Tanto com relação a cultura familiar, quão acadêmica, lembrando que nem todos os que possuem cultura letrada, valorizam os antecessores, mas há a probabilidade de que saibam de suas importâncias. Somos a soma de nossos pais, genética e culturalmente, esses nos formaram, orientaram e foram e são nossos modelos, bons ou não. Negá-los, é negar a própria história.
Ao admitirmos nossa história, valorizamos nossa ancestralidade. É lindo e digno lembrar de nossos pais, na maioria dos casos, do esforço que fizeram para nos manter e educar. Lembro-me de um promotor de justiça, justo e bom, que demonstrava grande facilidade para lidar com a população carente que lhe procurava. Com orgulho, dizia ser filho de um trabalhador humilde e percebia-se que sua sensibilidade no trato com os menos favorecidos, vinda daí, a compreensão do que é proceder de classe não abastada. Penso que ao nos orgulharmos, temos maior probabilidade de mostrar aos nossos filhos a importância de seus avós, bisavós, tataravós. É importante que saibam a história da família, os valores, as crenças que regeram e regem as atitudes familiares.
É interessante que se pense que negar a ancestralidade, a origem, em grande parte por questões econômicas, diz muito mais da pessoa que nega, do que das pessoas renegadas. É importante que se pense sobre a imprescindibilidade do bom exemplo. Nossas posturas e nossas ações darão aos nossos filhos a exata medida de como deverão proceder futuramente, inclusive, conosco.
Sobre ancestralidade, a importância que conferimos a nossos pais, fala muito de quem somos. Podemos ter tido pais e avós ótimos e não termos deles herdado suas qualidades. Há filhos e filhas frios e extremamente racionais. Uma conhecida, ao casar herdou da família uma casa para morada, sendo que após o falecimento do pai, a mãe quem participou ativamente na educação das netas, ao adoecer, foi institucionalizada em asilo por essa mesma filha, tendo chorado e remoído o abandono até seus últimos dias. Esta foi a explicação: “Na minha casa (ganha dos pais), tem somente três quartos, um para nós (casal) e outros para minhas duas filhas”. Não será este o exemplo dado as próprias filhas?
A negação ou a admissão de nossa ancestralidade, diz muito a nosso respeito. Sobre os exemplos iniciais da mulher negra, que se revela ótima profissional, ser independente e autônoma, comparada a alpinista social, na realidade, suas considerações com suas ancentralidades são coerentes, não há como negar. É pedir muito a um ser carente de cultura ampla, desprovido da capacidade de análise sócio, econômica, cultural, política e ambiental, que possa compreender a importância dos pais em sua vida. É pedir muito! Repito! Mais fácil realmente é sua tentativa ininterrupta de conseguir obter a escalada econômica e social que aspira. É indispensável registrar a existência e imprescindibilidade de pessoas, como nossos pais, que mesmo com mínimo grau de escolarização, estudava-se menos até meados do século passado, são capazes e, certamente, os que mais valorizam seus ancestrais. Acho lindo ouvir de uma pessoa com mais de 70 anos, chamar os pais de “papai e mamãe”, os meus irmãos, “meus manos e manas”.
A valorização do outro, depende mais do valorizador do que da pessoa valorizada. Sobre este tema, em que medida os pais contemporâneos, minha geração, fez e faz, para que os filhos saibam de suas ancestralidades? Há registros, através de pesquisas, que os jovens atuais sabem muito pouco de seus ancestrais, parece não existir outros parentes além dos pais e irmãos. Acontece a minimização ou o reducionismo das relações familiares. Estudos revelam que tios e primos são responsáveis por importantes relacionamentos que se revertem e reverterão na formação pessoal dos conviventes. O fato da opção pelo filho único, reverberará na futura ausência de tios e primos, isso poderá potencializar o individualismo? Não sei, depende de cada família. É possível que a valorização da ancestralidade possa ser ainda mais afetada.
A valorização da ancestralidade, pela amplitude que o tema possui, tem indiscutível peso na formação das pessoas que são nossos filhos. Tão ou mais importante pensar que mundo deixaremos para nossos filhos, é o fato de que filhos(as) deixaremos para este mundo.
Pense nisso!